-Tour pelo seu corpo

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De olhos fechados ela cantarolava alguma música que eu não conhecia, com a voz embargada e pesando, não conseguia disfarçar como estava com sono. A visão pacífica foi substituída com uma cara de brava em segundos.

"-Tá olhando o que?" -Ela não estava brava realmente, mas era fofo como se esforçava.

"-Tô admirando, não posso?"

Fez uma pausa pra controlar o sorriso que queria dar e disse: "-Não, para com isso"

"-Relaxa eu gosto do que estou vendo" -respondi, e consegui ver o cantinho do seu lábio curvando antes de tampar meus olhos e retrucar- "Idiota".

"-Não adianta tampar meus olhos eu ainda sei como você se parece"

"-Sim, feia, vai ter pesadelo se continuar pensando nisso... otária" A voz dela estava carregada de sarcasmo e mesmo sem enxergar nada eu sabia que estava rindo.

Soltei uma gargalhada. Não por que concordasse, mas pensar que ela poderia ser feia, mesmo que por um segundo... era simplesmente ridículo.

"-Amor para de ser besta, me deixa te olhar"

"-Não, ai, menina estranha. Vou colocar roupa..."

"-VOLTA AQUI!"

Segurei ela pela cintura e nos joguei na cama de novo, caímos feito aquela obra cubista de Picasso em que não se sabe onde começa o pé e termina a mão... mas a minha mão estava bem perto do meu objetivo ali...

"-ATAQUE DE COSQUINHA AAAAAAA"

Ela riu e tentou me bater com um travesseiro, e depois as coisas ficaram emboladas de mais e minha escrita barata e fajuta não é boa o suficiente pra descrever. Mas se eu conseguisse descrever alguma coisa seria como eu estava feliz. Em cada. um. desses. momentos. Eu era bem feliz... mas uma coisa me incomodava.

Depois de perder miseravelmente meu próprio ataque, que havia sido uma péssima ideia por que no final das contas só eu sentia cosquinha e ela era consideravelmente mais forte, falei:

"-Você algum dia vai me deixar te olhar por mais de sessenta segundos sem fazer isso?"

"-Isso o que?"

"-Fugir? Tampar meus olhos, enfiar uma blusa na cabeça? Sério eu poderia continuar citando, lembra daquela vez que a gente foi no mercado e vc pegou a sacola e ..."

"-XIU - Ela começou a rir- Fica quietinha vai" - De novo, ela não estava realmente brava. Só fingia... muito mal, por sinal.

fizemos silêncio. Não sei por quanto tempo, o silêncio entre nós era... confortável? Sabe? Não era estranho, como se estivesse faltando alguma coisa era... familiar.

Finalmente ela respondeu

"-Acho que eu tenho medo que se eu te deixar olhar muito de perto, vai acabar vendo os defeitos."

"-Que defeitos?"

"Todos? Quer que eu comece a citar?"

"-Por favor, por que eu não estou vendo."

"-Eu não gosto da minha barriga, da minha coxa.. bom eu não sei eu não tenho nada contra nem nada a favor, eu não gosto das minhas estrias nem do meu.."

Pra ser sincera, não me lembro de todas as coisas que ela disse. Parte por que nada daquilo fazia sentido e parte por que enquanto ela falava eu só conseguia pensar em como ficava linda falando e... Ih rapaz perdi o fio da meada onde estava mesmo?

"-PELO AMOR DE DEUS VOCÊ QUER ME DIZER O QUE GOSTA EM VOCÊ MESMA?"

"-Nada - e riu - Okay talvez não nada... eu gosto da minha mão... e do meu cabelo, acho que a bunda é okay.."

Me sentei indignada.

"-Okay?? OKAY? Isso é um ULTRAJE uma BLASFÊMIA! SUA BUNDA É FENOMENAL!"

ela riu, eu ri. O som das nossas risadas juntas era minha coisa preferida no mundo.

"-Okay fecha os olhos"

"-Pra quê?"

"-Vai confia em mim, quero tentar uma coisa...Mas não pode abrir"

"-Eu não vou concordar com isso"- disse ela.
De olhos já fechados.

Ri com sua teimosia. Era como convencer um criança... ela perdia pra curiosidade.

"-Okay, agora me dá a sua mão."

Ela levantou a mão direita na minha direção enquanto a esquerda tampava os olhos.

"- Aqui." -falei levando nossas mãos até ela.

"-O que você t..."

"-XIU"- interrompi ela. "-Estou te ensinando braile."

"- Você não sabe braile."

"-Não, mas eu conheço seu corpo. Aqui...

aqui é sua boca." - disse passando seus dedos nos lábios- "tem um formato de coração que é simplesmente i r r e s i s t í v e l... E você tem esse espacinho entre os dentes, e eu sei que não gosta deles, mas eu acho tão charmoso! E quando você sorri... eu me desmancho neles"

"-Euen menina doida" -Mas ela estava sorrindo...

e eu me desmanchando.

Abaixei nossas mãos até seu pescoço.

"-Aqui é o seu pescoço, e tem essa pinta... que parece um alvo implorando pra eu beijar..."

me aproximei e acertei em cheio, e ela encolheu o pescoço rindo.

"-Aqui... -dei um sorrisinho malicioso - aqui é meu travesseiro!"

Ela desatou a rir. "-Ah é, e? Então é isso que eu sou pra você? Um objeto?" ~drama~

"-SIM. -respondi- Objeto mais lindo do mundo, é macio é fofinho e parece uma obra de arte... vou chamar eles de Miche e Angelo o que acha??"

"-AH CALA A BOCA" retrucou.

E caímos na gargalhada de novo.

"-Okay agora é sério. Eu não acho que você entenda o quanto você é linda francamente, eu poderia fazer todo um tour pelo seu corpo e te dizer o que eu amo em cada centímetro mas isso levaria a vida toda... não existe uma coisa que eu não goste quando te olho."

Mais uma coisa que amava nela: quando ficava com vergonha, suas bochechas coravam... muito.

"-Vai parar de se esconder agora?" falei.

Ela se enfiou debaixo dos edredons e disse "-NÃO."

Dei risada e pensei, tudo bem, eu tenho uma vida inteira pra te convencer do contrário.

-nov 30, 2019

-nov 30, 2019

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As coisas que escondo do espelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora