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Henry estava sentado no chão frio de sua varanda, Charlotte se encontrava ao seu lado com a cabeça apoiada em seu ombro enquanto fazia carinho em Kid, que apoiava a cabeça em suas pernas. Os dois observavam a rua pacata à noite enquanto tentavam digerir os acontecimentos da tarde. Quando chegaram de viagem, encontraram Danger abatido, o cachorro já idoso se encontrava há muito tempo com dificuldades, a veterinária havia afirmado ser por conta da idade já avançada e os dois se preparavam e preparavam os filhos para o inevitável.

O Hart apoiou a lateral do rosto na cabeça de Charlotte, sentia a maciez de seus cachos e fechou os olhos para impedir as lágrimas. Seus filhos ainda estavam nos acampamentos, não iriam voltar até dali a duas semanas ou se pedissem para voltar logo. Charlotte passava a mão sob os pêlos macios de Kid, era notável a tristeza dele e ela sentia seu coração apertar ao pensar que a falta do outro talvez fosse ser muito grande. Aqueles dois foram sua constante companhia nos primeiros anos de Harriet e Oliver em que ficou a sós com os dois, uma companhia quase enlouquecedora, mas que encheu a casa de ainda mais amor. Os dois só esperavam que seus filhos estivessem lidando bem com a notícia.

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Harriet sentou-se em cima do telhado da sede do acampamento, abraçava seus joelhos enquanto apoiava o queixo no topo dos mesmos, lágrimas silenciosas caíam por seu rosto, só queria ficar sozinha. Não havia contado para ninguém sobre a perda de Danger, havia crescido com o cachorro caramelo ao seu lado e voltar para casa e não vê-lo mais iria ser difícil. Então, a última coisa que precisava no momento era passar pelos olhares de pena, as perguntas indiscretas e os "sinto muito" sussurrados.

- Achei que você estaria aqui.

A voz calma não tirou sua atenção da floresta escura à sua frente, nunca foi fã de acampar, mas seus pais afirmaram que iria ser ótimo sair de sua zona de conforto, discordou veemente, mas pelo menos conheceu alguém que estava fazendo valer a pena aquele tempo no meio do mato.

- Não quero conversar, Jane. - afirmou, tentando controlar o tremor na voz.

- Eu sei.

A garota falou simplesmente, sentando ao seu lado e estendendo a palma da mão esquerda para cima, Harriet somente apoiou sua mão na dela e entrelaçou seus dedos. Com as cabeças apoiadas em um consolo, a Hart agradeceu pelo silêncio.

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Oliver estava sentado em frente ao lago, Ella se encontrava à sua direita e Nick à sua esquerda, os dois o acompanharam ao acampamento de teatro, mesmo que nenhum deles fosse tão fã quanto o Hart.

- Mamãe sempre fala que ele deitava ao lado do meu berço quando tinha tempestades, deve ser por isso que eu me acalmava sempre quando dormia com ele nas noites mais difíceis.

Contou, a voz em um sussurro embargado. Ella apertou sua mão na dele e esperou que o melhor amigo contasse mais histórias, Nick também as escutava com atenção. Oliver não queria ficar sozinho, tudo o que menos precisava no momento era passar por aquilo sem ter ninguém com quem conversar. O Dunlop havia escapado do seu lado do acampamento, já que era mais velho e dividia o dormitório com outros, Ella conseguiu esconder vários sacos de doces e salgadinhos para os três e então o pequeno grupo iria passar uma boa parte da noite relembrando as histórias especiais de Danger. Oliver agradecia por poder contar com seus amigos, fazia parte de seu próprio trio de ouro.

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Daisy fechou os olhos, inspirou profundamente e sentiu as batidas de seu coração começarem a bater ao ritmo dos trovões, ou poderia ser o contrário, não iria parar para pensar naquilo. Abria e fechava as mãos em punho, o vento frio vinha forte e anunciando uma tempestade, parada em frente à uma janela aberta de seu dormitório, escutava as garotas atrás de si em um sono profundo. Esperou até todos dormirem para finalmente se permitir retirar o máximo da dor que sentia em seu coração, em seus oito anos de vida nunca tinha passado por algo parecido, pelo visto lidava com a morte de uma forma diferente dos outros acontecimentos por quais passou.

Sentia as lágrimas quentes rolaram por seu rosto, o vento ficou mais forte, ouvia as melodias dissincronizadas dos sinos de vento, tentou fazer o que sua professora a ensinava. Se concentrou nas sensações, sentia as pontas dos dedos formigarem em antecipação aos raios, seu coração parecia que iria sair a qualquer momento por sua garganta, focalizou a emoção mais forte e as lágrimas escorreram mais grossas quando enfim escutou o som de um trovão alto seguido de pingos grossos de chuva. Permaneceu no mesmo lugar sentindo várias gotas em seu rosto, os segundos se arrastaram enquanto ela sentia seu corpo ficar mais leve. Parecia que estava sendo descarregada, se sentia menos pesada e agradecia por aquele momento.

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