Vinte e nove | Ruir

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Diaval

Tudo começou a ruir tão rápido, que o homem-corvo mal teve tempo de raciocinar os acontecimentos antes que a figura medonha de Wapasha se materializasse na frente dos dois, fazendo com que Diaval entrasse em choque.

Era como se de repente tivesse uma espada acima de sua cabeça e ela estivesse prestes a lhe dar o golpe final.

O vidrinho que Malévola havia quebrado continha o Feitiço do Transmorfo. Feitiço esse que está diretamente ligado ao feiticeiro das trevas por um contrato de sangue. Estava implícito que se algo acontecesse ao feitiço, Wapasha sentiria e apareceria. Afinal, ele não iria querer que Diaval tivesse como contornar a cilada em que tinha se envolvido.

Porque o homem-corvo sabia que havia sido manipulado, ele só não sabia o quanto; mas estava prestes a descobrir.

Além do que, saber disso não anulava em nada tudo de ruim que ele havia feito depois.

Mas também não inzentava o feiticeiro de sua culpa.

Enquanto Diaval sentia seu corpo humano fora de controle, ele pensou:

Está acabado.

Wapasha era inteligente e traiçoeiro. Se ele achasse que havia uma forma de causar mais caos ou de ganhar algo a mais do que poderia ter, ele faria o que fosse preciso para conseguir.

- Ora, ora, o que temos aqui? - ronronou Wapasha, soando como um gato traiçoeiro, um sorriso de dentes amarelos pairando em seu rosto deformado pelas cicatrizes.

Diaval tentou se mover, expressar alguma reação, mas desde que o vidrinho havia se quebrado, era como se ele não tivesse mais controle do próprio corpo. Como se estivesse paralisado no tempo, podendo somente registrar os acontecimentos a sua volta.

Isso deixou o corvo pior do que ele já estava. Ele não sabia se o que o paralisava era o pânico ou o feiticeiro.

Em contra partida, Malévola teve uma reação completamente inesperada. Quando Wapasha se materializou no quarto, a feição dela se transformou e poucos segundos depois a fada estava em posição de ataque, os olhos brilhando em verde florescente, o que confundiu o corvo.

- Wapasha - ela praticamente cuspiu o nome dele. - O que a sua cara nojenta está fazendo aqui?

E foi quando tudo começou a fazer um pouco mais de sentido para o homem-corvo.

Malévola e Wapasha se conheciam. E pelo visto, ela o detestava, o que signicava que os dois tinham assuntos mal resolvidos entre si.

E Diaval, por ser próximo dela, foi usado como moeda de troca.

- Malévola, minha querida, você está ótima! - Wapasha ignorou a falta de simpatia dela. - Se bem que dá última vez que eu te vi você estava a beira da morte. - Os olhos de Malévola voltaram ao normal. - Mas devo ser sincero - ele colocou a mão sobre o peito num gesto debochado - , pensei que estaria um pouco mais agradecida depois de eu ter salvo sua vida.

Diaval pode ver, ainda impotente, quando Malévola sentiu o impacto das palavras do feiticeiro e relaxou a postura, o semblante confuso.

Wapasha era manipulador, mas o que era mais assustador sobre ele, era que ele manipulava com honestidade.

- Do que você está falando? - sussurou ela.

Mas Wapasha não estava mais prestando atenção, ele havia se virado para Diaval, parecendo notar sua presença ali pela primeira vez.

O sorriso que ele deu enquanto prendia a atenção do homem-corvo com seus olhos negros, foi tão diabólico, que fez o estômago de Diaval se revirar.

Dono do mal | Malévola e DiavalOnde histórias criam vida. Descubra agora