A minha convicção foi gradual. Ao longo daquela semana, não aconteceu muita coisa, mas, nesse período, a cada dia que passava, eu estava com mais certeza de que Kurumi Takamino era a DeltaPhoenix. Isso, eu consigo dizer claramente que eu tinha absoluta certeza. Quando eu encontrava com Kurumi na escola, eu lembrava da Delta. Quando eu jogava com a Delta de novo. No entanto, eu estava evitando, totalmente, falar disso com a Asuka, já que das outras vezes ela tirou sarro dessa possibilidade e eu não queria acabar tendo uma discussão, agora que estávamos mais tranquilos.
— Ela vai ficar bem, né? — Asuka e eu estávamos no intervalo da sexta-feira, de longe, eu observava Fuyuko com uma de suas amigas. A expressão dela era meio apática, mas dava para ver alguns sorrisos.
— Bom, vai, eu acho — senti o tapinha de Asuka nas minhas costas, mas isso não anulava a maneira como eu tinha falado com ela e como eu tinha feito a garota chorar, por mais que ela estivesse errada ou fazendo drama, no fim, pareceu sincera — Mas e daí? Você nunca se importou com ela, vai se importar agora que aconteceu o que aconteceu?
— É... acho que eu devia me desculpar — eu queria, no fundo, ali, eu me desculparia com a Fuyuko, mas meu rosto era o último que ela desejaria ver.
Asuka deu uma risadinha balançando negativamente a cabeça, antes de me olhar — Até parece que iria adiantar — ela tava certa — E você exagerou, lógico, mas se livrou... deixa pra lá, Haru — nessa hora, nossa conversa foi interrompida por uma notificação no meu celular, eu abri e Asuka espiou.
"Hoje não vou pra biblioteca, irei embora mais cedo".
Era a Kurumi, no instagram. Respondi com um ok. Era sempre isso, sempre na sexta-feira, Kurumi ou Delta, ou as duas, ou uma só, não podia me ficar comigo ou me dar atenção.
— Kurumi? — Asuka me olhou curiosa.
— É — respondi com um sorriso muito mal disfarçado — Eu te disse, a gente tem estudado juntos.
— Que estranho — ela riu se levantando e eu acompanhei, ao toque do sinal da escola — Você sequer usava o insta antes disso, Haru — Asuka lançou um sorrisinho estranho e eu fui andando na frente dela sem responder — Só não vai se apaixonar!
Nessa hora, me virei para trás e parei — Eu já gosto de alguém — esse alguém era a Delta, a pessoa dentro do jogo, em que eu acreditava fielmente ser a Kurumi, então, Asuka estava parcialmente certa. Ainda assim, eu não queria falar da minha atual certeza, aquela certeza.
Ao pensar em tudo isso, eu era realmente sortudo. Uma das garotas mais brilhantes da escola mostrava sua real faceta dentro de um jogo e passava quatro noites por semana comigo e, agora, essa mesma garota estava ficando mais próxima de mim.
. . .
Naquele fim de semana só fiquei em casa, vi uns filmes com a minha mãe, ainda tentando me reaproximar dela aos poucos, e estudei bastante. No domingo, tive uma dúvida em física e enviei mensagem para a Kurumi, mas, durante todo o dia, ela não me respondeu e nem visualizou. Provavelmente estava ocupada, então respeitei. Ainda assim, era duro imaginar que havia algo maior que eu. Se Kurumi e Delta eram a mesma pessoa, as duas estavam parando pelo mesmo motivo.
Fui para a aula na segunda-feira ainda pensando nisso, mas sabia que tudo teria o seu tempo certo, e que eu devia aproveitar enquanto tinha a DeltaPhoenix dentro do jogo, já que eram mundos separados. Era difícil separar, mas eu lidava com isso com afinco.
— Haru! — eu estava saindo da aula no final, e acabei me esquecendo de me despedir da Asuka, ela segurou o meu braço — Ei, você quer ir pro cinema comigo hoje? Lançou um filme muito bom de comédia — eu cocei a cabeça, sabia que não poderia — Como nos velhos tempos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
DeltaPhoenix
RomanceEm 2031, os jogos de realidade virtual avançaram bastante. No entanto, o jovem Haruoka Togashi ainda é viciado em um jogo online VR mais antigo, onde ele se encontra diariamente com uma jogadora chamada "DeltaPhoenix", com quem ele se relaciona sexu...