Diferentemente da última vez que Rafaella esteve ali com Mari, dessa vez não havia ido apenas as duas. Era sobre um assunto formal, então levou vinte membros da cavalaria consigo. Trombetas anunciaram sua chegada e ela desceu de seu cavalo favorito, sem precisar tocar a porta, pois já haviam ouvido o anúncio de sua chegada.
O senhor Andrade apenas acenou para que ela entrasse em sua casa e assim ela o fez. Como manda a tradição, todos os guardas da cavalaria esperaram do lado de fora, inclusive Mariana, que era da infantaria.
— Bom dia senhor Andrade.
— Bom dia! — o homem disse cabisbaixo.
— Venho por meio desta visita, lhe informar minhas intenções com o senhor. — Ela começou. — Primeiro, quero lhe ajudar a pagar a dívida de sua casa e quando tiver você pode me devolver, não tenho pressa quanto ao retorno do dinheiro. — Ele a olhou com a expressão chocada e surpresa.
— Eu não tenho palavras para lhe agradecer, mademoiselle. Em breve sua noiva...
— Não tenho noiva.
— Quis dizer, sua futura noiva. — Se corrigiu.
— Vim apenas para dizer que não quero a mão de sua filha, senhor. Quero a felicidade da moça, seja quem ela for. Quero que ela tenha o livre árbitro de escolher quem quer que seja para ser feliz. Apenas isso peço em troca a minha ajuda. — O homem a olhou pasmo, lágrimas de alegria surgia em seus olhos. Era certo que não queria fazer negócios em relação a felicidade de Bianca e só havia aceitado para o bem da própria moça, pois ficariam sem teto. Se fosse apenas por ele jamais aceitaria a sugestão de Mônica.
— O-Obrigado. Muito obrigado. — Pediu emocionado. Rafaella sorriu ao ver o alívio nos olhos do homem.
— Papai... — A garota começou, mas quando viu que o senhor tinha visita se encolheu e abaixou a vista. — Perdão. — Pediu baixo. Os olhos de Rafaella se arregalaram ao perceber que a garota com quem sugeriram casamento era a mesma por qual ela morria de amores.
— Bianca? — Perguntou. Os olhos castanhos se engueram e Rafaella não pode deixar de notar a expressão de surpresa no rosto da garota.
— Rafaella. — Respondeu fazendo uma referência. Não podia negar que havia ficado aliviada por sua futura esposa ser alguém que pelo menos ela conhecia, mesmo que houvesse a conhecido apenas na noite anterior. Os fatos não mudavam seus sentimentos, ela ainda era apaixonada por Diogo.
" Rafaella é a comandante. Como eu não sabia disso?" Pensou. "Ela tem interesse por mim" Pensou surpresa. " Por isso foi atenciosa comigo ontem, porque queria a minha mão."
— Hm.., se conhecem? — Senhor Andrade perguntou confuso e Rafaella sorriu.
— Sim.
— Será que poderia falar com a senhorita por um instante? — A voz de Mônica se fez presente e Rafaella tentou segurar a careta ao lembrar do que a mulher havia falado sobre ela, no entanto também reconheceu o rosto dela de todas as vezes que viu Bianca em sua barraca.
— Claro. — Rafaella falou educadamente e todos os outros se retiraram da sala. Bianca mandou um tchau em forma de aceno e Rafaella se derreteu novamente pela forma doce da garota. — Sobre o que gostaria de conversar?
— Sobre o noivado. — Mônica disse. Ela não era boba e já havia reparado como Rafaella sempre passava pelo povoado e ficava admirando Bianca.
— Não tem noivado. — Rafaella disse. Apesar de obviamente desejar se casar com Bianca, jamais a obrigaria por um contrato.
— Não seja tola, criança. É nítido tamanho interesse de sua parte para com minha filha e posso dizer o mesmo dela.
— Bianca tem interesse por m-mim? — Perguntou surpresa.
— Claro! Por que acha que ofereci sua mão à você? Que mãe, em să consciência, ofereceria a mão de sua filha à uma lésbica? Ela faltou me implorar. — Mentiu. — Ela te via a analisando durante todo esse tempo pelo povoado e ficou extremamente encantada, mas minha filha é tímida e então me pediu para que falasse com você.
— Eu...
— Eu devo admitir que não gosto desse tipo de tratamento pecaminoso entre duas mulheres, mas minha filha fala de você com tanta pureza que passei a ver com outros olhos tudo isso. — Rafaella estava chocada. Feliz, mas chocada.
— Será que poderia falar com ela? — Rafaella pediu. — Digo, não é que eu não acredite na senhora, mas se trata de um casamento. Para mim é realmente importante ter o consentimento dela. — Mônica sorriu vitoriosa.
— Antes de falar com ela tenho algumas condições. — Rafaella assentiu, deixando a mulher continuar. — Quero um casamento rápido, nada de ficar enrolando minha filha. Não quero que ela fique mal falada.
— Mas preciso conhecê-la. Digo, se casar às pressas soa meio desesperador.
— Essa é minha condição. Se não quiser existem outros pretendentes que se casariam com ela rapidamente sem ao menos pestanejar. — Rafaella franziu os olhos.
— Falei com seu marido. Se Bianca não quiser nada comigo eu não terei preocupações, porque disse a ele que emprestaria dinheiro a ele com a condição de deixar Bianca escolher com quem quer se casar.
— Posso claramente recusar sua proposta e fazer ela se casar com alguém de família rica, quem arcaria com nossa dívida. — Rafaella trincou o maxilar ao pensar que Bianca poderia se casar com alguém que a pudesse fazer infeliz ou machucá-la. Os homens nobres tinham essa ridícula mania de bater em suas mulheres quando elas lhe negavam algo.
— Pois bem. Deixe-me falar com ela. — Rafaella pediu e Mônica assentiu, se retirando para ir atrás da filha.
— Não faça besteiras. Lembre-se de que, se não for ela, será alguém bem pior. — Esse foi o sussurro de Mônica no ouvido de sua filha quando fingiu lhe dar um beijo no rosto. Bianca suspirou e adentrou a sala.
— Me disseram que você gostaria de me ver. — Bianca disse brandamente.
— Está melhor? Lembro-me que chorava.
— Foi algo passageiro, estou bem. — Mentiu. Rafaella assentiu, limpando a garganta antes de voltar a tomar a palavra.
— Sua mãe disse que você, hm, quer mesmo se casar comigo. — Disse sem graça. Bianca tentou evitar a careta, mas Rafaella percebeu.
— Sim. Foi tudo o que disse.
— Não precisa mentir, Bianca. — Disse vendo a falta de empolgação na menor.
— Eu quero mesmo, juro que quero. Por favor, acredite. — Disse, se lembrando de que, caso não se casasse com Rafaella, seu pai daria sua mão à um velho nojento qualquer. Rafaella se aproximou, tocando sua mão.
— Sente algo, hm, positivo em relação a mim? Não quero que faça algo por pressão. Você é preciosa demais para ser obrigada a se casar com alguém.
— Minha mãe vai me fazer casar com alguém estúpido e idiota, então por favor, casa-se comigo. -- Pediu em meio ao choro que havia finalmente se mostrado. Sentiu-se segura para revelar a verdade após horas de conversas na noite anterior.
— Bianca... - Não pôde terminar sua frase, pois o corpo pequeno se pendurou em seu pescoço, em um abraço estrambelhado.
— Eu prometo ser uma boa esposa, fazer tudo o que você quiser, te satisfazer e te acatar, prometo ser obediente e fiel, eu prometo ser tudo e muito mais, mas por favor, por favor, Rafaella, não deixa eu me casar com nenhum velho sujo e imundo, eu te imploro. — Soluços tomaram conta da sala e Rafaella apenas acariciou os cabelos da garota.
— Como você poderia casar com algum velho sujo e imundo sendo que será minha esposa? — Bianca soltou de seu abraço e a olhou surpresa.
— Então quer dizer... Quer dizer que...
— Que agora preciso ir à uma joalheria comprar o anel mais bonito de lá para pedir a mão de uma linda moça para seus pais. — Bianca sorriu. Claro que ela não queria se casar com Rafaella, mas entre os males, preferiu o menor. Sabia que, ao menos, Rafaella a fazia sorrir e era gentil. Não conseguia imaginar a mulher lhe batendo. — Em uma hora eu volto, me espera. — E deixando um beijo na testa da garota se retirou do ambiente.
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Over The Rainbow - Rabia
Hayran KurguOver The Rainbow é uma história romântica que se passa no século XX. A protagonista Bianca, contrariando as regras da aristocracia a que pertence, se apaixona por Diogo Melim, um camponês da classe baixa, mas sua mãe, Mônica, deseja que a filha conq...