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Tudo saiu de um jeito estranho.

Percy continuava a falar comigo, como se aquele dia não tivesse acontecido. Continuava beijando a Rachel em público e tirando graça comigo, mesmo que Thalia e Silena continuassem me avisando que aquilo estava errado.

Éramos amigos e só.

As sessões de Thomas estavam indo muito bem. Tivemos uma conversa sobre o que aconteceu comigo daquela vez, e ele disse que fora apenas um surto, me alertou que se eu prosseguisse com as sessões, aquilo ia acontecer com mais frequência do que eu esperava. Perguntei o porquê, entretanto ele mudou de assunto rapidamente, comendo nosso donuts habituais e bebendo os cappuccinos cheios de creme que ele preparava. O legal é que eu já estava acostumada com aquele cappuccino com açúcar demais, depois do primeiro dia, ele colocava menos, percebi, mas nada que mudasse muita coisa.

Minha mente, às vezes, se ocupava com algumas imagens que eu não conseguia reconhecer, mas depois de escutar a voz de Tom e vê-lo acenando para mim, tudo passava.

Minha mãe soube do meu "primeiro" surto e quase teve uma crise, ameaçando o Thomas de todas as maneiras possíveis, mas nada que eu não pudesse acalmar.

Agora, eu estava agarrada a uma mandara de lã azul por cima dos ombros, com uma xícara de café enorme entre as mãos e cookie que a tia da cantina fez para a galera que ficou antes do jogo começar. O campo onde tinha a fogueira estava completamente limpo, como sempre, eu estava na mesa de pedra mais afastada, apreciando o vento que limpava meu rosto e a xícara de café.

Peguei o isqueiro, lembrando novamente do meu pai. Quando ele me deu e o que ele disse.

Sentia que precisava afastar meus medos, medo de perder no jogo de hoje e tudo que eu tinha planejado dar errado.

Eu peguei o novo maço de cigarro que consegui sorrateiramente com um cara da Goode que contrabandeava e acendi um, pendurando-o entre meus lábios. Senti aquela fumaça chegar até meu pulmão, preenchendo-o rapidamente, aquilo já não funcionava com antes, porém era tudo que tinha.

O cigarro, a garrafa cheia de café, cookies com gotas de chocolate e a manta de lã que roubei do quarto de Percy.

É, nossa amizade chegou a esse ponto.

E ele sabia muito bem que eu não queria só amizade com ele. Ou ele sabia e estava me evitando ou ele era muito idiota.

Traguei mais algumas vezes, brincando com a fumaça que saía da minha boca, sorrindo boba quando a mesma desaparecia pelo vento frio de Hampshire. Estava tentando contar nos dedos quanto tempo faltava para o verão nesse hemisfério, entretanto parecia uma eternidade, afinal... Reino Unido era tão perto dos polos que talvez aqui nunca tivesse um verão decente.

Califórnia nunca teve um inverno. Não que eu me lembrasse.

Sempre foi tão quente e abafado, além de chuvas fortes e tempestades, não acontecia nada demais para dizer que aquela cidade tinha inverno. Apaguei o cigarro com o pé na pedra e acendi mais um.

Muitas vezes, uma vez como essa, eu sentia falta do jeito fácil de Luke de arrumar drogas quando eu precisava. De algo mais pesado, de mais adrenalina do que dar mortais em cima de uma pirâmide de garotas.

— O que está fazendo por aqui? — Percy perguntou, tirando o cigarro da minha boca com força, avaliando-o.

Ergui os olhos, me encolhendo ainda mais na manta.

— Só estou relaxando antes do jogo. — resmunguei.

O moreno usava uma regata folgada da Goode roxa com branco e um jeans branco. Seus cabelos estavam desarrumados por baixo do boné roxo jogado para trás. Percy ergueu o cigarro até sua boca e tragou com perfeição.

Nightingale • PJOOnde histórias criam vida. Descubra agora