LAURA
Eu nunca acreditei que amores são para uma vida toda, porque nunca senti algo assim. Vivo completamente anestesiada pelas memórias turbulentas de amores que não são mais meus. Ficar sozinha parece mais fácil, mas isso não me impede de ir para cama com quem me interessa, então continuo a deixar a parte de encontrar o amor para o fim da lista.
Talvez fora dela.
As pessoas são complicadas. Eu sou uma delas, achar o amor não seria a coisa mais ideal para alguém como eu. Alguém que ama tanto o trabalho e a liberdade que prefere isso a se compromissar de verdade.
Papai e mamãe odiaram essa escolha, assim como odiaram quando contei sobre qual profissão seguiria. Eu venho de uma família onde os homens são advogados e mandam em tudo, e as mulheres são colocadas apenas para parir e cuidar da casa.
Eles diziam que a definição de uma boa mulher era aquela que cuidava da casa, dos filhos e do marido. Eu poderia ter acreditado facilmente naquelas palavras se não fosse pela minha tia Edelin. Ela era uma mulher aventureira, viajava o mundo e trazia presentes para mim sempre que possível, e claro, se meus pais permitissem sua presença. Na maioria das vezes, nossas conversas eram por cartas, ela dizia que assim tornava as coisas mais divertidas. E realmente eram, eu adorava esperar pelas suas cartas, por saber como era cada país por meio daquelas palavras escritas em letras tão elegantes. Em todas suas cartas, Edelin me aconselhava a seguir meus sonhos, mesmo que eu acabasse sendo chutada pela minha família, e que seria incrível um dia rodar o mundo comigo.
Tia Edelin era oficialmente rejeitada pela família, ela poderia ser considerada a ovelha negra, uma mulher que só tem coragem de ir a lugares e fazer coisas que deseja sem ligar para o que os outros vão pensar.
Foi por seus incentivos que permiti que minha paixão por aviões fosse mais longe sem ligar pela enorme opressão que receberia da família. Quando meus pais receberam a notícia, eu não sabia o tamanho da repercussão que aquilo teria e do grande caos que seria pelos próximos meses.
Jorge, meu querido pai chegou a me trancar no quarto, acreditando que aquilo me faria desistir do meu maior sonho. Ellen, a mulher que me deu a luz, ainda seguia firme em sua própria ideologia onde mulheres deveriam ficar em casa e cuidar de sua família. Mas eu nunca serviria para esse papel.
Não quando tudo o que eu pensava era estar no céu, controlando um grande avião e conhecendo países, mesmo que só uma parte deles.
Sentada no restaurante do hotel, analisei as pessoas que ainda estavam ali. Alguns casais sorriam, provavelmente tirando férias, ou felizes por serem recém-casados, mas o que me interessava mesmo era o homem solitário em uma mesa pouco distante.
Conheci muitos homens bonitos em minhas viagens, mas ele estava em um patamar diferente. Poderia julgar ser o terno caro em tom de cinza-escuro, já que homens de terno sempre conseguiam tirar um pouco do meu foco, mas com certeza ele carregava um charme, o tipo de homem que não buscava por atenção, não se fazia implorar por ela porque entende que só sua presença é capaz de dominar tudo.
Gosto disso. De como ele olha o lugar sem realmente procurar por alguém, de como fala ao telefone com a testa franzida, parecendo tratar de negócios. Cruzo as pernas, admirando a camisa branca por debaixo do paletó que exibe um peitoral forte, o que me traz um leve desejo de saber como é passar meus dedos por ali. Admito ter mordido os lábios ao vê-lo passar a mão na barba rala e depois empurrar o cabelo castanho para trás, sem tirar aqueles olhos azuis do garçom que se aproxima com o seu jantar.
- Você está olhando para ele como se o homem fosse seu jantar.
Ofereci um sorriso a Peter, meu co-piloto e amigo. Pisar em Tokyo a trabalho sempre era muito agradável, mas sair com Peter e festejar mesmo mortos de cansaço era melhor. Amanhã seria nosso voo para casa, e Peter poderia cair na cama, enquanto eu estaria dando boas-vindas às minhas férias.
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Nas Alturas •CONCLUÍDA•
Roman d'amour+ 18 | Quais as chances de encontrar a pessoa certa no casamento dos seus melhores amigos? Laura O'brien sempre teve prazer de ficar nas alturas e observar aviões, por isso, contra tudo o que sua família gostaria, se tornou piloto. O amor ficou nas...