Programa em Família

276 43 156
                                    

Francis

Ouço alguém chorando no momento em que estou regando as flores, cautelosamente me aproximo e observo Harry sentado ao chão, com os braços entrelaçados no joelho em posição fetal, aquela cena partiu meu coração, ele parecia muito magoado.

— Está tudo bem, senhor Harry?

— Me deixa em paz! — gritou de volta sem me encarar, eu já esperava por aquela reação, óbvio que ele não estaria em bom momento.

— Desculpe. — dou as costas mas ouço me chamar.

— Espera, eu não quis ser grosso. — responde cabisbaixo. — Acabei de saber que meu pai está doente, não tive a intenção.

— Quer que eu prepare um chá pra acalmar?

Harry levanta o olhar e se prende ao meu fixamente, com aqueles olhos avermelhados por conta do choro, ele parecia querer dizer alguma coisa mas ao invés disso ficou em um estado de transe me encarando, o que me deixou sem jeito.

Harry... você ainda vai querer o chá? — pergunto ainda desconsertada pelo efeito do seu par de esmeraldas me fitando.

— Posso fazer uma pergunta?

— Claro. — dou um sorriso amigável.

— Você ama sua família? — sua pergunta me deixa confusa por ser um pouco aleatória mas respondo quase de imediato.

— Sim.

— Faria qualquer coisa por eles? — continuou e não sei onde ele quer chegar com o assunto.

— Sim, faria Harry.

— Eu também. — diz com um sorriso triste. — Saber que ele estar doente e não poder fazer nada, está sendo muito difícil pra mim.

— Eu sei que não é da minha conta e nem quero ser invasiva, mas a certeza que tenho é que não temos o controle de tudo, quando é pra acontecer simplesmente acontece. Você precisa ter esperança e fé de que as coisas vão melhorar. — dou espaço para que ele se sinta seguro para desabafar.

— Por que a vida é assim? Meu pai sempre foi otimista, mesmo com seus defeitos ele foi um ótimo pai, e agora não quero ter que vê-lo sofrer, me colocaria no lugar dele se pudesse. — comenta com os olhos enchendo de água novamente.

Ei, não fique assim. — digo da forma mais doce. — Posso?

Harry sorri genuinamente e confirma com a cabeça, então tenho sua permissão para sentar ao seu lado e abraçá-lo. Nesse breve contato, compartilhando solideriedade percebo o quanto o jovem parecia assustado e preocupado com seu pai. Vê Harry nesse estado querendo tomar a dor dele para si, prova o quanto seu coração é bom.

— Eu sei como se sente, deve estar se questionando o porque a vida está sendo tão cruel, mas a resposta é: a gente nunca está preparado, não adianta questionar, os imprevistos simplesmente surgem sem aviso, então o que nos resta é coragem para sobreviver e não desistir, mas até pra desistir precisa ser corajoso, o que não é o caso do seu pai, certo?

— Sim, mas... — enxugou as lágrimas e prosseguiu. — A pior parte é que sempre sou o último a saber, Henry escondeu isso de mim e até do nosso pai, não é pra menos, sou adotado, sempre vou ser o último.

Servindo com prazerOnde histórias criam vida. Descubra agora