3. Sociedade racista

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POV Narradora

Enquanto isso, em um tribunal de Vitória, no Espírito Santo, Gizelly se encontrava em meio a um de seus casos junto ao Ministério Público, participando de uma audiência enquanto uma assistente de acusação. Era um caso delicado e Gizelly sabia que estando lá e atuando como assistente de acusação faria com que o processo fosse visto de outra forma, fosse mais bem cuidado e bem feito.

POV Gizelly Bicalho

O dia começou estressante, estava atuando em um caso como assistente de acusação, era um caso importante para mim, queria assegurar o dominus litis e pedir a prisão preventiva do acusado.

O caso era delicado. A mulher havia sofrido por anos quase todos os tipos de violência doméstica prevista na Lei nº 11.340, mais conhecida como Lei Maria da Penha. O estopim que fez com que a vítima entrasse de cabeça e assumisse esse processo foi a violência física. 

Eu encontrei a mulher na rua, ela estava machucada e assustada, não sabia o que fazer, sempre que posso eu atendo casos de mulheres que sofrem qualquer tipo de violência doméstica de forma gratuita, é a forma que encontrei pra doar um pouco daquilo que eu amo fazer para as pessoas que não possuem dinheiro para pagar um bom advogado.

Eu a levei ao médico, conversei com ela, descobri que ela vinha sofrendo outros tipos de violência que se enquadrava na Lei Maria da Penha, como psicológica, injúria, difamação e agora, a poucas horas atrás, a física. Auxiliei a mulher no que deveria fazer, não pude pegar o caso diretamente, estava mergulhada em outros casos um tanto quanto complexos e que requeriam minha total atenção, então, decidi me juntar ao caso enquanto assistente de acusação. E a primeira coisa que fiz foi requerer um pedido de prisão preventiva para o marido dela. 

Hoje, nesta quinta-feira, estávamos em uma audiência, que definiria qual o desfecho dessa história, Roberta - este era seu nome - estava bastante nervosa e antes de entrarmos na audiência eu falei:

- Calma Roberta, dará tudo certo, tudo foi exposto e esclarecido, vai ficar tudo bem, você vai ficar bem - eu disse, enquanto a tocava em seu braço esquerdo.

Roberta apenas me olhou e sorriu sem jeito, seu nervosismo continuou, até que o juíz proferiu a sentença: Culpado! Nesse momento Roberta começou a chorar, me abraçou e agradeceu por tudo o que eu fiz.

Depois dessa pequena vitória, tive que ir correndo encontrar com Letícia, Taís e Tabata. Elas eram minhas melhores amigas, a Leti e a Tabiti - como eu costumava chamá-las- eu conhecia desde pequena, foi uma amizade que surgiu assim que me mudei pra Vitória com minha mãe - antes disso eu nasci e vivia em Iúna, no interior do Espírito Santo -, a Taís era baiana e veio pra cá no último ano do ensino médio, após sua mãe ter conseguido um emprego em Vitória, fazendo com que ela, o pai e o irmão embarcassem nessa nova vida, mas só a conheci no primeiro ano de faculdade, nosso santo logo bateu, claro, dentre as meninas, Taís era a mais da bagaceira como eu.

Eu e Tabata trabalhávamos juntas, no mesmo escritório, Taís e Leti em outro, mas nós sempre nos ajudavámos nos casos mais difíceis e esse era um deles...

- Desculpem meu atraso! - falei após entrar no apartamento de Tabata e jogando minha bolsa em cima do sofá, indo para a mesa onde duas delas já trabalhavam - Conseguiram algo?

- Ainda não, eles tem um caso muito bem estruturado Gi - Tabata falou, desanimada.

- Vamos ter muito trabalho por aqui - disse Leti.

- E cadê Taís? - falei, mas logo vi a morena saindo da cozinha com uma garrafa de café e quatro xícaras, me oferecendo uma e prontamente enchendo-a com o líquido escuro.

- Obrigado - disse com um sorriso.

Passamos horas estudando o caso, era sobre um garoto preto, Gabriel, que foi pego na rua com cerca de trezentos reais no bolso enquanto ia até o supermercado fazer sua feira mensal. Os policiais o abordaram, o acusaram de tráfico e o prendeu. Claro que ele havia falado pra que era o dinheiro, mas os policiais não acreditaram e preferiram rotular o garoto de apenas 19 anos como traficante, e agora, nós tentávamos arrumar um jeito para defendê-lo e livrar o garoto da acusação. Mas o dia seria longo e provavelmente não conseguiríamos nada por hoje, estávamos todas exaustas. Maldita sociedade racista!

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Notas da autora

Oi gente, queria apenas dizer que não entendo de nada que envolva Direito, então peço desculpas por qualquer besteira que falei nesse capítulo, espero que tenham gostado!

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Aproveitem a leitura.

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