Prólogo

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"As maiores decepções são geradas pelas pessoas que mais amamos."
Augusto Cury

— Mãe? Está indo viajar? — Era uma da manhã. Mariana havia saído da cama para tomar um copo d'água, então aproveitou para passar no quarto da irmã. Sempre vigiava a bebê quando perdia o sono durante a noite. Ficou extremamente feliz quando soube que teria uma irmã e, desde que Liz havia chegado ao mundo, ganhou mais que uma irmã, uma verdadeira amiga e protetora.

Tudo aconteceu como de costume: tomou sua água, foi ao banheiro e observou a bebê, que dormia serenamente no berço que o pai — marceneiro — havia feito, porém, naquela noite, se deparou com a mãe saindo sem fazer barulho, carregando apenas uma mala em seu ombro.

A mulher fechou a porta da sala e foi até onde a filha estava, se abaixando até estar à sua altura.

Eu preciso ir, mas logo voltarei para buscá-las. — Passou a mão em seus cabelos escuros. — Pode tomar conta de sua irmã enquanto eu estiver fora?

Você vai demorar? — Olhou para a mala que a mãe havia depositado no tapete velho. — O papai também vai?

Não, apenas eu. — Beijou seus cabelos. — Será apenas por um tempo, está bem? Eu prometo voltar para buscar vocês. — Se levantou e voltou a ajeitar a mala no ombro. — Não acorde seu pai. Ele está cansado, trabalhou demais essa semana. Volte para a sua cama e seja forte para ajudá-lo a tomar conta de Liz. Me promete?

Você está nos deixando? — Sua voz tremeu e lágrimas se juntaram em seus olhos quando viu as lágrimas formarem poças nos olhos castanhos de sua mãe.

Apenas por um tempo, Mari. Pense que estou em uma viagem e logo retornarei. — Passou uma das mãos em seu rosto para enxugar as lágrimas que haviam descido. — Seja uma boa menina e volte para a cama. Quando menos esperar, voltará a me ver.

Promete?

Prometo.

— Abra os olhos, Mariana. — A voz de sua terapeuta a trouxe de volta de suas lembranças. Seu coração estava acelerado, a dor era tão grande, ou maior, quanto no dia que havia se dado conta de que havia sido deixada para trás. O sentimento de perda, abandono e desamparo, se misturava com a mágoa e a ira.

— Eu não consigo perdoar o que ela me fez. — Se levantou do divã, irritada, ferida, e apanhou sua bolsa. — Eu não a perdoo por ter me deixado! — Saiu do consultório sem olhar para trás, pouco se importando se havia alguns minutos até o fim da sessão.

Estava se sentindo sufocada naquela sala. As lembranças desencadearam lágrimas que há muito ela reprimia, reabrindo feridas que acreditava estar cicatrizadas, mas que na verdade, só estavam bem-maquiadas.

"Eu não a perdoo... Eu não a perdoo!"

Mais Do Que Sonhei [Desejos Ardentes - Livro Dois]Onde histórias criam vida. Descubra agora