In My Dreams

𝕮𝖍𝖆𝖕𝖙𝖊𝖗 8

A viagem até minha casa foi razoavelmente silenciosa, de vez em quando Ethan fazia algum comentário sobre o metrô estar vazio ou como eu deveria arrumar gelo para minha mão o mais rápido possível, e ele estava completamente certo, os dedos estavam com vários pontos roxos e minha mão já estava muito inchada, minha sorte foi ter decidido não usar anéis naquela noite, caso contrário, estaria completamente perdida.

Foi um trajeto rápido até minha casa, vinte minutos no máximo até estarmos os três na portaria do prédio, subindo logo em seguida. Quando abri a porta de casa, notei que algo estranho havia acontecido ali, todas as luzes estavam acesas, como se meus pais estivessem em casa, porém estava tudo revirado, como se tivesse ocorrido uma luta brutal no local.

— Pai? Mãe? — Gritei andando pelos cômodos com os dois garotos atrás de mim. — Vocês sabem aonde eles foram? — Disse olhando para eles, que assim como eu, estavam com um semblante preocupado.

— Não temos ideia, combinamos de vir para cá aqui assim que te encontrássemos. — Ethan disse, e por mais estranho que pareça, eu acreditei nele.

Continuamos procurando por eles e tentando ligar para descobrir alguma coisa. Já havia se passado mais de meia hora quando Axel aparece na sala com algo parecido com um envelope em mãos e me entrega.

— É para você, encontrei numa das gavetas que estavam no quanto dos seus pais, talvez tenha alguma dica do lugar que eles foram. — Por mais que suas palavras fizessem parecer como se meus pais tivessem simplesmente decidido fazerem as malas em direção a um cruzeiro para o Caribe, nós três sabíamos que não era essa a situação, eles haviam sido sequestrados por Deus sabe quem tinha entrado em nossa casa, mas de qualquer forma, abri o envelope que tinha a letra redonda e bonita de minha mãe. Eu não tinha ideia do que encontraria ali dentro, mas só a visão de sua letra bonita e nada característica de uma profissional da saúde, encheu meus olhos de lágrimas, que eu tratei de segurar.

'Querida Amorinha,

Se você está lendo essa carta só pode significar que alguma coisa muito errada e fora dos planos aconteceu, e você precisa saber de algumas coisas sobre nós e, principalmente, sobre você. Gostaria de pedir que você deixasse essa sua cabeça dura de lado um pouco e tente olhar para toda a situação que vou descrever da forma mais aberta possível, eu sei que juntando todas as peças, você vai conseguir encontrar a verdade no final. Ok, chega de enrolação, vamos para isso.

Eu sei que o que vou te falar agora vai parecer muito chocante, mas nunca falei tão sério na minha vida. Amorinha, eu você e seu pai não somos pessoas comuns, nós não nascemos em Nova Iorque e nossos trabalhos verdadeiros não são os que dizemos ser. Tudo isso foi uma grande e elaborada mentira feita para te proteger.

Nós somos de um reino escondido, perto da fronteira com a Dinamarca, chamado Himmel, um reino onde as pessoas têm certos tipos de poderes, existem vários tipos que eu não vou entrar em detalhes no momento. Mas o que você tem que saber é que eu e seu pai trabalhamos para a família real, eu sou uma guerreira e seu pai é um manipulador mental (acredito que os nomes sejam claros o suficiente), nós fomos designados para protegê-la assim que você nasceu.

Sempre que te falamos que você tinha um futuro muito maior, era disse que nos referimos, você é o que chamamos de mensageira, uma classificação muito rara e importante para nosso povo, os mensageiros podem ver o futuro e se comunicar com seus antepassados, mas você minha Amorinha... Você é muito mais do que isso, existe em nosso reino uma profecia, a mais antiga e complexa de todas, que diz que a mensageira mais forte de todos os tempos pisaria nos solos de Himmel e finalmente acabaria a guerra, não sabemos ao certo como, ou o que faz com que esse poder seja tão maior, mas querida, você é essa mensageira, a reencarnação de todas as maiores e mais fortes guerreiras e mensageiras que todos os sete reinos já tiveram a oportunidade de ver, você é essa pessoa. Por conta da guerra e das buscas incessantes de nossos inimigos atrás de você, a família real nos mandou te proteger, deixá-la segura em um lugar que nunca te encontrariam até que chegasse o momento de você saber toda a verdade.

Se você está lendo isso, acredito que o pior tenha acontecido, e eu não possa te entregar essa mensagem pessoalmente, mas por favor Amorinha, se você estiver com Ethan, não hesite em confiar nele, após nós, ele é a pessoa que daria a vida para te salvar. Siga ele até Himmel, encontre quem você realmente é e acabe essa guerra.

Eu sinto tanto por ter mentido para você por todo esse tempo, porém, por mais que você não tenha saído de mim, eu te amo como a minha filha, pois é isso que você é.

Seja forte como eu te criei para ser, surpreenda a todos com seus poderes incríveis, se encontre neles, mas nunca, nunca se esqueça de quem você é e que eu e seu pai te amamos muito mesmo.

Com todo amor, carinho e sorte,

Amélia Maximel, Guerreira-Chefe da Subdivisão de Casos Secretos XVI. (Mamãe)'

Eu acabo de ler a carta pela quinta vez e ainda não consigo processar tudo o que está escrito nela, naquele pedaço de papel, está contido dezoito anos de mentiras e mais mentiras. Minha cabeça rodava e a vontade de vomitar me atingiu em cheio, me fazendo correr para o banheiro e colocar o pouquíssimo conteúdo presente em meu estômago na privada. Sinto alguém segurar meus cabelos, evitando que eles caíssem em meus rosto e finalmente lembro da presença dos dois garotos em minha casa, pessoas que sabiam de toda essa história e que de acordo com a minha mãe, eu poderia confiar minha vida.

Assim que acabei de despejar o restante da minha dignidade no vaso e dar descarga, a pessoa que segurava meus cabelos sai do banheiro, me deixando sozinha para refletir, levanto do chão do banheiro, escovo os dentes e me encaminho até a sala, onde Axel e Ethan estão sentados no meio do caos que minha sala se encontra, lendo a carta que eu havia deixado no chão ao sair correndo.

— Então— Digo atraindo a atenção dos dois, que me olham com um misto de preocupação e incerteza acerca das minhas próximas ações. Por mais que minha mãe tivesse mentido para mim, eu confiava plenamente nela, e sabia que tudo o que estava naquela carta, mesmo não fazendo o menor sentido, era a mais pura e concreta verdade. — Parece que nós realmente temos muito o que conversar- digo sentando em frente aos dois no tapete da sala. — Desembuchem, quero ouvir tudo, sobre esse reino, as pessoas, os poderes, a profecia, não deixem nada de fora.

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