Vinte e sete | Verdade

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Diaval

Nossa filha.

Diaval mal pôde acreditar quando Malévola proferiu essas duas palavrinhas tão simples e ao mesmo tempo com tanto significado.

Ele sempre considerou Aurora como uma filha que ele nunca teve. No entanto, saber que Malévola, mesmo que inconscientemente, via eles dois, juntos, como figuras paternas, o fazia sentir borboletas no estômago.

Diaval ficara tão feliz ao ouvir aquilo. Ele estava muito feliz.

Diaval sempre amou Malévola - mesmo quando ele achava que a odiava - mas ele nunca ousou se permitir imaginar de verdade, como seria o relacionamento deles caso algum dia Diaval tomasse coragem e por algum milagre, Malévola resolvesse tentar. Se imaginar como sendo alguém especial na vida dela, parecia algo impossível demais até para sonhar.

Quando Diaval finamente resolveu deixar sua amargura de lado e assumir todos os riscos para passar os seus últimos dias com Malévola, não havia como saber se daria certo. E por incrível que pareça, estava dando.

Diaval sempre soube que estar com ela seria como tocar o céu, mas nunca imaginou que seria tão perfeito. Tão certo.

Os dois tinham ótima comunicação, Malévola sempre parecia entendê-lo e saber o que ele estava pensando. E apesar de todas as suas diferenças, era como se os dois estivessem sempre na mesma sincronia.

Separados eles eram bons, mas juntos, era perfeito.

Porém, por melhor e mais encantador que isso fosse, também era péssimo. Porque, depois dessa manhã, ele não sabia de onde tiraria coragem ou forças para ir embora.

Em toda a sua existência Diaval nunca sentiu tanta vontade de querer ficar, viver e experimentar, tudo de bom que a vida poderia lhe dar, como agora.

Quanto mais coisas Diaval percebia que iria perder, menos inclinado a ir ele ficava.

Diaval percebera que queria envelhecer ao lado de Malévola. Ver Blue Ivy crescer e ter seus próprios filhos, que o chamariam de tio Diaval.

Ele queria tanto isso. Queria todas essas coisas, com Malévola.

E era por isso que agora, ali no quarto daquele castelo, parado, ouvindo Aurora falar animadamente sobre planos para um futuro inexistente, que ele sentia o chão oscilar abaixo de si.

Diaval sentia dificuldades para respirar e uma sensação que poderia ser comparada a vertigem.

O homem-corvo se forçou a manter o foco, a sorrir e fingir que sentia a mesma empolgação que Aurora. Mas o seu coração estava tão apertado dentro de peito, que ele chegava a sentir dor física. A dor de tudo que ele perderia.

E havia a culpa esmadora que parecia nunca abandoná-lo, era como um soco forte na boca do estômago.

Mas a culpa disso tudo era dele, não era? Ele pedira por isso quando se comportou feito um completo idiota.

Não haveria redenção pra ele.

No fim das contas, seu plano realmente caíu como uma luva.

Diaval merecia morrer pelo que pensara em fazer.

Em um momento de ansiedade, o homem-corvo olhou pra Malévola, tentando achar nela as forças que precisava para seguir em frente, mas ela estava virada pro outro lado, onde ele não tinha nenhuma visão do seu rosto.

Diaval franziu as sobrancelhas, estranhando esse comportamento.

Tinha acontecido algo?

Ele estava prestes a interromper Aurora, que parecia não notar o mesmo que ele e ir até ela, quando o barulho de mais alguém batendo na porta o impediu.

Dono do mal | Malévola e DiavalOnde histórias criam vida. Descubra agora