Vinte e três | Confissões

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Malévola

Durante toda a sua vida Malévola teve duas concepções diferentes do que é o amor.

O primeiro tirou tudo o que ela tinha. Suas asas, sua fé, sua humanidade;
O segundo lhe devolveu tudo o que ela havia perdido e acrescentou. Deu a ela uma nova perspectiva sobre o mundo.

A verdade é que não existe fórmula para entender o que é amar. Você apenas viver, apenas sente e torce, para não estar enganado.

Durante vinte e dois anos, Malévola teve tempo para amadurecer sua idéia de amor. O amor não é perfeito, não é previsível. Ele nasce das situações mais improváveis.

Da maneira como ele sorri enrrugando o narizinho fino. Um sorriso genuíno, que te dá segurança para se jogar de um penhasco e ainda assim confiar que as coisas ficarão bem.
Da forma como ele te conhece. Seus defeitos, suas qualidades. Tão bem, melhor do que a si mesma. E isso te assusta e, ao mesmo tempo, te encanta.
A humanidade dele. A forma como ele vê a vida. Te faz querer ser uma pessoa melhor.

Malévola entendeu que o amor nasce nos pequenos detalhes.

Do som da voz dele. Do calor da sua pele na dele. Da forma como o corpo dele se move em relação ao seu. Das palavras. Dos olhares; e de repente, fica difícil pensar num mundo onde ele não esteja com você. Ficar sem ele lhe causa dor física, angústia, raiva, frustração e medo.
Medo de perdê-lo para sempre. Medo de nunca mais conseguir consertar as coisas. Medo de si mesma. Medo dele. Do poder que ele pode exercer sobre você.

Ele pode te destruir.

Enquanto encarava Diaval, Malévola se encontrava em um dos maiores dilemas de toda a sua vida.

Diaval sabia. Ele sabia os efeitos que sua partida haviam causado nela. Talvez até soubesse algo que ela ainda não admitira nem para si mesma.
Malévola sentia que esse era o ponto. Aquele momento crucial, aonde mentir ou dizer a verdade, definem tudo de bom ou ruim que virá a seguir.

Malévola sabia que se mentisse agora, provavelmente as coisas entre ela e Diaval nunca mais entrariam nos trilhos. Ele nunca mais seria capaz de confiar nela e sendo assim, qualquer tipo de relacionamento que eles desenvolvessem no futuro - se desenvolvessem um - seria baseado em rancor e desconfiança. E isso era a última coisa que Malévola queria.
Ela não sabia muito bem o porquê queria tanto que as coisas entre ela e Diaval ficassem melhores, mas era como se estar bem com ele fosse uma necessidade física, ao invés de uma opção.

E havia a segunda opção. Malévola poderia dizer a verdade. Se fosse totalmente honesta com ele, pela primeira vez em toda sua vida e dissesse tudo o que ela realmente sentia, desde o começo, talvez houvesse uma esperança. Talvez eles ficassem bem.
Era verdade que ela tinha medo. Muito medo. Da reação dele. Dos sentimentos dela. De nunca mais conseguir tê-lo novamente. Mas ela percebera que tinha mais medo de perdê-lo, do que dos sentimentos dela. Ela não suportaria passar por toda aquela dor novamente.

Agora Malévola sabia o quão corajoso era preciso ser para fazer o que Diaval havia feito. E ela o admirava mais por isso. Conseguir se expor de corpo, alma e coração, era um feito memorável que ela não conseguia se imaginar realizando.

E foi ali, olhando para aquele novo Diaval, que pouco se assemelhava com o antigo, que ela percebeu.

O medo de perdê-lo novamente, era maior do que todos os anseios que ela tinha.

Ela não precisava dar rótulos a esses sentimentos. Apenas precisava ser honesta com ele. Dizer o que estava em seu coração e se, por algum milagre divino, ele ainda sentisse algo por ela, talvez as coisas pudessem voltar a ser como eram antes. Talvez fossem até melhores.

Dono do mal | Malévola e DiavalOnde histórias criam vida. Descubra agora