•Capítulo Quartoze•

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Assim que abri a porta do meu antigo apartamento, ouvi o motor do carro de Nicola roncar e depois o barulho alto dos pneus no chão quando ele saiu bruscamente da frente do apartamento

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Assim que abri a porta do meu antigo apartamento, ouvi o motor do carro de Nicola roncar e depois o barulho alto dos pneus no chão quando ele saiu bruscamente da frente do apartamento.

Entrei no mesmo, que estava sujo e  empoeirado, e fechei a porta atrás de mim, deixando aquele fluxo interminável de lágrimas descer pelas minhas bochechas.

Tirei o cabelo do rosto e deixei a minha velha mochila cair no chão, soluçando muito deselegantemente.

Sabia que isso aconteceria, não podia dar certo, eu não me encaixava nos padrões certos para ficar com Nicola — eu não era filha de um criminoso.

Malditamente, odeio a máfia, a toda a  máfia, mais uma vez atrapalhando a minha vida, a minha felicidade. Funguei, olhando melhor o apartamento. Sequer parecia que alguém morava ali, fazia o quê, quase dois meses?

Respirei fundo, tentando ignorar o cheiro pungente de mofo e pó. Tinha que sair dali o quanto antes, não antes que os fodidos mafiosos me achassem, e sim, antes que eu cometesse alguma loucura.

Estava seriamente considerando me arrastar para fora desse apartamento e ir atrás de Nicola, a pé, até o centro de Palermo, e me esgueirar por aquelas vielas até chegar na casa-solo dele.

Um gemido de dor saiu da minha boca enquanto eu me arrastava para o quarto de papai. Pegaria nossas fotos e algumas recordações antes de ir embora e deixar tudo isso para trás. Algumas roupas também.

Empurrei a porta de madeira oca e sorri, olhando a cama desgastada sustentada por tijolos. Passara bons momentos aqui com papai, apesar de tudo, ele sempre cuidou de mim, me contava histórias antes de eu dormir, fazia aquele macarrão ruim quando não tínhamos nada mais para comer. Ele era um bom pai, no fim das contas, mas teve um fim trágico.

Andei até a mesa improvisada na cabeceira da cama e peguei o porta-retrato de madeira, comido por cupins, mas que guardava ali a nossa foto. Papai estava mais jovem, quarenta talvez, e eu tinha menos de dez anos, meus cabelos eram curtos e eu era uma menina magricela, mas feliz, e dava pra perceber isso no meu rosto. Papai sorria, seus lindos olhos azuis, já quase tomados por cataratas, — mesmo na flor da idade, — e seu sorriso largo de dentes amarelados por causa do cigarro.

Estávamos em uma das praias rochosas perto do mar que banha a  Sicília, as ondas espumosas ao fundo, o céu azul claro. Papai me abraçava contra o lado dele, vestia uma camisa branca com uma estampa de prancha de surf na frente, uma bermuda surfista marrom, e eu usava um vestidinho claro e desgastado, era o meu vestido preferido, me lembrava bem dele.

— Oh papai. — exclamei, fungando. — Por que o senhor foi se meter com essa gente?

Sorri tristemente, olhando o rosto sorridente de papai.

Queria lhe fazer um enterro decente, mas Nicola me disse na noite passada, durante uma pausa do sexo fantástico, que já tinham enterrado o corpo e que ele não estava em bom estado.

Atração Proibida | Série "Donos da máfia" | Livro 4 Onde histórias criam vida. Descubra agora