Capítulo 6 - Meiga e fofa

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Eu comecei a vagar sem rumo por aí na esperança de esbarrar com alguém e pra minha sorte (ou azar..) Eu esbarrei em alguém...

- Ei garota estranha - Uma voz familiar me chamou, me fazendo olhar para cima em direção à voz -

- Cristine... - Falei reconhecendo a garota, foi ela que me ajudou a voltar para a cafeteria ontem -

- É Cistine, não Cristine. - ela me reprovou com o olhar - O que está fazendo aqui? A hora do almoço já está quase acabando. - A morena me olhou com curiosidade e mexeu em uma mecha do seu cabelo sedoso -

- Eu estou perdida - Respondi sentindo minha cabeça latejar - Eu fui fazer o exame na sala de quiz e depois que terminou o doutor simplesmente me trancou pra fora da sala e disse para eu me virar. - Eu a observei, ela era bem bonita com seus cabelos castanhos, olhos verde esmeralda e boca vermelha. O seu rosto era pálido mas fora isso, sua aparência era colorida e alegre. Uma beleza hipnotizante. Suas roupas ao contrário, eram pretas. -

- Ah, o Bart? Ele é assim mesmo, não ligue. - a garota me encarou séria por alguns segundos - Perdeu alguma coisa na minha cara? Você não para de me olhar - Ela deixou escapar uma risada que logo se calou. -

- É engraçado mas... Sei lá, você parece que hipnotiza. - Eu ri da minha própria frase, parecia tão tosca falando em voz alta. Percebi que ela também olhava para mim, observando bem cada detalhe do meu rosto, mas só enquanto eu falava -

- É que eu sou uma vampira - Ela riu - Vem, vamos antes que você seja impedida de comer. - Cistine puxou meu braço esquerdo e me arrastou por alguns corredores até a cafeteria. Dessa vez, surpreendentemente, parecia que não havíamos caminhado quarteirões. - Pronto, está entregue - Ela me soltou e seguiu o seu caminho, enquanto eu me dirigi à Kim. -

Chegando perto do self-service eu me lembrei que havia me fingido de muda no dia anterior. Isso não foi nada educado da minha parte, acho melhor pedir desculpas.

- Oi Kim - Eu disse um tanto quanto hesitante. Por algum motivo eu sentia que ela iria ficar brava e algo ruim iria acontecer -

- Hoje você falar melhor? - Kim sorriu para mim. Era um sorriso acolhedor. Apesar do rosto deformado por causa da doença, eu podia ver através do seu físico, eu olhava para a sua alma. E ela era bem bonita. -

- Hmm... - Minha língua estava enrolada. - É que... - Eu fechei os olhos e respirei fundo, a fim de falar tudo de uma vez - Eu não tenho problema de fala, só estava um pouco acuada ontem - era um pouco mentira, por que, na verdade eu só não falei com ela por causa de sua aparência. Uma coisa atípica minha. -

- Ah, tudo bem. Kim entende. Não ser fácil vim para um lugar desse. - A mulher pegou um prato da pilha à sua esquerda e serviu um pouco de cada coisa - Servida? - ela me estendeu o prato e eu sorri -

- Sim! - Eu fiquei muito feliz por ela me entender, apesar que, nem eu mesma tenha me entendido. - Eu tenho que confessar outra coisa... - Fiz uma cara meio triste e abaixei a cabeça -

- O quê? - A mais velha me olhou com um semblante preocupado -

- A sua comida estava maravilhosa ontem! - Eu sorri -

- Obrigada - Kim sorriu -

Me dirigi até uma mesa vazia (o que não foi difícil achar já que tinha muita pouca gente na cafeteria) e sentei-me me arrumando para começar a comer. Assim que fui dar uma garfada reparei em uma coisa: Eu esqueci de pegar os talheres!

Ri de mim mesma e me levantei indo em direção ao local em que os talheres se encontravam. Peguei um garfo e uma faca e voltei ao meu lugar. Rapidamente coloquei o garfo no prato e peguei um pedaço de carne. O levei até a boca e estava delicioso. O sabor é indescritível. Foi como devorar pequenos pedaços de nuvem, de tão macio. Como experimentar uma água divina, de tão gostoso que estava o molho. Minhas papilas gustativas estavam festejando alegremente e eu me senti bem. E tudo isso só no primeiro pedaço!

Enquanto eu comia alguém apareceu atrás de mim, era o Doutor Connor, eu o reconheci pela voz.

- Olá Megan! Como está se sentindo hoje? - ele sentou ao meu lado e sorriu para mim -

- Com dor de cabeça - eu disse enquanto enfiava a comida na boca, era tão boa que eu esqueci meus modos. Sem contar que eu estava morrendo de fome -

- E com fome também, não é? - Connor riu -

- É - falei rapidamente e continuei comendo -

- Bem, hoje você receberá roupas limpas e poderá tomar um bom banho. - O loiro colocou umas roupas envoltas em plástico em cima da enorme mesa. - E também um GPS para poder de localizar - ele colocou um dispositivo do tamanho de um meio celular na mesa e depois colocou algumas toalhas em cima das roupas -

- Poderia ter me dado o GPS antes, né? Eu sofri muito pra me localizar nesse lugar enorme! - Agora eu estava comendo mais devagar - Mas que bom que vou poder tomar banho - eu estava sentindo-me muito feliz por finalmente poder me livrar do cheiro ruim que eu emanava e muito mais por poder me colocar de agora em diante. -

Eu terminei de comer e o doutor Connor me explicou como funcionava o GPS (Na verdade é bem simples, é só ligar e o pontinho vermelho é onde você está e aí tem os desenhos da planta do hospício com os nomes das salas) e como funcionava o banho. Ele disse que eu teria apenas 10 minutos para tomar banho um dia sim e outro não.

No final de toda a explicação ele me pediu para usar o GPS para ir até o banheiro mais próximo e assim eu fiz.

Connor me pediu se eu tinha alguma dúvida sobre qualquer coisa e eu me atrevi a perguntar

- Ahn, na verdade... - minha voz oscilou, eu estava hesitante - O que acontece na sala de quiz? - engoli em seco -

- Pra dizer a verdade eu não sei. Sabe, cada doutor tem a sua função e nenhum outro pode se intrometer. Os meus colegas não costumam ser muito extrovertidos e falar do trabalho deles então não sei basicamente nada a respeito. - Eu conseguia reparar seu rosto preocupado e curioso, como se tentasse decifrar um enigma - O único que sabe tudo o que acontece aqui é o diretor. Mas eu nunca cheguei a ver ele - Connor fez um carinho em minha cabeça e riu - Não fique pensando muito nisso. Ouvi relatos de vários pacientes e são todos diferentes, mas não se esqueça da quarta regra. Isso vale para os médicos também. Bem, eu preciso ir. Até mais! - Ele sorriu novamente e se distanciou -

A quarta regra? Me esforcei para lembrar qual era. Ah sim, "Nenhum tipo de ferimento é aceitável" ou seja, não podemos ser feridos. Acho que entendi o porquê dos óculos de realidade virtual agora.

Parando para pensar no que o Connor disse, ele deve ser o médico mais normal. Acho que tive sorte de ser tratada por ele, afinal.

Eu peguei minhas coisas e fui tomar um banho. Tinha um cronômetro no banheiro, em baixo do chuveiro, aonde não molhava. Bem chique para um lugar que fica no meio do nada.

The Madhouse (O Hospício)Onde histórias criam vida. Descubra agora