Capítulo 4: Liberdade

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Conceal, don't feel, don't let them know.
(Lide com isso, não sinta, não deixe que eles saibam.)
Let It Go - Idina Menzel

Depois da sua última visita, Marlon voltou, dessa última vez com uma espada nas minhas costas que me impedisse de fazer "qualquer besteira".

Depois dele veio Pierre, e depois outro que eu não conhecia, e mais outro, e outro...

E essa passou a ser minha rotina, chupava paus imundos três vezes por dia todos os dias em troca de comida...

As prostitutas eram mal vistas por todas as pessoas do Reino da França, mas agora eu as entendia, ninguém faz isso porque quer ou porque gosta, somos obrigadas, é o único meio de conseguirmos comer, o único meio de conseguirmos sobreviver...

Aaron entrou pela porta com minha bandeja, o que me surpreendeu, depois da última vez em que o vi, ele nunca mais havia me visitado, isso porque todos eles já haviam vindo, e várias vezes, todos sedentos por um pouco de prazer.

Eu já havia até identificado a personalidade sexual de cada um... Alguns vinham quando estavam bravos ou tristes e viam aquilo como uma forma de "relaxar", outros pediam algo diferente a cada visita, só faltava eu ficar de ponta cabeça! Outros gostavam de que eu sentisse prazer também, claro que isso não acontecia, mas eles não saíam até que eu fingisse... Outros nem mesmo pediam para eu chupá-los, apenas pediam para eu tirar a roupa e eles faziam tudo (eu suspeitava que esse poderia ser o caso de Aaron), outros eram mais tímidos, apenas colocavam minha mão sob suas calças, e, em contrapartida, tinham os animais, os que sentiam prazer em me machucar...

Aaron seria uma surpresa para mim, mas por incrível que pareça, não seria uma surpresa tão ruim... Eu sentia algo por ele que deixava aquilo um pouco menos repugnante...

Comecei a tirar minha roupa mas fui interrompida.

- Não! Você não precisa fazer isso comigo...

Olhei confusa para ele. Ele colocou a bandeja perto de mim e se sentou ao meu lado.

- Só vim trazer a comida.

Comi desesperadamente me assemelhando a um animal selvagem, era assim que eu sempre comia naqueles últimos tempos, aprendi a não desperdiçar um grão sequer....

Céus, o que minha mãe pensaria ao me ver naquele estado? Uma prostituta comendo como um animal no mesmo lugar em que urina...

Aaron não foi embora, apenas ficou ali me observando, o que me deixou extremamente envergonhada.

- O que você está esperando? - disse limpando minha boca com o braço - Um "obrigada"? Porque você não vai ter isso de mim! Isso não te torna melhor do que os outros! Aliás, saber o que eles fazem e não impedir, só te torna não horrível quanto!

Ele pareceu tocado pelas minhas palavras, mas eu não me arrependia de tê-las dito. Era a verdade, afinal!

- Eu quero que eles pensem que eu estou te...

- Abusando? Objetificando? Usando? Claro que quer! Não quer que seus amigos te vejam como um fraco, não é mesmo? O covarde que não consegue se satisfazer com uma vagabunda!

- Não é isso! - ele rebateu irritado e se levantando.

- Então o que é? - eu disse no mesmo tom me levantando também.

Nós estávamos tão próximos que eu conseguia sentir sua respiração em minha pele. Ele se afastou.

- Eu quero vir mais vezes... Só para conversar... Mas se eles souberem que estamos só... Conversando... Não vão me deixar ocupar a vez de alguém que poderia estar... Ãn... Se divertindo...

- Você é um desgraçado!

- Eu sei... Mas não se preocupe, sou um desgraçado que nunca vai tocar em você.

 Mas não se preocupe, sou um desgraçado que nunca vai tocar em você

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Aaron continuou me visitando, cada vez com mais frequência. Percebi que ele era muito inteligente, e já tinha vivido tantas aventuras que me faziam ter inveja, como eu queria ter as vivido com ele, como eu queria que aquele navio fosse somente nosso, para vivermos milhares de aventuras juntos!

Mas depois de algumas semanas, ou talvez meses, realmente é impossível saber o tempo por aquele porão escuro, recebi uma visita ainda mais inesperada do que a de Aaron...

- Esse porão está pior do que um chiqueiro! Eu sinto muito que uma dama como mademoiselle esteja passando por isso...

Me levantei imediatamente ao perceber quem falava.

- Capitão.

Ele riu.

- Por favor! Você não é um desses desmiolados que eu chamo de marujos! Você é a pedra preciosa dessa tripulação! - e olhando para minhas roupas completou:

- Bom, uma pedra preciosa que precisa ser lapidada... Me chame de Oliver.

O que o capitão pirata do navio pirata cheio de piratas queria comigo?

- O que os homens fazem com você... Chegou até meus ouvidos... Eu posso impedi-los!

Olhei para ele esperando a continuação, ele era um pirata! Jamais daria algo de graça...

Ele pareceu ler meus pensamentos, pois disse:

- Sim, você tem razão. Com um pequeno custo... Você seria minha! - ele disse se aproximando e fazendo carinho em minhas bochechas - Mas apenas minha! Não gosto de dividir meus tesouros...

A proposta, por mais nojenta que fosse, era tentadora... Afinal, ser a prostituta de apenas um homem, era melhor do que ser a prostituta de vários... Mas, por outro lado, as visitas de Aaron teriam fim...

Eu não sabia exatamente o que eu sentia por ele... Mas fosse o que fosse, não valia a pena me torturar por alguns minutos de conversa com ele...

- Combinado!

Ele abriu um sorriso genuíno e me olhou da mesma forma intensa do que a primeira vez em que me viu... Desviei o olhar.

- Bom... Você quer fazer agora? - eu disse colocando as mãos em seu cinto e prestes a tirá-lo.

Ele se afastou.

- O quê? Você acha que eu vou fazer qualquer coisa, que seja, nesse chiqueiro?

- Mas... Eu estou presa...

Ele riu outra vez, tinha que concordar, quando ele ria ficava extremamente atraente.

- Todos estamos! Para onde você vai fugir? Para o mar?

Eu não conseguia acreditar! Ele estava realmente me libertando da minha prisão? Estava realmente me libertando daquele cubículo frio e úmido imundo com cheiros repugnantes?

- Isso é sério? - disse sem conseguir conter minha voz alterada e as lágrimas em meus olhos.

Ele sorriu e abraçou minha cintura.

- Eu sou o rei desse navio! E, agora, meu bem, você é a rainha!

Coração NaufragadoOnde histórias criam vida. Descubra agora