Três | Batizado

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Glossário:


COLUMBINA: um tipo de passarinho pequeno.

Diaval

Faltava meia hora para o batizado e o acompanhante de Malévola ainda não havia chegado. Diaval estava sentado em uma cadeira feita de palha, observando sua senhora. Sua perna direita dobrada sobre a esquerda, a mão no queixo e uma expressão indecifrável no rosto. Quanto mais o tempo passava, mais irritada ele podia sentir que Malévola ficava. Era como se a irritação estivesse tão palpável no ar, que se Diaval apenas esticasse os dedos, poderia tocá-la. E essa situação deixava Diaval fora de si de tanta alegria.

Ele sabia que não deveria, afinal, ser um servo é prezar pelo bem estar do seu senhor acima do seu. Mas Diaval simplesmente não podia evitar. E se fosse parar pra pensar melhor, não era uma traição em si, era? No fim das contas ele não estava fazendo nada que prejudicasse o bem estar de sua senhora. Só estava feliz que ela estivesse quase fora de si de tanta irritação. Apenas isso.

Enquanto observava a postura de Malévola ficar levemente enrijesida e o maxilar trincado, quase que impersíbivelmente - apenas olhos treinados como os Diaval poderiam notar -, Diaval pensou em fazer uma lista:

COISAS QUE EU NÃO DEVERIA PENSAR, MAS QUE NÃO CONSIGO EVITAR E NEM PENSO EM ME ARREPENDER.

Ele sentiu vontade de rir com a idéia. Ainda bem que telepátia não era um dos super poderes de Malévola.

Quando Diaval sentiu a mudança no ar, seu bom humor se esvaiu. O vento vindo do Sul estava vindo mais forte e regular. Não muito, mas o suficiente para que tenha sido causado por alguém.

O convidado de Malévola estava chegando e pior ainda, não estava atrasado. Se ele tivesse uma boa desculpa, talvez Malévola até o perdoasse. E se o perdoasse, bem, não queria pensar muito nessa possibilidade. Torceria para que esse passo mal dado fosse o suficiente para que sua ama não queira nunca mais convidá-lo para nada.

Diabos, que ela não queira nunca mais vê-lo!

Se isso acontecesse, tudo acabaria e as coisas voltariam ao normal. Como sempre foram e como deveriam ser.

Um vento forte soprou no ninho quando Borra, o convidado de Malévola, flutuou sobre a entrada.

- Você está atrasado! - Malévola acusou, tão logo os pés de Borra tocarão o "chão".

Borra simplesmente ignorou o mau humor de sua senhora e disse, ao mesmo tempo em que fazia uma reverência quase perfeita para ela:

- Magestade, queira perdoar-me, mas acredito estar bem em cima da hora.

- Em cima da hora é estar atrasado! - Malévola resmungou, batendo levemente seu recém adquirido cajado.

O novo cajado tinha uma aparência bem mais alegre se comparado ao anterior. Fino, de madeira, cravejado com ouro e diamante, trançado com desenhos delicados de flores que adornam a bola cristalina no topo. Flores pintadas em tons de lilás e vermelho.

Uma verdadeira obra de arte.

Ao mesmo tempo em que aquele objeto parecia deslocado nas mãos de Malévola, Diaval não conseguia imaginar pessoa melhor para usá-lo.

- Pessoas sensataz chegam adiantadas - sua ama continuou. - A inteligência as faz perceber que, a cada minuto que se passa, milhões de futuros se divergem em infinitas possibilidades. Isso significa que infinitos contratempos podem acontecer.

Diaval deixou escapar uma risada. Imediatamente os dois olharam para ele. A discussão rapidamente esquecida. Diaval ficou imediamente sério.

- O que é tão engraçado? - disse Malévola, encarando-o raivosa.

Dono do mal | Malévola e DiavalOnde histórias criam vida. Descubra agora