3 • hey, I'm Californian

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É isso aí. Eu estava deitada às sete da manhã, acordada em meu quarto, na minha cama de casal fofinha, os lençóis emaranhados abaixo de mim, tudo parecia entediante. Conversar com Luke por mensagem era chato, ele estava tão bêbado. Nunca penei que ele fosse tão chato e sem graça por mensagem. Até entrei no Skype pra ver se eu conseguia alguma coisa, ok, nada. Facebook, apenas a escola inteira pedindo pra ser meu "amigo", ah, sem esquecer claro que Calipso tinha me pedido em amizade e deixado um recado no mural, uma carinha piscando. Uma carinha piscando, repito. Essa guria era lésbica, ou? Certo, o único que não me pediu em amizade foi Percy, e pelo que eu fiz ontem na frente da namoradinha dele, talvez ele nunca fizesse isso mesmo.

Grunhi, irritada, eu não devia nada a ele. Só fiz o que ele mereceu. Coloquei um robe sobre minha calça preta e a regata branca de panda, ajeitei minhas pantufas, tratando de atravessar a passarela até chegar ao refeitório. Como era de se esperar, estava vazio.

Tinha alguns pães forrados com um pano, algumas frutas espalhadas, sucos, leite que parecia quente. Bem, uma mesa posta para qualquer pessoas que chegasse. Fui até a máquina de cappuccino, fiz um com aroma de baunilha, coloquei alguns pães em meu prato, peguei o bule do leite quente, requeijão e queijo. Certo, ótimo.

Sentei em uma das primeiras mesas, jogando-me, literalmente, na cadeira, apreciando meu cappuccino em minha caneca cinza.

Paz. Silêncio. Não era perturbador, só faltava as ondas do mar.

Fechei os olhos, sentindo apenas o cheiro de baunilha e as ondas de fumaça finas tocando meus dedos enquanto eu os passava, calmamente sobre a caneca.

Infelizmente, algumas lembranças me atacaram. Daquele mesmo jeito estranho que acontecia, como se meu corpo estivesse no automático, e aquelas imagens se infiltravam em frente aos meus olhos com uma leveza extraordinária.

O sol se levantava calmamente, como se tivesse toda eternidade para fazer isso. Suspirei, as ondas batiam na areia do mar de modo que nada além do som das folhas roçando-se, das ondas tocando a areia e da minha própria respiração pudessem ser ouvidas, isso me acalmava. Eu amava passar as férias de verão na Califórnia, as coisas eram sempre melhores, sempre calmas.

Estiquei minhas pernas pelas areias, aproveitando sentir os grãos arranhando minha pele. Isso era tão bom. Deitei-me por inteiro e deixei o vento bagunçar meus cabelos, adorando o modo como aquilo me envolvia.

- Filha?

Era meu pai.

Minha mãe estava em Nova York, eles já eram separados nesse tempo, e embora se dessem bem, minha mãe preferia não ficar muito tempo por perto.

Apoiei em meus cotovelos e o olhei sobre o ombro, dando um sorriso enorme.

- E ai, pai.

- Trouxe um café, quer companhia?

Sorri, sentando-me, puxando meus cabelos em um coque folgado, envolvendo a caneca cinzenta em minhas mãos. Uma fina fumaça subia circulando meu dedo, eu os passava sobre a caneca, apenas para sentir o calor que ela exalava. Meu pai se mantinha calado ao meu lado, observando o sol nascendo, assim como eu, bebericando seu café puro sem leite.

O meu estava com cubos de açúcar, o que deixava tudo mais saboroso.

- Quando você vai nos visitar em Nova York? -  perguntei, tentando puxar assunto.

Meu pai deu de ombros, sorrindo.

- Eu desistir daquela cidade há muito tempo. - seu sorriso era um calmante para mim, límpido, me dava uma sensação de conforto.

Nightingale • PJOOnde histórias criam vida. Descubra agora