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Harriet abraçava uma almofada azul, olhava para a vista do jardim por sua janela, sentada com a testa apoiada no vidro e tentando a todo custo não chorar, sofria de seu primeiro coração partido. Henry observava a filha sem saber direito o que fazer, Charlotte precisou viajar as pressas para ajudar uma prima que estava em trabalho de parto, e tudo corria bem após sua partida até Harriet chegar em casa depois da aula e passar o resto do dia sem falar com ninguém.

- Pai, posso comer doce?

Mal escutou a voz de Oliver, assentiu em afirmação para o pedido dele e continuou a pensar em uma maneira de animar sua filha. Oliver olhou para o pai surpreso, então virou para Daisy que também não conseguia acreditar que o irmão podia comer doce antes do jantar. A pequena Hart se aproximou e falou em uma voz baixa e melosa.

- Papai, posso brincar na árvore?

- Pode, querida.

Respondeu em automático, os dois comemoraram em silêncio e correram para a cozinha. Henry coçou a nuca sem jeito e soube que não poderia evitar o que estava acontecendo quando Harriet enxugou discretamente algumas lágrimas. Entrou no quarto com cuidado, olhou para as paredes pintadas e cheias de fotos, o teto adornado de estrelas que iluminavam o local, em frente à janela, Harriet se encontrava na mesma posição de todo o dia. Se aproximou e sentou ao lado dela, sua filha desviou um pouco a atenção para ele, mas logo tornou a olhar para fora.

- Não precisa fingir que não sabe de nada.

Pediu à ele, a voz embargada e um pouco trêmula. Henry somente esperou, não iria força-la a contar nada se ainda não estivesse pronta. A Hart soltou um suspiro trêmulo e começou a falar sem encara-lo.

- Eu fui muito idiota, achei que ele relmente gostava de mim. Não precisa se preocupar, pai, ele machucou somente meu coração. - soltou uma risada amarga e enxugou o rosto com as costas da mão. - Estou parecendo o Oliver falando desse jeito, talvez a veia dramática da família não tenha pulado a minha vez.

- Estrelinha. - chamou, pegando a mão livre dela na sua. Harriet a apertou e finalmente olhou para ele. - Você não deve se sentir culpada por estar sofrendo, ninguém vai minimizar seus sentimentos.

Sabia muito bem como era a sensação, o bom é que sempre teve Charlotte e Jasper ao seu lado para apoia-lo, mas Harriet era diferente. Sua filha internalizava os sentimentos e só falava sobre eles depois que percebia que não iria aguentar sozinha, conseguia ver nos olhos dela que ela ainda não estava pronta para entrar nos detalhes. A puxou pela mão para os seus braços, Harriet soltou um soluço antes de se ajoelhar e enlaçar seu pescoço.

- Estou aqui.

Afirmou, passando a mão em suas costas em um gesto de conforto enquanto sentia as lágrimas quentes escorrerem por seu pescoço.

- Eu só-

A fala de Harriet foi cortada pelo barulho de um galho se quebrando seguido de um estridente grito infantil. Se separaram rapidamente e olharam para fora, Daisy estava caída no chão e chorava dolorosamente.

- O que ela foi fazer dessa vez?

Harriet perguntou, seguindo seu pai que corria para fora da casa. Quando estava chegando perto da irmã, viu o corte feio em sua perna e o sangue que escorria, sentiu seu estômago embrulhar e as pernas ficarem bambas.

- É melhor você nem se aproximar.

Oliver a pegou pelo braço e a ajudou a sentar em um banco de madeira próximo, Henry tentava acalmar a filha enquanto ligava para a emergência.

- Coloca a cabeça entre os joelhos. - fez o que o irmão mandou, fechou os olhos e começou a puxar o ar ao sentir a mão de Oliver repetir o gesto que Henry fazia em suas costas. - Você é péssima em situações de perigo, já podemos riscar medicina do seu futuro, maninha.

- Definitivamente. - afirmou, conseguindo rir um pouco.

Oliver apoiou a cabeça no ombro dela e falou em um sussurro sincero:

- Sinto muito pelo Toni.

- Obrigada por ter ficado calado dessa vez. - agradeceu, tentando mudar de assunto.

- Me doeu fisicamente não contar nada, foi muito difícil, Ettie.

- Imagino, leãozinho.

Soltou um risada que foi acompanhada por ele, mas estava imensamente agradecida por ele ter ficado de boca calada sobre o que descobriu, não queria preocupar seus pais. Não demorou muito para levarem Daisy ao hospital, onde ela pegou alguns pontos e um sermão enorme de Charlotte via facegram. Harriet se sentia mais calma, mesmo com toda aquela confusão, tinha sua família ao seu lado e Henry ficava feliz por ter conseguido ser um apoio para a filha, mas definitivamente iria prestar mais atenção no que os outros dois pediam.

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