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Henry e Charlotte se encontravam sentados em um chão frio, com as costas apoiadas na bancada e com um pote de sorvete passando entre suas mãos. Eram duas da manhã e nenhum dos dois conseguia dormir, porém estavam exaustos para fazer outra coisa além de assaltar a geladeira em silêncio.

- Como foi o trabalho ontem? - a voz de Charlotte saiu em um sussurro carinhoso, antes dela encher a boca com sorvete de chocolate com menta.

- Até que foi bom. - terminou de engolir antes de continuar a falar, não era seu sabor favorito, mas era sorvete e ele não recusaria sorvete. - Uma senhora muito fofa foi comprar quarenta dúzias de rosas para pedir seu namorado em casamento e uma criancinha veio pedir flores murchas para um projeto de dia dos namorados.

Os olhos do Hart brilhavam ao contar, vistos pela luz da lua que entrava pela enorme janela da cozinha, Charlotte riu ao ver como o dia do marido havia sido mais do que apenas bom. Essa era a parte favorita do trabalho dele, ajudar a propagar o amor e ela sabia o quão encantado ele ficava a cada venda que vinha com uma história única.

- E o seu dia? - ele indagou curioso.

- Consegui mais cinco bolsas de estudo para a universidade de Swellview e a semana de iniciação científica está pronta para ser posta em ação. - contou orgulhosa, se sentia imensamente feliz por poder ajudar outros jovens a descobrirem seu amor pela ciência da mesma forma que ela.

Charlotte acreditava que havia tido muito sorte em encontrar um cientista maluco que a mostrou a maravilha que era o mundo das criações e invenções mágicas, mas nem todos tinham essa oportunidade e o fato dela poder dar a muitos essa chance era gratificante.

- Fico feliz que esteja tudo dando certo.

- Eu também.

Riu quando sentiu os lábios gelados de Henry beijarem a ponta de seu nariz, o Hart inclinou a cabeça para um beijo calmo que foi recebido com satisfação por ela. Charlotte levou a mão direita a nuca dele, Henry riu ao sentir suaves arranhões das unhas da Hart.

- Temos três crianças dormindo. - ele sussurrou meio ofegante, passando um braço pela cintura dela e a puxando para o seu colo.

- Três crianças que graças aos céus possuem um sono de pedra.

Afirmou, descendo beijos dos lábios dele para o pescoço, escutou com satisfação um gemido controlado de Henry e apertou seu corpo contra o dele sentindo que ainda havia muito espaço entre eles.

- Porra, Oliver.

O resmungo irritado veio acompanhando de um som indignado, Charlotte rapidamente se afastou de Henry enquanto ele possuía uma expressão frustrada. Os dois permaneceram em silêncio esperando por mais sons que vieram rapidamente.

- Tem certeza de que eles não comeram todo o sorvete? - a voz de Oliver veio em um falso sussurro, ele não sabia o que era falar discretamente.

- Se você continuar gritando desse jeito nenhum de nós vai tomar sorvete. - Daisy rebateu no mesmo tom de Harriet, foi possível escutar somente o arquejo descrente de Oliver vindo da sala.

Os dois trocaram um olhar cúmplice e pegaram o sorvete antes de começarem a se mover lentamente e de joelhos para longe do balcão. O plano era ir até a ilha que ficava no meio da cozinha e se esconder à espera deles irem embora, de onde estavam ficariam escondidos enquanto os filhos procuravam o doce na geladeira.

- A mãe e o pai tem um sono leve, se eles souberem que estamos atrás do sorvete vamos ter que escutar um sermão da dona Charlotte.

A voz de Harriet veio autoritária e Charlotte se viu na filha automaticamente, mesmo que estivesse com vontade de se levantar e passar o sermão ali mesmo. O silêncio da noite era quebrado somente pelos passos apressados e sussurros inteligíveis vindos dos três. Os dois adultos permaneceram calados, com as costas coladas na ilha torcendo para não serem vistos, parecia uma loucura ter que se esconder dos filhos, mas os conheciam perfeitamente para imaginarem o drama que iria sair deles caso os descobrissem ali.

- Não tem nada. - Oliver afirmou chateado.

- Eles chegaram primeiro. - Daisy fez coro a indignação do irmão.

Escutaram Harriet soltar uma leve risada antes de afirmar.

- Vamos ter que nos contentar com o bolo.

- Que bolo? - Henry perguntou ao ouvido da esposa, confuso e meio exasperado.

Charlotte o ignorou e focou sua atenção nos filhos, os três soltavam risinhos alegres que foram diminuindo ao passo que eles retornavam para o quarto de um deles. Quando ficaram novamente a sós, ela voltou a saborear o sorvete que já estava se transformando em uma sopa gelada deliciosa, na sua opinião.

- Não deveríamos, sei lá, fazer alguma coisa? - Henry indagou, mas não se moveu um centímetro do lugar.

- Deveríamos. - concordou, virando o rosto para o lado e apoiando o queixo no ombro do marido. - Você quer fazer algo agora?

O Hart pensou por um rápido segundo e negou satisfeito.

- Não, vamos deixar eles. Daqui a pouco amanhece e eu levo os três pra floricultura.

- Eles esqueceram que iriam ajudar você.

- Vai ser um dia maravilhoso.

Charlotte abafou o riso com a mão quando notou o sorriso animado dele, Henry não havia perdido a áurea boba que sempre o colocou em situações imprevisíveis, só esperava que ele não arastasse seus filhos para o que quer que estivesse planejando. Como se os três não procurassem confusão por conta própria.

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