2 • beat in my face

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O pub do meu tio, na verdade, era bem californiano. O tipo de pub que eu entraria de cara na minha cidade e só sairia  cambaleando, com uma bebida na mão e um garoto na minha cama. No entanto, eu não tinha mais essa liberdade, então aqui estava eu com Silena e Thalia.

Algumas horas atrás, estávamos sentadas na minha cama de casal olhando, de modo entediado, o meu closet aberto.

Silena escolheu centenas de combinações, mas acabei indo com uma calça jeans rasgados do começo ao fim, um casaquinho preto colado um palmo abaixo do meu quadril e uma mistura de cores abstratas na frente, nada muito chamativo. A noite na Inglaterra era bem diferente da Califórnia -- calor, muito calor --, logo decidi que meus shorts estavam suspensos por tempo indeterminado, e não, eu não acreditava que no verão fizesse tanto calor como Silena insistia em dizer. Calcei uns coturnos pretos de tachinhas bem legais, meus cabelos totalmente lisos, uma maquiagem bem normal e echarpe rendado nas pontas cinza.

Bem, eu estava apresentável para Hampshire -- nossa cidade. Certo, ok, eu tentava procurar um mínimo erro no espelho, felizmente, não conseguia achar nada além de alguns retoques no batom opaco nos meus lábios. Eu também não curtia o fato de não mostrar meu corpo belo e lindo, mas fazer o quê, não é? Você é expulsa de sua casa, preocupar-se com isso deve ser uma besteira.

Thalia apareceu do meu lado, com suas típicas calças de couro, uma blusa cinza e os cabelos meio castanhos presos em um rabo de cavalo alto, como sempre, sua maquiagem estava pesada demais, no entanto, continuava linda com os olhos azuis límpidos e elétricos. Calçava sapatilhas, e as batia freneticamente.

Silena estava totalmente diferente de nós. Uma sapatilha branca, uma legging cinza e uma blusa roxa. Sério, como essa garota conseguia ficar linda com qualquer coisa? Ela tem algum problema.

Quando todo mundo -- e sim, quando digo isso quero dizer, todo mundo é, literalmente, todo mundo se entupindo nos corredores para sair -- decidiu dar o fora, Afrodite nos ofereceu uma carona para o pub, o que não foi muito legal porque ela parecia estar estressada colocando uma música super sem graça pra tocar.

Voltando ao pub do meu tio. Tinha aquele ar quente de qualquer bar, as luzes eram fracas, mas não coloridas, aposto que meu tio falaria que era algo gay, de qualquer maneira, o teto era alto, os móveis, rústicos, tinha até um jukebox! Um palco ao fundo estava montado, alguns caras bem bonitos estavam com violões e guitarras, conversando com um cara que aposto que não tinha nada a ver com aquilo, e eu tinha quase certeza que era meu tio. Silena desapareceu assim que chegamos, só sobrou eu e Thalia, as duas ignoradas, excluídas e atraentes daquela escola.

Sentamo-nos nos bancos que rodavam perto do balcão, observando a banda que começaria. Um panfleto estava em cima, mostrando a playlist, o que eu pude ver é que seria uma banda indie. Legal, sem popzinho ridículos.

- Duas tequilas. - Thalia pediu, piscando pro garçom. - Só limão.

- Duas cocas. - meu tio disse, escorando-se e cortando nosso barato. - E aí, pirralhas.

- Ares. - revirei os olhos. - Larga do nosso pé, cara! Já não basta a tia Dite, sério, não sei como minha mãe te convenceu, mas aposto que faço melhor.

- Sem essa, loirinha, sem bebidas alcoólicas, sem agarração. Só uma adolescência chata e sem graça em Hampshire.

- Não acredito que estou ouvindo isso do tio Ares... Você consegue imaginar isso, Annie? Aquele cara super legal que nos dizia que tínhamos que viver a vida loucamente, como se tudo pudesse acabar amanhã?

- Pirralha falsificada, as pessoas mudam. - nos empurrou dois copos grandes de coca e bufou. - Agora, parem de acumular poeira no meu bar e vão dançar como vocês dançavam naquelas festinhas de moleques.

Nightingale • PJOOnde histórias criam vida. Descubra agora