Capítulo 26: Anne Dieu-le-Veut

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Noite e dia no meu coração.
A Viagem - Roupa Nova

A indígena me levou para um dos templos que, por ser o maior e estar bem no centro da aldeia, eu imaginava ser o principal.

As paredes tinham diversas pinturas e ilustrações de deuses e espíritos que eu reconhecia pelo diário da minha avó, exceto uma de olhos verdes e cabelos castanhos e a única que tinha a pele branca, ela estava nua com pinturas indígenas em seu corpo e carregava em seu pescoço algo brilhante.

- Eu sempre achei que fosse uma marca de nascença!

Olhei para ela sem entender. Será que eu tinha traduzido errado o que ela falara?

Ela percebendo minha confusão, apontou para minha aliança... Ou melhor, para o colar de minha avó e depois para o pescoço da imagem.

- Brigitte!

Meus olhos se arregalaram com aquele comentário. Aquela na parede era minha avó! Eles cultuavavam a minha avó!

- Isso é incrível!

Ele teve um ataque de riso quando falei aquilo.

- O que foi?

- Sua pronúncia é péssima! Aruana, aliás! Sou sua prima!

- Minha o quê?

- Pri-ma. - ela repetiu devagar.

- Não, eu entendi mas... Como?

- Sou neta de Guasuapi, irmã de Hayhu.

- Irmã? - olhei para o diário incrédula - Como ela pode não ter mencionado uma cunhada?

Aruana deu de ombros.

- Eles eram irmãos de sangue apenas, ela se envolveu com chanés, e por isso, Uyara e Hayhu a expulsaram da família.

Aquilo foi um choque para mim.

- Não consigo ver o Hayhu sobre quem leio nesse diário fazendo isso...

- Ele não teve escolhas, seria o próximo líder, não podia ter contato com a irmã traidora.

- E o que aconteceu?

- Ela foi a única que sobreviveu ao massacre da aldeia que não foi escravizada, ela conseguiu se esconder e passou a morar com o marido que era da tribo chané e teve um filho com ele, meu pai!

- Mas eu não entendo... Como vocês conheceram minha avó?

- Ah, não! Nós não fomos abençoados pelo prazer de conhecê-la... Mas minha avó contou sobre como Brigitte foi a responsável por levar a tribo ava-xiriguá para longe de Yvy marã e'y.

- A terra sem males? Vocês acham que aqui é a terra sem males?

Ela me levou até a porta do templo que estava aberta.

- E você não acha? - ela disse apontando para aquela aldeia grandiosa.

As pessoas riam, se abraçavam, cantavam e dançavam, não havia um resquício de dor ou tristeza!

E foi naquele momento que eu percebi, eu precisava ir embora...

Dei um abraço em Aruana que depois de alguns segundos de choque por não estar esperando aquilo o retribuiu.

- Foi um prazer te conhecer, prima! Tenho que voltar agora.

- Foi um prazer te conhecer, prima! Tenho que voltar agora

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Coração NaufragadoOnde histórias criam vida. Descubra agora