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- Se você for dar um fim em mim, querido, por favor se lembre de todos esses anos juntos.

- Não vou esquecer.

Escutou Henry rir enquanto a guiava sempre em frente. Charlotte estava com os olhos vendados desde que saíram de casa, entraram no carro e chegaram em algum lugar que ela não fazia ideia de onde ficava. Sentia um chão de terra, os raios quentes do sol em sua pele, ouvia o canto de pássaros e um aroma agradável de flores.

- Prontinho. - Henry se colocou atrás dela e retirou a faixa que cobria seus olhos.

Charlotte os fechou assim que a venda foi retirada, a luz do sol era forte e teve que piscar algumas vezes para se acostumar com a claridade. Quando pôde olhar ao redor sentiu seu coração aquecer quando viu onde estava. Seu marido a havia levado para um parque, árvores frondosas rodeavam uma pequena clareira onde uma toalha tinha sido estendida no chão e uma cesta estava a postos.

Virou-se para Henry, que a encarava em expectativa, e praticamente pulou em cima dele quando rodeou seu pescoço com os braços e o beijou profundamente. O Hart havia preparado um momento de sossego para eles, as crianças estavam com a mãe de Charlotte em meio a um castigo por conta de Ilusion, Harriet tinha reclamado muito afirmando que não fazia sentido ficar de castigo já que viajaria no dia seguinte, porém seus pais não ligaram e os três estavam em casa sem poderem sair até segunda ordem. Provavelmente só ficariam mais um dias com vovó Bolton e estariam livres.

- Ok, que bom que gostou. - Henry conseguiu falar após se afastar da esposa, então a abraçou de lado e a guiou para sentar em cima do tecido. - Preparei seus lanches preferidos, sei que você está meio pra baixo esses dias e não tivemos tempo de conversar direito há... muito tempo. - completou após ter feito uma pausa para pensar.

- Não estou triste, não totalmente, só que é difícil não ter mais a minha bebê ao meu lado todos dos dias. - confessou, cruzando as pernas embaixo do corpo e puxando a cesta para olhar o que havia dentro.

- Entendo, também estou tentando me acostumar em não ter a Harriet por perto. É muito estranho.

- Sim! - concordou enérgica. - Eu nunca pensei que chegaria o momento em que teria que mandar algum filho meu para a universidade, parece tão estranho.

- Estamos envelhecendo, meu amor. - disse rindo ao aceitar um sanduíche que ela o oferecia.

- Você está. Ontem de manhã uma senhora veio conversar comigo e disse que eu saberia como era a dor de ter um filho indo embora daqui a muitos anos, falei pra ela que isso estava acontecendo agora e ela não acreditou que eu já tivesse uma filha dessa idade. - contou animada. - Genética poderosa. - amassou os cachos com a mão livre, fazendo uma pose para Henry que riu novamente.

- Ainda temos mais dois.

- Não estou preparada, não entendo como meus pais não choraram quando sai de casa.

- Meu pai passou uma semana chorando quando fui e duas quando foi a vez da Piper. - falou, mordendo alegremente o sanduíche.

- Eu lembro, sua mãe me mandava mensagem quase todos os dias para saber como estávamos e se você não estava dando trabalho.

- Ela mudou bastante.

- Fiquei feliz por isso.

Um silêncio tranquilo caiu entre eles, enquanto comiam sem pressa, os pássaros ao redor cantavam uma melodia afinada, o vento passava entre eles como um sopro e fazia as folhas farfalharem. Os dois sempre amaram estar ao ar livre, por isso haviam escolhido morar em um local mais afastado do centro da cidade onde conseguiram ter uma casa maior com um quintal confortável.

- A Diana me ligou hoje mais cedo.

- Entrou pra outro culto? - perguntou curioso, a escutando rir enquanto negava com a cabeça.

- Ela precisa de ajuda com algo que não quis me contar.

- Não vou mentir e dizer que isso não me assusta.

- E você acha que eu fico como? - indagou com um sorriso. - Será que ela finalmente vai abrir sua própria seita?

- Tem uma diferença, sabe, entre seita e culto. - informou, a vendo encará-lo confusa. - Existe mesmo uma diferença.

- Em questão de conseguir manipular as pessoas eu não vejo tanta diferença.

- Na verdade tem uns detalhes que diferem as duas e nem todas são perigosas.

Começaram então uma conversa sobre os perigos de se entrar em uma organização assim, as histórias mais bizarras que haviam escutado e o fato de sua filha mais nova ter uma grande chance de participar de um desses grupos, na verdade era mais provável ela fundar sua própria seita baseado no que quisesse criar. Os minutos passaram e os dois aproveitaram para conversarem sobre tudo o que queriam, e principalmente matarem um pouco a saudade do outro.

A vida estava corrida e às vezes passavam um dia inteiro sem terem um tempo maior para o outro, porém, por mais que os dias se transformassem em uma correria e as conversas parecessem ser apressadas, sempre teriam a certeza de que se encontrariam ao fim do dia.

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