Capítulo 2 - O plano

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- Enxuge suas lágrimas. Você é bonita demais para chorar. - Connor deu um sorriso doce -

- Isso é sério? - Olhei para ele e ri, pegando o lenço e enxugando minhas lágrimas -

- Claro, você fica muito mais encantadora quando sorri. - Ele me olhou e riu - Fico feliz que você esteja melhor. Bem, quer que eu te explique tudo agora ou quer um tempo?

- Pode explicar agora - Sorri e respirei fundo. Que situação ridícula, uma garota louca sendo consolada pelo médico bonito com o qual ela finge não se importar. Parece uma novela -

- Pois bem, é o seguinte - Foi a vez dele respirar fundo - Você terá uma rotina. De manhã quando acordar, fará exames. Depois do almoço, será testada. Você vai se juntar a outros pacientes no jardim e avaliaremos suas habilidades sociais. Se tentar alguma coisa, terá graves consequências. - Ele parou um pouco e me olhou para garantir que eu estava entendendo. Balancei a cabeça para ele continuar - E por fim, de noite, fará mais alguns exames e terá tempo livre para ler algum livro, escrever uma carta, desenhar... Enfim, fazer algum hobbie seu. - Ele me olhou sério, me deu arrepios. - E agora as regras. Temos apenas 4 regras, eu espero que você as respeite. A primeira: Não tente fugir. A segunda: Não tente usar aparelhos eletrônicos, o único meio de comunicação com as pessoas de fora será por meio de cartas. A terceira: Não tente influenciar pacientes a fazer algo para você ou com você para que possa tirar vantagem. E a quarta: É estritamente proíbido ter qualquer ferimento. Qualquer indício de tentativa de suicídio, pedirá medidas extremas. - Eu fiquei assustada. Não era normal. Eu nunca me imaginei em um lugar assim, com regras tão... Rígidas. Não são muitas regras, porém, são assustadoras. - Espero que tenha entendido! - Ele voltou a sorrir -

- Sim, eu entendi. - Forcei um sorriso. Agora era óbvio para mim, fui um enorme erro ter confiado nele para chorar. Daqui em diante, não posso confiar em mais ninguém, já que minha própria mãe me trancou nesse inferno -

- Que bom. Alguma dúvida?

- Ah... Na verdade sim. Tenho uma. - Respirei fundo, pronta para questionar sobre meus flashes - É possível eu delirar por causa da minha condição? - O encarei séria -

- Bom... - Connor pensou por alguns instantes - Não. Só se você tiver alguma outra doença. Mas a múltipla personalidade pode fazer você ter lembranças de algum momento específico em que você estaria em alguma outra personalidade. - Os olhos do doutor percorriam meu rosto curiosos. De repente ele parou - Você está tendo lembranças? Olha, Megan, você pode confiar em mim. Tem que me dizer tudo o que está acontecendo para que eu possa te ajudar. Se não, nunca vai sair daqui. - Ele pegou na minha mão. Eu pensei em tirar imediatamente mas, para sair preciso conquistar a confiança dele. Na verdade, de todos. Connor será só o começo. -

- Tudo bem - Sorri. Contar o que eu vi só me trará vantagens. - Eu vi... Sangue. - Tentei parecer nervosa. Aquelas imagens não me incomodavam mais, na verdade, até que eu tinha gostado de ver aquilo. -

- O que mais? - Começou a acariciar a parte de cima da minha mão. Aquilo estava me incomodando, mas faria o possível e o impossível para não passar o resto da minha vida nessa merda. -

- Um corpo. Um corpo morto. Se parecia com meu pai, mas não tenho certeza. - Engoli em seco. Minha atuação precisa melhorar -

- Entendo... - Connor pegou um bloco de notas do jaleco e começou a escrever algumas coisas. Imagino que minhas "visões". Me alivei por finalmente me livrar de sua mão - Você se lembra o que estava fazendo e onde estava? - Me olhou aguardando uma resposta -

- Não. Só vi sangue e o corpo. Eu me apavorei e desmaiei. Foi tudo muito rápido, não consegui ver mais nada... - Fingi estar assustada, mas a única coisa que me dava medo no momento, era o doutor. -

- Tudo bem, Megan - Ele sorriu docemente e escreveu mais alguma coisa no caderno. - Não force sua cabeça, tudo bem? Para tratar sua doença queremos você viva e saudável - Connor sorriu novamente, parecia um demônio. Ou pior. Pra mim, significa que vou ser torturada em silêncio... -

- Obrigada doutor - Sorri o máximo que consegui -

- Por nada - Retribuiu o sorriso - Mais alguma dúvida?

- Não, nenhuma.

- Então, se você se sentir bem, pode me acompanhar até a cozinha onde irá jantar com os outros pacientes. Amanhã conhecerá todos e poderá fazer amigos - Sorriu novamente, que mania irritante. -

- Sim, estou morrendo de fome! - Pulei da cama contagiada pelo pensamento de matar minha fome, afinal, eu não havia comido nada a não ser alguns cookies na recepção. -

- Calma Megan, vai se machucar assim - Connor riu e se levantou também, colocou uma mão em minhas costas e me empurrou de leve para para fora - Ah, antes que eu me esqueça - Riu soprado - É melhor trancar sua porta a noite. Os funcionários trancam de dia, durante os exames. Mas, sair do quarto a noite pode ser perigoso. Não chega a ser uma regra, mas eu recomendaria. - Ele se virou e fechou a porta, me dando a chave do quarto -

- O-obrigado por avisar - Engoli em seco -

- Vamos? O refeitório fica por aqui - Apontou para o fim dos corredores de portas e lá fomos nós, indo em direção ao desconhecido.-

A idéia de ter que ficar aqui e ganhar a confiança de todo mundo não me agrada, mas farei o que for preciso para escapar da casa da insanidade.

Preciso bolar um plano. Já vi que vai ser difícil fugir pois há câmeras em todos os corredores e, mesmo se não tivesse, o lugar é enorme e parece tudo igual. Não tem como eu me esgueirar e achar uma saída acidentalmente, sem conhecer o local. A minha melhor opção é tentar conhecer alguém que já está aqui há algum tempo e ganhar a confiança da pessoa. Assim, ela se sentirá confortável para me contar sobre tudo. Claro que, terei de aguentar as ladainhas e reclamações. Mas será um pequeno preço a se pagar.

The Madhouse (O Hospício)Onde histórias criam vida. Descubra agora