Capítulo 6: Ondas de Azar

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Testemunhei o fim do que era.
Agora eu quero ir - Anavitória

Depois de três meses no mar, começaram o que eu chamo de ondas de azar...

Quando eu disse a Oliver que gostava de escrever, ele me deu uma caderneta em branco que guardava consigo, então eu finalmente voltei a fazer aquilo que eu tanto amo! E era isso o que eu estava fazendo na cabine do capitão com Oliver quando recebemos a primeira onda.

- Capitão, desculpe incomodar... Mas acho que monsieur deveria saber de uma coisa...

Era Alec, nosso cozinheiro.

- Desembuche, Alec!

- Nossas rações acabaram, senhor!

Eu e Oliver paramos imediatamente o que estávamos fazendo ao ouvir aquilo.

- Mas que porra! - Oliver exclamou se levantando e saindo da cabine.

- Atenção, idiotas! Nossa comida acabou, a partir de agora qualquer coisa que ande deve ser morta e levada até a cozinha. Ratos, baratas, tudo! E vamos pescar também. Baixem a âncora e lancem a rede.

- Mas, capitão, essa região do mar é muito fria, não vamos conseguir pegar nada! - Aaron argumentou.

- Ou conseguimos ou morremos de fome!

Gostaria de dizer que havíamos conseguido, mas infelizmente o que aconteceu foi a segunda opção, nós morremos de fome, no sentido literal da palavra.

De vinte homens, sobraram apenas treze, alguns realmente morreram de fome, outros morreram nas mãos de seus colegas por conta de discussões geradas pela tensão e brutalidade que a fome causava, ou apenas para se ter mais alimento...

Acontece que o "qualquer coisa que ande" se aplicou aos humanos também e, em vez de serem jogados ao mar, todos os mortos eram utilizados para alimentar os sobreviventes.

No começo, eu me recusava a comer carne humana, mas com o tempo, a fome passou a ser maior do que meus valores...

Nossa salvação chegou quase dois meses depois, em um dia em que Oliver olhava o telescópio em busca de terra firme.

- Se preparem! Estamos pertos de um navio de carga espanhol!

Todos comemoraram, exceto eu, sabia muito bem o que aquilo significava...

- Você vai precisar disso, amor! - disse Oliver me lançando uma espada.

Ninguém nunca havia dito como eram pesadas!

- Oliver, eu não vou roubar! Não faço ideia de como usar uma espada!

- Se você não lutar, vai morrer! Além disso, você é uma pirata agora! Você é a capitã!

- Mas eu não sei como...

Ele olhou para o horizonte tentando identificar o navio espanhol a olho nu.

- Você tem cerca de vinte minutos para aprender.

Fiz uma expressão de medo.

- Não se preocupe, eu só preciso de cinco para te tornar a melhor desses imbecis. Coloque um pé para frente e o outro para trás. Isso. Você escreve com a mão esquerda então vai segurar a espada com ela também. Lembre-se, a espada é, sim, uma arma, mas mais do que isso, é um escudo, deixe-a sempre perto do seu peito, sua barriga e sua cabeça, isso pode salvar sua vida! Você só irá atacar quando tiver certeza de que o adversário não irá revidar, se você conseguir empurrar o braço do adversário, vai abrir uma brecha para perfurá-lo. Entendeu?

Coração NaufragadoOnde histórias criam vida. Descubra agora