𝕮𝖍𝖆𝖕𝖙𝖊𝖗 16

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Nos primeiros minutos do nosso 'jantar', ficamos todos em silêncio, não sei se foi pela fome, ou pelo fato de ainda não nos conhecermos bem o suficiente, mas iríamos passar sei lá quantos dias juntos, o tempo todo, então essa constrangedora falta de conversa teria que ser deixada de lado, o mais rápido possível de preferência. Por isso tentei começar uma conversa com meus dois companheiros de viagem.

— Então, o que vocês estariam fazendo se não estivessem nessa... missão? — pergunto, fazendo os dois me olharem.

— Provavelmente em alguma reunião muito chata sobre a chuva do reino. — Axel diz, assim que terminou de engolir e revirou os olhos com uma expressão entediada que me fez rir.

— Estamos no meio do ano? Então treinando novos guardas e torcendo para eles não serem péssimos. — Ethan também responde, com uma expressão de tédio, mas seus olhos brilhavam com algum tipo de excitação pela tarefa.

— Treinando? Eu acho que você quis dizer infernizando e espancando os novatos, isso sim. — Axel diz com um misto de nostalgia e diversão. Sua fala fez Ethan dar de ombros.

— Eles precisam aprender de alguma forma, e deixarem de ser péssimos também, não é como se eles não imaginassem que iriam receber um pouco de porrada na guarda. — ele diz com convicção, mas era claro que tudo o que ele fazia com os guerreiros em treinamento, lhe proporciona uma grande satisfação.

— E você? O que estaria fazendo? — Axel me pergunta.

— Provavelmente indo para a escola e reclamando de tudo — rio um pouco, mas logo lembrei do aviso que ficava no meu calendário — e semana que vem eu deveria estar fazendo a matrícula na faculdade. Parece que esse plano não vai acontecer. — digo com pesar e senti os dois olhares em mim, e logo tratei de me recuperar.

— O que você queria fazer? — Ethan pergunta.

— Eu ganhei uma bolsa para fazer artes plásticas na Julliard. — respondo, e os dois me olharam sem entender nada do que eu disse.

— Não tenho ideia do que significa, mas parabéns! — Axel diz e eu ri.

— É muito engraçado como vocês não sabem quase nada do que acontece fora do reino de vocês. Tipo, Harry Potter, ou o Ensino Médio. Literalmente tudo que existe e é famoso para mim, vocês nunca ouviram falar. Isso é uma loucura. — eu digo.

— Nós sempre vivemos isolados, então não é nada completamente louco para nenhum de nós— Ethan diz dando de ombros — mas você vai se sentir assim quando chegarmos em Himmel, onde você não conhece nada— ele completa com um pequeno sorriso sarcástico.

— Obrigada pelo incentivo. — eu rebato com o mesmo tom.

— Você vai se sair super bem, não precisa se preocupar com isso. Além do mais, vamos estar lá com você, para te ajudar com o que você precisar. — Axel diz.

— Obrigada. — eu digo, tentando acabar com o clima um pouco estranho que eu e Ethan criamos. — Então, faz quanto tempo que vocês se conhecem? — eu pergunto tentando começar um novo assunto.

— Nossa, desde crianças, crescemos juntos correndo pelo castelo. — Axel diz com um tom nostálgico e olha para o amigo em seguida.

— Meus pais trabalham fazendo a guarda pessoal da família real, e viraram amigos também. Então literalmente fomos criados juntos, meus pais trabalhavam e eu ficava com o principezinho o dia todo. — Ethan diz e mesmo com a provocação, que fez Axel revirar os olhos de forma dramática, era perceptível a amizade e o companheirismo dos dois, o que me faz sentir uma saudade absurda da minha pequena cupcake.

— Parece ter sido uma época boa, vocês dois loucos pelo castelo. — eu digo e os dois abrem sorrisos maldosos.

— Quase matamos cada pessoa do castelo pelo menos umas duas vezes ao longo da nossa vida. As únicas pessoas que realmente gostavam da nossa presença eram as cozinheiras, passamos ótimas horas na cozinha nos escondendo dos tutores. — Axel continua.

— Teve uma vez que a tutora nos separou em uma aula, aparentemente dávamos muito trabalho, e nos vingamos trocando o macarrão dela por minhocas. Ficamos de castigo por dois meses, mas valeu a pena —Ethan diz rindo muito. — Eu achei que ela ia explodir de tanta raiva ou medo. — ele continua e nós três estamos rindo.

— Nós sempre demos cobertura para o outro, e já tiramos o outro de várias merdas. — Axel diz— A primeira vez que eu fui ao centro sozinho, Ethan inventou para os meus pais que eu tinha catapora, e como ele já tinha tido, disse que cuidaria de mim. Minha mãe ficou louca, achei que ela ia se enrolar em plástico e entrar no meu quarto até eu 'melhorar', mas eles tinham uma reunião com os três reinos, então nem pôde me ver. Ethan me pintou de bolinhas vermelhas para a tutora ver, depois saímos escondidos do castelo e visitamos a cidade, sem guardas, sem reverências, só dois idiotas no centro. — Axel completa, com uma grande nostalgia e admiração na voz.

— Mas e você e a sua amiga do carro? Como se conheceram? — Ethan pergunta.

— Resumindo, — eu digo rindo— eu a empurrei do balanço no nosso primeiro dia de aula e ela quebrou o braço, no dia seguinte umas crianças idiotas riram dela por causa da descendência e eu joguei uns blocos de madeira neles, desde então, somos inseparáveis. Fazemos quase tudo juntas, minha mãe fala que ela só me vê sem a Suzie quando eu durmo em casa e não a chamo para ficar lá. — eu termino e os meninos ainda estão rindo da situação com os blocos.

— Não acredito que você realmente tacou pedaços de madeira em crianças. — Axel diz, segurando a barriga das gargalhadas.

— Eu não acredito que você quebrou um braço e quase matou um monte de crianças em dois dias. — Ethan diz, também rindo.

Minha mãe sempre falava que eu era tudo, menos comportada durante a infância. E para piorar, a única criança aceitável para mim, era Suzie, eu odiava todas as outras e geralmente as agredia. Isso provavelmente não era nada normal.

Por mais algumas horas, ficamos trocando histórias absurdas de quando éramos crianças, como quando Ethan quebrou o relógio centenário do pai, e Axel usou seu charme infantil para convencer o relojoeiro a fazer um igual. Ou quando Suzie e eu nos perdemos no centro, por estarmos seguindo um cara que achamos que era o Harrison Ford. Eu fui dormir com uma leveza absurda, gerada pela incrível conversa. Infelizmente o restante da noite não foi tão bom quanto aquele momento.

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Ahhh, muita coisa para falar no final de um capítulo mas vamos lá.

Primeiro, desculpa ter atrasado o capítulo, eu acabei me enrolando e não consegui postar.

Depois, muitoooo obrigada pelos 1K de visualizações. Vocês não tem noção do quão feliz isso me deixa, muito obrigada mesmo por estarem nessa jornada junco comigo e com esses personagens que eu amo tanto.

In My DreamsOnde histórias criam vida. Descubra agora