15. Taro

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Quanto mais Kurumi se aproximava daquela moto, mais eu me sentia no chão. Aliás, eu já estava no chão fazia um tempinho, só que naquela cena, eu visualizava perfeitamente ela se distanciando, indo na direção de uma luz ofuscante. Não que eu me sinta atraído por caras, mas aquele era muito bonito. Eu não podia competir com aquilo.

O sorriso que ela carregava enquanto caminhava era brilhante. Senti inveja, por um segundo... por um segundo não, por muito tempo. Eu queria que ela sorrisse assim para mim. No jogo, como Delta, será que ela sorriria desse jeito para mim também?

De repente, todo o comportamento inocente dela mudou, sua postura ficou toda desajeitada e o sorriso começou a sumir do seu rosto, nem parecia a mesma pessoa. O rapaz loiro na moto falaz algumas coisas para ela com uma expressão séria. De longe, eu não conseguia ouvir. Em certo momento, enquanto ela falava de volta com ele, cabisbaixa, o olha vítreo dele se direcionou para mim, e eu, pela primeira vez, senti que fui olhado de cima para baixo por outro cara.

Eles pareciam estar discutindo. Eu nunca tinha visto a Kurumi para baixo daquele jeito. Fiquei imóvel, observando de longe, quando finalmente ele jogou um capacete na mão dela e subiu na moto, colocando o dele na cabeça. Na hora, ele pareceu ter gritado algo com ela, que eu não consegui ouvir. Num impulso, fui avançando na direção dele, até que alguém me segurou pelo braço.

Imaginei a Asuka aparecendo naquela hora, me impedindo de fazer uma "besteira", mas ela não fazia mais parte da minha vida — O que você vai fazer? — olhei para trás e tive uma surpresa, aquela era a última pessoa que eu esperava me impedir de me meter na situação — Não adianta fazer nada, carinha.

— Oguro?! — esse era aquele cara que bebeu comigo na festa, e foi até bem legal comigo — Eu não ia fazer nada, só estou indo embora.


Ele sorriu, soltou meu braço e deu um tapinha na parte de trás do meu ombro direito — Não? Tu tá parado aí olhando para a Takamino e o namorado dela fazem dois minutos — então aquele era mesmo o namorado dela. Indubitável. Era com aquele cara que Kurumi, que Delta, preferia passar os fins de semana no meu lugar — Te digo logo, nem adianta.

— O quê? — apesar de ser legal, Oguro estava sendo bem esquisito.

— Não sabe quem é esse aí? — olhei de novo e Kurumi estava bem cabisbaixa, terminando de colocar o capacete, já montada na traseira da moto, enquanto seu namorado de cabelos loiros olhava o celular — Ryotaro, ele já tá na universidade.

— É? Não sei quem é.

— Ele era do terceiro, quando eu ainda era um primeiranista — a moto começou a ir embora e eu passei a dar mais atenção pro Oguro — Participava do clube de teatro, praticamente uma estrela... dizem até que ele está sendo cotado para ser ator de um filme juvenil.

— Sério? — esse loiro esquisito parecia ser realmente o cara perfeito, mas porque ele estaria tratando a Kurumi daquela forma? Eu não ouvi a conversa, mas não gostei de ver aquilo — Qual o nome dele mesmo? 


— Ryotaro — disse Oguro, já indo embora — Ryotaro Hara — ele se despediu, mas eu nem liguei, porque parei para pensar: onde raios eu tinha escutado esse nome?

Fui para casa na sexta e o resto da noite foi horrível. Vez ou outra eu lembrava dela subindo entristecida na moto daquele loiro metido a galã... Ryotaro Hara, tinha nome de estrela mesmo, mas onde eu tinha escutado? Me perguntava isso de hora em hora, até que simplesmente me veio uma lembrança, do Shinji falando "Taro", "Ryotaro Hara"... o choque de ódio e surpresa que senti naquele momento foi muito intenso.

Então comecei a me dar conta de que eu já havia não só ouvido o nome dele, como visto ele. Ryotaro Nara, o Taro, era o filho da puta, loiro e alto, que entrou na loja e ficou falando um monte de merda pro Shinji no dia em que eu fui lá desabafar sobre a Delta.

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