14 • then, we'll run

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O carro de Percy acelerava, parecia que a cada soluço que eu dava, mais rápido ele ia e eu só queria me afundar naquele couro macio e nunca mais sair dali.

Em um pensamento ridículo, eu queria que ele batesse o carro em qualquer lugar.

Abri a boca, deixando um ruído estranho e vergonhoso sair em meio aos soluços, tentando me controlar. Eu me sentia patética chorando, eu não entendia porque aquelas lágrimas caiam e porque eu estava tão mexida por algo tão... Idiota?

— Engole o choro. — ouvi a voz mandona dele ao meu lado.

Não conseguia obedecer. Chorei ainda mais, sentindo todo meu corpo estremecer a cada soluço, era como solavancos involuntários.

— Engole o choro, porra!

Encolhi-me com sua agressividade. Ele tocou meu pulso, forçando-me a encará-lo. Seu rosto estava vermelho, parecia assustado consigo mesmo.

— Você não manda em mim. — consegui dizer, sentindo o gosto salgado das malditas lágrimas. — Não precisa me humilhar mais do que eu já estou sentindo, seu idiota. — mais lágrimas desciam pelo meu rosto. — Já estou me sentindo patética o suficiente. — solucei e ergui o queixo, tentando parecer durona.

Percy revirou os olhos, continuando a dirigir. Percebi que estávamos em uma estrada estranha, provavelmente, estávamos fora de Hampshire. Pelas pelas avisando a quilometragem e tudo mais. Encarei um ponto qualquer a frente, tentando controlar as lágrimas e os tremores.

— Você também sabia?

— Do que?

— Dessa doença, dessa doença de louco.

— Você não é louca.

— Eu sou. Amnésia histérica. Quem teria isso? — ri nervosa, passando as mãos pela minha franja que caia do rabo de cavalo.

— Thomas disse que não é nada demais, Annabeth. Ele é medico, não é você. Agora, enxuga esse rosto. Agora.

Obedeci, vendo que ele entrava em uma curva fechada, entrando em uma estranha estrada de areia, a entrada de um motel.

Percy em encarou.

— Diga que quer a suíte mais luxuosa. — instruiu antes de abaixar o vidro.

Abri um sorriso para a recepcionista. Não deveria ser o melhor sorriso porque meu rosto provavlemente estava muito vermelho, assim como meu nariz e meus olhos e todo meu cabelo deveria estar bagunçado. — mas eu abri um sorriso grande mesmo assim.

— Oi, ahn, qual a melhor suíte daqui?

A mulher sorriu, interesseira e safada, para nós. Embora, seu sorriso tenha falhada, de primeira.

— Crianças. — balançou a cabeça e me entregou uma chave rosa. — Aqui está, querida. É o último andar.

Assenti, vendo o vidro fechar-se e voltarmos a entrar.

Percy desligou o carro e apoiou a cabeça no volante, provavelmente pensando na merda que acabara de se meter. Seus ombros tremiam levemente, e sua respiração saía controlada, muito diferente da minha, aliás.

— Pode ir embora. — dei de ombros, tentando abrir a porta, mas estava trancada. — É sério. Eu vou ficar um tempo e volto.

— Como está se sentindo? — ele não levantou a cabeça.

— Como você acha? Eu acabei de me dar conta de que não lembro nada que aconteceu antes ou depois da morte do meu pai. Eu... Eu achava que sabia, que só não queria sentir... Aquilo que não lembro! — ri nervosa, passando as mãos pelo rosto. — Mas, na verdade, eu não lembro. Eu me sinto uma inútil, sinto que esqueci meu pai. A pessoa que mais me apoiou, a pessoa que fazia tudo por mim. E só eu não sabia disso! Minha mãe sabia, Thalia sabia... Todo mundo sabia. — estreitei os olhos, encarando-o. — Você sabia? —ri, enfiando meu rosto entre os joelhos. — Claro que você sabia, por isso que você me esnobou todo aquele tempo. Todos sabiam. — murmurei, voltando aquele transe depressivo, sentindo todo o choro engasgar em minha garganta e eu voltar a chorar compulsivamente.

Nightingale • PJOOnde histórias criam vida. Descubra agora