𝕮𝖍𝖆𝖕𝖙𝖊𝖗 15

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Já estava escurecendo quando chegamos no pequeno e triste hotel de beira de estrada, ele era bem parecido com aqueles que vemos nos filmes, mas pessoalmente parecia ainda pior. Tinha somente um andar com no máximo 20 portas, a pintura era de um verde desgastado e feio, o estacionamento tinha somente um carro, mas era isso ou morrer de frio no acostamento, não foi uma decisão assim tão difícil.

Andamos até a pequena cabine que servia como recepção, a mulher de meia idade que estava lá dentro não parecia muito feliz com nossa interrupção, que a fez parar de ver algum programa qualquer e nos atender, eu lhe dei um pequeno sorriso, que ela não correspondeu.

— Boa tarde, nós precisamos de 2 quartos, por favor. — eu disse enquanto ela ainda me olhava como se eu fosse um mísero inseto atrapalhando seu sono com meu zumbido.

— São 400 dólares. — ela disse ainda sem muita emoção.

— 400? — eu disse chocada — A senhora não pode estar falando sério!

— Eu pareço estar brincando? — ela disse ainda sem apresentar nenhuma expressão, mas seus olhos brilhavam com o pensamento do dinheiro que ela ganharia as nossas custas.

— A tabela atrás de você diz que dois quartos seriam 100 dólares. — Ethan diz com uma expressão de tédio, mas seus olhos brilhavam em irritação, Axel, diferente de nós, tentava esconder um sorriso, provavelmente se divertindo com nossa pequena fúria.

— A tabela está desatualizada. —a mulher disse exibindo um pequeno e sarcástico sorriso que me fez ter vontade de socar sua cara. Como se a gente não tivesse tido um dia ruim o suficiente. Eu já estava sem dormir direito fazia um tempo, e banho era uma experiência que eu também não tinha fazia alguns dias.

— Senhora, nós não vamos pagar isso tudo para dormir uma noite em uma espelunca como essa! — eu disse com a voz um pouco esganiçada pela raiva e o cansaço. — Todos nós sabemos que 50 dólares já é um absurdo nesses quartos podres, agora porque a senhora não aceita logo os 100 que estamos te oferecendo e nos deixa entrar logo?! — eu disse ainda mais brava, aparentemente ela não ficou muito feliz com os adjetivos que dei para seu negócio, já que ela fechou ainda mais a cara.

— Eu acho melhor vocês reverem como falam. — ela disse sombriamente — Vocês não te carro, e não existe mais nenhum lugar num raio de 15km, eu realmente acho melhor vocês cooperarem.

Eu tremi de raiva, principalmente porque ela estava certa, aquele era o único lugar com teto que teríamos para dormir, e a ideia de passar a noite na floresta fria e escura atrás de mim, não me agradava nem um pouco. Me virei para os garotos, que me olhavam também. Andei com eles para um pouco longe da cabine, só de saber que ela estava perto de mim, já me dava nos nervos.

— Nós temos o dinheiro? — Axel perguntou e eu o olhei incrédula.

— Sim, nós temos. Mas não podemos gastar isso em cada noite que vamos ficar na estrada. Temos que comer, comprar a porcaria da passagem para o navio e sei lá mais o que. Além do mais, ela é uma completa oportunista, olha para esse lugar, eu não deixaria mais de 50 pelos dois quartos. — eu disse me exaltando.

— Você tem uma ideia melhor? — ele me olhou com as sobrancelhas erguidas, como um desafio, eu bufei. — Achei que não — ele disse baixinho e eu cerrei meus olhos em sua direção.

— Podemos pedir um quarto só. — Ethan disse, interrompendo nossa pequena guerra. — Podemos perguntar se ela tem quarto para três pessoas.

— Podemos tentar. — Axel disse, logo em seguida os dois olharam em minha direção, como se perguntassem se eu preferia dormir na calçada. Rolei os olhos e acenei em concordância.

Voltamos para o balcão, dessa vez Ethan na frente, ele possui um maior controle sobre si mesmo do que eu, e tenho certeza que ele também tem conhecimento disso.

— Boa noite, novamente. A senhora poderia nos dizer quanto seria um quarto triplo? — Ethan disse com uma simpatia excessiva. A mulher estreitou os olhos.

— 280. — Ela disse depois de alguns segundo, e sem consultar nada. — Pagamento adiantado. — ela completou.

— Ficaremos com um. — Ethan disse e enquanto ela se virava para pegar a chave, ele me olhou, pedindo o dinheiro. Eu puxei a mochila e tentei, da forma mais discreta possível, pegar o dinheiro, entregando a ela logo em seguida.

Ela nos entregou a chave com um sorriso claro de vitória que me deu ainda mais raiva. Pegamos a chave e, sem falar nada, fomos em direção ao quarto de número 15.

A primeira coisa que notei quando a porta foi aberta, foi o forte cheiro de mofo que circundava o quarto. Minha alergia logo foi ativada, fazendo com que eu espirrasse por vezes consecutivas, meus olhos já lacrimejavam e a pequena crise não parou até que meu rosto estivesse todo vermelho, o que demorou alguns minutos.

Quando já estava controlada o suficiente para abrir os olhos, entrei um pouco mais no quarto e os dois garotos estavam parados no meio do aposento e me olhavam com uma mistura de preocupação e compaixão. Axel me deu um pequeno sorriso e colocou sua mochila nem uma das camas de casal.

— Eu acho melhor você tomar banho primeiro, as vezes ajuda na alergia. — Ethan disse, colocando sua mochila na mesma cama que Axel colocou a sua. Eu assenti e fui em direção ao pequeno banheiro, que tinha uma aparência de sujo. O carpete rosa com aparência questionável estava no quarto e no banheiro.

Os azulejos eram de um azul bem antigo, e vários deles estavam faltando nas paredes, a pia era pequena e em cima tinham dois vidrinhos pela metade, que eu supus serem shampoo e condicionador, e um sabonete aberto. A banheira e o chuveiro eram acoplados e uma cortina de plástico separava a banheira do restante do banheiro.

Engoli meu nojo e comecei a tirar minha roupa para tomar banho, eu realmente não queria colocar meus pés descalços naquele chão, mas eu não poderia me dar o luxo de molhar nem as meias nem os sapatos. Quando eu pisei dentro da banheira, quase desisti, se não estivesse a quase 3 dias sem tomar banho, teria dado meia volta, em direção ao quarto.

O chão era escorregadio e ao mesmo tempo ensebado, o mofo subia pelos azulejos. Encontrei o sabonete, graças a todos os Deuses, fechado na saboneteira. Na pressa para arrumar as coisas, eu só tive tempo de pegar algumas poucas coisas de higiene, como achei que estava indo direto para o castelo, sabonete não foi a minha principal preocupação em pegar, grande erro.

A água demorou muito tempo para ficar minimamente quente, eu rodava o registro para todos os lados, mas parecia que ficava cada vez mais fria, quando finalmente escutei o barulho do chuveiro armando e a água caiu sobre mim. Tomei um banho rápido, lavei o cabelo, mesmo relutante, com os vidrinhos que estavam na pia. Saí do banheiro já vestida, carregando minha blusa e calcinha para colocar para secar no aquecedor. A calça ainda dava para usar, mas eu não tinha um estoque muito grande de nenhuma roupa, então aquilo foi o melhor que eu consegui.

Eu estava louca para pular na cama e só acordar na manhã seguinte, mas a fome ainda era muito grande, e Ethan e Axel concordavam comigo, já que todos os biscoitos, doces e barras de cereal que tínhamos estava em cima da cama, que era para ser deles.

— Obrigada por esperarem. — Eu disse secando o cabelo com a toalha e esticando as roupas molhadas no aquecedor.

— Sem problemas. Sua alergia melhorou? — Axel disse jogado no meio das comidas em sua cama.

— Não vai melhorar tão cedo, mas pelo menos a crise passou. — Eu disse sentando na minha cama e retirando os sapatos, para então colocar as pernas para cima — O sabonete aberto dentro do box fui eu quem abri, ainda tem shampoo e condicionador lá dentro também. Não sei como deixei a água quente, só fui rodando o registro, mas demorou um pouco. — avisei. Ethan balançou concordou com a cabeça.

—Podemos comer agora? Estou morto de fome. — Axel disse, já agarrado em dois pacotes de Cheetos. Eu ri e concordei. 

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