Capítulo 7: Naufrágio

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There was a time, then it all went wrong.
(Houve um tempo, então tudo deu errado)
I dreamed a dream - Les Miserables

Acordei sendo jogada da cama pelo movimento brusco do mar. Oliver estava com a mesma feição assustada do que eu, estava completamente escuro, mas de vez ou outra ficava tudo iluminado pelo brilho de um relâmpago, o som estrondoso dos raios se chocando contra a madeira podre do navio quase explodia meus tímpanos e o aroma de sal do mar que invadia o navio me fazia ter vontade de vomitar.

Oliver e eu saímos da cabine e encontramos todos no mesmo desespero, correndo de um lado para o outro, fazendo de tudo para manter o navio firme.

- Capitão! O que fazemos? - um deles gritou.

Oliver estava claramente apavorado, nunca o tinha visto fora de controle antes.

- Eu não sei!

- Como?

- Eu não sei! - ele gritou desesperado.

Podia ver minha agonia refletida no olhar de todos, eu precisava fazer algo!

- Se segurem em alguma madeira solta, ela irá boiar nos deixando na superfície caso o navio não aguente! - gritei.

Foi a única coisa que consegui pensar no desespero...

No momento em que eu disse isso, fomos engolidos por uma onda gigante que fez o navio virar.

Senti o gelo do mar invadir cada poro do meu corpo e meus ouvidos tamparem pela pressão.

Nadei o máximo que eu conseguia em direção a superfície mas fui derrubada por outra onda que me afundou novamente.

Tentei outra vez. Já estava ficando sem ar quando ouvi meu nome.

- Brigitte, aqui!

Era Marlon, ele estava apoiado em um mastro que quebrara do navio.

Nadei em sua direção sentindo a correnteza me puxar para o sentindo contrário até que eu finalmente o alcancei.

- E os outros? - perguntei ofegante.

- Devem estar lá embaixo...

De jeito nenhum que eu deixaria todos morrerem!

Nadei na direção da qual eu tinha vindo mas Marlon me impediu.

- Você está louca? Vai morrer também!

Peguei as cordas que estavam penduradas no mastro em que segurávamos e amarrei uma delas no meu pulso com força.

- Quando eu mandar, você puxa!

Ele afirmou com a cabeça e eu segurei as quatro cordas que também estavam presas ao mastro e dei uma para que ele amarrasse no próprio pulso.

Mergulhei com os olhos abertos os fazendo arder por conta do sal e nadei com dificuldade até o que restara do nosso navio.

O primeiro que encontrei foi Alec, amarrei a corda em seu pulso e subi com ele até a superfície.

- Está tudo bem? - perguntei a ele.

Ele soltou um gemido e gritou:
- Que frio desgraçado!

Eu sorri.

- Vou tomar isso como um sim. - eu disse mergulhando novamente.

Achei Aaron e o trouxe de volta a superfície.

- Aaron? Está me ouvindo?

- Brigitte?

Nesse momento fomos cobertos por mais uma onda que nos arrastou de volta ao fundo. Puxei ele com dificuldade novamente para a superfície.

- Você tem que ficar aqui, ok? Tem que ficar na superfície!

Ele estava muito desorientado e me senti mal de deixá-lo sozinho, mas eu ainda tinha uma corda, ou seja, uma chance de salvar mais uma pessoa!

Mergulhei de novo e encontrei Oliver preso no piso do navio lutando para continuar acordado, tentei soltá-lo mas não consegui.

Fui até ao que antes era nossa cabine e que agora era só mais um pedaço destroçado do navio, era onde Oliver guardava as armas, peguei o máximo que consegui e voltei à superfície para respirar.

Quando tomei fôlego o suficiente, mergulhei novamente até onde Oliver estava e usei o cabo de uma arma para quebrar o piso ao seu redor até que ele conseguisse se soltar.

Amarrei a corda em sua mão e fiz um gesto para que ele fosse até a superfície, ele pegou as armas que estavam na minha mão e subiu.

Eu o segui até a superfície.

- Estão todos bem?

- Pierre... - Alec balbuciou.

- O quê?

- Pierre! Ele estava comigo!

Eu não tinha mais nenhuma corda... A não ser... A não ser que eu usasse a minha...

Mergulhei de novo a procura de Pierre.

Já estava no limite máximo da corda quando o vi. Desamarrei a corda de meu pulso e nadei em sua direção.

Eu estava ficando tonta já pela falta de oxigênio, mas consegui amarrar seu pulso e levá-lo a superfície, ele estava desacordado, ou talvez estivesse morto.

- Marlon, pode puxar!

No segundo em que eu gritei isso, cedi às forças do mar e deixei que ele me afundasse.

Não faço ideia de quanto tempo fiquei assim, morta, mas pareceu uma eternidade.

Até que minha mãe apareceu.

- Mãe? É você mesmo?

- Sou eu, filha.

Ela estava tão linda! Vestida de branco e com seus cabelos dourados soltos em cachos impecáveis.

- Eu te decepcionei tanto, mamãe! A senhora me perdoa?

Ela abriu um sorriso carinhoso, um sorriso que eu nunca a vira abrir.

- Você não me decepcionou, eu estou orgulhosa de você!

Comecei a chorar.

- Eu sei que é difícil, minha filha. Mas sua dor vai passar!

E assim, ela se transformou em uma luz forte e desapareceu.

Meus olhos não ardiam mais e eu conseguia enxergar nitidamente tudo ao meu redor, meu ouvido não estava mais tampado, eu conseguia escutar um som de baleia distante, não sentia mais frio e estava até conseguindo respirar!

Comecei a dançar naquela imensidão do mar, tudo estava tão tranquilo, tão lindo!

De repente dois braços fortes me puxaram para cima me acordando.

Tossi e vomitei água salgada sentindo meu nariz e minha garganta queimar e respirei fundo.

- Aaron?

- Você não achou mesmo que eu ia deixar você morrer, não é?

Ele nadou comigo até o mastro onde estavam todos amarrados e exaustos, ele me deu a mão e amarrou a corda em volta dos nossos pulsos.

Deitei na madeira cansada demais para agradecer, senti minha respiração aos poucos desacelerar e fechei os olhos.

Adormeci abraçada a Aaron que ignorava os olhares de desaprovação de Oliver e Pierre, nós dois sabíamos que o que tínhamos era apenas amizade, mas era uma amizade muito forte!

Eu tinha olhado nos olhos da morte, mas algo em meu íntimo me dizia que minha aventura estava apenas começando...

Coração NaufragadoOnde histórias criam vida. Descubra agora