Qual o momento mais frustrante da minha vida? Bom, até hoje, eu não sei dizer, mas ouvir da Kurumi Takamino "meu namorado", foi uma das facadas mais profundas que atravessaram meu peito desde que eu nasci. Imagine, eu amava uma pessoa dentro de um jogo, uma pessoa cujo rosto era desconhecido e, através do destino, eu havia descoberto que ela era a mesma pessoa que a estudante mais brilhante da minha escola, uma garota amada e admirada por quase todo mundo.
De repente, eu viro amigo dessa garota na vida real. Amigo da garota que amo. E, mais de repente ainda, descubro que ela tem um namorado, elas têm. Um namorado que nunca aparecia nas redes sociais, um namorado que nunca estava com ela na escola, um namorado que eu não tinha como ter notado em nenhum momento.
Naquela hora, a única coisa que eu desejava, muito muito muito honestamente, era que Kurumi Takamino e DeltaPhoenix não fossem a mesma pessoa. O problema, é que isso não me era mais improvável, pelo contrário, para mim, era praticamente certo, não tinha como elas não serem a mesma pessoa.
A partir dali eu me senti, de certa forma, traído. Quando eu beijei a Fuyuko, entrei num dilema absurdo sobre eu estar traindo ou não a Delta, mas lembro dela dizer pra mim que aquilo tudo não importava, que o mundo real não importava, que tínhamos que viver o Hate Hunters Online, tínhamos que viver o que sentíamos um pelo outro lá dentro.
Talvez fosse por isso, talvez por ela já ter alguém no mundo real, alguém que ela preferia a mim. Ainda que fosse cada um em um mundo, ela optava por ele nos fins de semana, era sempre ele. Eu nunca seria o seu homem, eu nunca seria o verdadeiro amor de DeltaPhoenix ou de Kurumi Takamino.
No mesmo dia, quarta, eu voltei para casa, muito abalado e inexpressivo. Eu loguei, joguei com ela, fiquei com ela, mas não consegui expressar as coisas que eu estava sentindo e muito menos tinha coragem de fazer alguma pergunta sobre a vida real.
Foi assim na quarta, foi assim na quinta. E doeu bastante.
. . .
A partir dali, eu passei a simplesmente fingir que nada estava acontecendo, mas eu não sabia fingir muito bem. Os dias seguintes foram dolorosos pra caralho. Não tinha um segundo em que eu não pensava em toda aquela merda. Que eu imaginava Kurumi Takamino com um cara melhor do que eu, que eu imaginava ela saindo do HHO e indo responder as mensagens do namorado.
O pior é que, ainda que eu detestasse admitir, eu ainda me sentia dependente de uma doença chamada Asuka, e constantemente me dizia que precisava dela, mas me convenci de que é algo que, durante os anos, eu fui forçado a acreditar.
Eu não precisava da Asuka para passar por um momento como aquele, eu não precisava dela nunca mais, porque não era como se eu estivesse sozinho. Eu tinha a minha mãe, e tinha o Shinji. Então decidi procurá-lo.
Fui até a loja em que ele trabalha e, depois dele atender algumas pessoas, me sentei e comecei a contar tudo o que tinha acontecido para ele, desde que fiquei amigo da Kurumi Takamino na vida real, até a conclusão de que ela era DeltaPhoenix e a descoberta de que ela tinha um namorado. Depois do meu longo discurso, ele se sentou na minha frente e começou a opinar.
— Cara, isso é meio complicado, mas acho que entendi — Shinji coçou a cabeça, até parecia preocupado comigo — Apesar das "evidências" de que uma é a outra fazerem sentido, você não acha meio absurdo?
— O servidor do HHO que eu jogo é japonês e o jogo não é mais tão popular assim — exclamei, estranhamente admitindo aquilo, que era verdade — Não é tão impossível quanto parece... e as outras coincidências?
— É — ele coçou o queixo — Realmente, as outras coincidências, principalmente a dos dias em comum fazem total sentido, mas assim, elas parecem a mesma pessoa? Digo, de personalidade.
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DeltaPhoenix
RomanceEm 2031, os jogos de realidade virtual avançaram bastante. No entanto, o jovem Haruoka Togashi ainda é viciado em um jogo online VR mais antigo, onde ele se encontra diariamente com uma jogadora chamada "DeltaPhoenix", com quem ele se relaciona sexu...