Trauma

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"E eu acho meio engraçado, eu acho meio triste. Os sonhos nos quais estou morrendo são os melhores que eu já tive."

•Dylan•

—  Dylan?

Ouvi a voz doce me chamar suavemente, com o amor quase sendo derramado pelo meu nome enquanto ela o pronunciava. Sorri.

— Eu tô aqui, amor.

Saí pela porta branca em direção ao jardim, sua voz vinha de lá. Olivia estava sorrindo pra mim com uma margarida em mãos. Fui até ela e a beijei delicadamente.

— Bom dia, Daisy.

Seu rosto se fechou. Aquele não era seu nome. Ela não gostou daquilo.

Mais uma vez, alguém me chamou. Só que dessa vez mais alto. E então tudo ao meu redor mudou. O sol foi embora, dando lugar a nuvens densas, azuladas pela luz fraca do cair da noite. Um frio insuportável se instalou no ambiente. Meus ossos congelavam junto com minha pele, que estava coberta apenas pelo short jeans e a camisa fina desabotoada e de mangas curtas que eu vestia. Abracei meu próprio corpo, tentando me cobrir. Ouvi a voz feminina me chamando novamente. Mas não era Olivia. A voz estava longe, eu não conseguia saber de onde vinha.

— Dylan!

Mais uma vez. Mas dessa vez eu reconheci. Tentei correr, alcançá-la, mas meus pés estavam afundados na neve espessa. Eu mal conseguia movê-los.

— Daisy! — Chamei, tentando soar mais alto que o barulho do vento ali. — Aguenta, por favor, eu vou te pegar!

Minhas pernas pareciam amarradas à blocos imensos de concreto. Eu não me movia. Mas em um piscar de olhos, eu surgi na frente de Daisy. Sua mão escapava pra fora do buraco no lago congelado. Ela tentou lutar, tentou se salvar. Eu tentei salvá-la. Mas era tarde.

O frio ficou maior, e meu corpo estremecia cada vez mais. Minha pele estava azulada. Meus olhos ficaram turvos. Ouvi a voz suave do começo de tudo me chamando de novo. Olhei pra frente, e a angelical Olivia estava ali. De braços abertos pra mim. Mas seu rosto de anjo virou uma feição demoníaca. Eu queria gritar, correr. Mas não podia, não conseguia. Eu nunca desejei tanto a morte como naquele momento. Era só o que eu queria.

Morrer.

— Dylan!

Acordei assustado com Jaden me chamando. Eu estava suado e confuso.

—  Você tá bem, cara? Te vi tremendo e fiquei preocupado, considerando que é verão e a gente tá na Califórnia.

Precisei de alguns segundos pra processar que aquilo tinha sido só um sonho. O mesmo sonho de todas as noites. Com a mesma realidade de todas elas.

— Tô. Não esquenta comigo.

— Você falou os nomes delas enquanto dormia. De novo.

— Era disso que eu tava falando. Todas as vezes em que eu deito a cabeça em algum lugar e resolvo tentar dormir, essa porra de pesadelo volta. — Respirei fundo. — Que horas são?

• everything I wanted •Onde histórias criam vida. Descubra agora