Prólogo

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Eu estava parada em frente à Saint-Germain-des-Prés* com um vestido branco (confesso, estava bem amarelado para ser chamado de branco) de renda sem um mínimo rasguinho que fosse, com cheiro de mofo, mas não era surpresa, aquele vestido pertencia a quem? Minha tataravó?

Era um daqueles vestidos dos quais nós "deveríamos nos orgulhar por estar usando porque é uma herança da família..." mas eu não estava nem um pouco orgulhosa. Aliás, estava odiando! Era muito justo na cintura, o corpete estava me sufocando de tão apertado, espremendo meus seios de tal forma que chegava a doer, a saia era tão volumosa que eu ocupava quase que a rua inteira e eu não enxergava nada na minha frente com aquele maldito véu!

Dizem que o casamento é o dia mais feliz de uma mulher! Bom, eu não estava nada feliz! Mas também, como estaria?

Meu pai estava muito distraído fumando e observando o nada como sempre fazia para me dizer palavras gentis, ou até prestar atenção em mim.

Não que eu me incomodasse com aquilo, eu até era grata! Foi por conta dessa falta de consideração paterna que toda essa história aconteceu para começo de conversa! Se ele não estivesse tão disperso, focado apenas na fumaça mal cheirosa que soltava por sua boca, eu não conseguiria fugir passando despercebida por ele!

Ele não deve nem ter notado meu sumiço até a suposta hora em que deveria me acompanhar até o altar!

Sentia o ar invernal gelado de Paris invadindo minha face e fazendo meu nariz arder. Meu coração pulava dentro do meu peito, meu estômago queimava com aquele corpete fazendo minhas costelas quase perfurarem meus órgãos internos e pela falta de oxigenação, sentia o suor escorrer frio em minha testa vermelha.

Não podia continuar assim! Não conseguia andar e estava chamando muita atenção. Desculpa, mulheres Renault, mas a nossa linda herança matrimonial em breve será nada menos do que um pano de chão! Comecei a rasgar meu vestido de casamento no meio da rua e não consegui evitar em pensar o que minha mãe pensaria daquilo "uma dama não deve arrumar sua roupa em público" imagine rasgá-la em público então...

Estava livre!

Estava livre!

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Meu nome é Brigitte Renault, sou a única filha mulher, ou seja, a única desgraça da família Renault. Todos os meus irmãos já haviam deixado Manoir Richesse, o palacete onde eu moro, e por isso, meus pais precisavam urgentemente se livrar de mim.

A melhor forma de fazer isso? Um casamento, claro!

Então, no dia 20 de janeiro de 1603, meu pai, Alison Renault, o maior banqueiro de Paris, prometeu minha mão ao nobre que se saísse melhor na caçada que ocorreria dali à três dias.

Ou seja, eu casaria com o brutamonte que matasse mais veados, cervos e javalis a sangue frio, ou talvez um faisão distraído, ou até com o covarde que tivesse a "sorte" de encontrar um urso dormindo tranquilamente para poupar energias no inverno.

Coração NaufragadoOnde histórias criam vida. Descubra agora