8 • good girl

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Chovia.

Eu já deveria ter me acostumado com o clima tristonho de Hampshire, mas cada vez que eu olhava pelas janelas abertas e a pequena poça que se instalava no piso, os edredons e as almofadas abaixo de minha cabeça pareciam bem melhor.

Encolhi-me ainda mais, sabendo que a qualquer momento, uma das supervisoras - até mesmo Dite - poderia aparecer no meu quarto com as chaves reservas e vir me chamar para o segundo tempo. Acontecia que... Eu não tinha coragem.

Encarando o teto com tédio, o café que consegui na cantina de madrugada - quando tudo ainda estava ameno e mais quente - pousado graciosamente no meu criado mudo redondo, a música na caixinha de som ao lado da minha cama também ressoava baixinho com uma lista de reprodução que eu não reconhecia.

Batidas soaram na minha porta. Fechei os olhos rapidamente, fingindo o óbvio.

- Annie? - uma voz feminina ressoou.

- Hm? - me remexi, piscando os olhos.

- Oi, sou eu. - Silena apareceu, fechando a porta de veludo atrás de si e encarando-me com sua saia quadriculada, blazer no antebraço e blusa rendada.

- Oi. - resmunguei, tentando me sentar, uma tentativa em vão já que continuei deitada, encarando os cabelos ruivos de Silena em um coque bagunçado no topo da cabeça.

- Está tudo bem? Thalia disse que você não atendeu o telefone.

Meu olhar foi rápido ao encarar o iphone branco distante, um uma banca ao lado da porta do closet. Mordi o lábio inferior, sentindo-me culpada. Com passos lentos, Silena retirou as sapatilhas pretas que combinava com seu blazer de hoje, subindo com suas meias 7/8 no primeiro degrau para minha cama.

- Você está tão distante ultimamente.

- Claro, eu não tenho amigos. - dei um sorriso de canto para minha prima, que franziu as sobrancelhas.

- Ares. - seus lábios apertaram-se em uma linha fina, batendo os dedos em meu ombro desnudo.

- Você tem aula. É melhor se apressar.

- Você também te aula. É melhor você se apressar.

- Eu não vou.

- Já falou com a minha mãe?

- Não preciso dizer tudo que faço pra sua mãe, eu não vou e ponto.

- Annie... Não fui aquilo que eu quis dizer para o tio Ares...

- Eu entendi bem o que você quis dizer, Si. Talvez sim, talvez eu não tenha amigos nesta escola que eu odeio. Até porque eu nem queria vir pra cá, lembra? - sentei-me na cama, encarando-a com sarcasmo. - O problema é que eu nem sabia que minha priminha ia me ajudar tanto assim.

- Annabeth! Você sabe que eu não quis dizer isso. Sabe por que você está fazendo isso? Todo seu drama e todo seu charme aí é só porque não tem mil e um meninos aos seus pés. Só por que não tem festas a todo momento e drogas quando quer.

- Isso é o que você pensa, queridinha. - disse, saindo da cama com minhas pantufas de panda.

- O que? Você está usando drogas? Quem te...

- Não. - virei-me para ela, impaciente. - Todos os meninos estão aos meus pés. Tritão, Seth... Nico, não porque ele é muito magrelo... Mas o resto... É só uma questão de tempo.

- Percy não está.

- Percy é carta fora do baralho. Namorada. Bleh, cansei.

Silena assentiu, surpresa, encarando suas unhas pintadas de alguma cor clara.

Nightingale • PJOOnde histórias criam vida. Descubra agora