56. Desabafo

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POV Gizelly Bicalho

- Vem, entra - falou, mal entramos e ela já estava me abraçando, senti o sofrimento dela naquele gesto.

- Agora me diz o que tá rolando? 

Ela não conseguiu responder, apenas começou a chorar, meu coração doía demais, queria tirar àquela dor daquela mulher, mas não podia, então apenas a abracei, ficamos ali, em pé, em frente a porta por um bom tempo.

- Vem, vamos sentar, okay? - eu disse e ela só me acompanhou.

Assim que eu sentei, Rafa se aconchegou em meu colo e voltou a chorar, comecei a fazer cafuné, enquanto abaixei minha cabeça pra beijar a dela.

- Incrível como você consegue me deixar a vontade pra ser vulnerável - ela disse quando começou a controlar o choro.

- Rafa... - a fiz sentar, segurei seu rosto pra que ela olhasse pra mim - O que cê tá fazendo com você mesma? - eu disse, já sabendo a resposta.

- Gi... Os comentários que tão fazendo... - as lágrimas voltaram a rolar pelo seu rosto - Eu sempre lidei bem com essas críticas e com os haters que as pessoas jogam em cima de mim, tive que aprender a conviver com isso, mas isso... - ela gesticulava - Tá acabando comigo.

- Por que você fica lendo essas coisas Rafaella? - ela pareceu ignorar o que falei e eu a deixei desabafar.

- Cê sabe da minha religiosidade e parte de meus seguidores também são religiosos, os comentários deles tão me corroendo... Tão me chamando de assassina Gi, dizendo que eu deveria ter morrido no procedimento... - ela respirou tentando segurar as lágrimas - Ser mãe era tudo que eu mais queria, perder o meu bebê foi o um dos momentos mais dolorosos que passei, eu fiquei sem chão, meu relacionamento quase acabou, eu literalmente fiquei no fundo do poço e parecia não ter forças alguma pra sair de lá, foram meses sombrios e difíceis! - seu olhar tava distante, cheio de dor e fixo em suas mãos - Cê não tem noção do quanto eu me culpo até hoje por ter perdido meu filho...

- Para com isso, Rafaella! - não a deixei terminar e meu tom de voz saiu um pouco forte demais - Olha pra mim! - ela continuava encarando suas mãos - Rafaella, mandei olhar pra mim! - arquiei minha sobrancelha e ela me olhou - Você não é culpada por nada! Entenda isso. Não quero você se culpando por uma fatalidade biológica do destino! Aconteceu, te marcou, machucou, e muito pelo visto! Mas não foi sua culpa, você tá me entendendo? - ela derramava lágrimas - Tá me entendendo? - perguntei novamente.

- Mas Gi...

- Mas Gi nada! Você não tem culpa e tem que entender logo isso! - eu estava nervosa com isso.

- Você é um ser humano iluminado, cê tem noção disso? 

- Rafa, ninguém é mais iluminada que você! Por favor não se culpa mais por isso. - disse abraçando a mineira - Não carrega essa culpa que não é tua, por favor, não faz isso - nesse momento comecei a derramar algumas lágrimas, tudo isso tava doendo em mim e eu não sabia o que fazer, então comecei a chorar.

- Cê tá chorando? - ela disse se afastando do meu abraço - Ei, chora não, eu tô bem. - a olhei contradizendo sua fala - Eu vou ficar bem! E juro que vou tentar não me culpar mais, é só que dói pensar que eu não fui capaz de... - colei nossos lábios em um selinho demorado, que deu lugar a vários outros selinhos.

- Não diz isso tá? Só não era pra ser, Deus quis que não fosse. Ele não faria isso com você se não soubesse que você é forte o suficiente pra aguentar passar por isso. E Ele deve ter um plano tão lindo, mais tão lindo pra você, que você não é capaz nem de imaginar! 

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