Capítulo 8

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"Como faz para organizar a vida se estou no meio de um furacão? Eu espero o furacão passar? Eu luto contra ele? Não sei. Estou cansado."
Pedro Salomão - Eu tenho sérios poemas mentais

Com o passar das semanas, Mariana focou em levar sua vida como sempre fez, evitando os pensamentos que a levavam até Davi. Ele tentou contatá-las, mas a mulher estava irredutível.

Certo dia, enquanto deixava seu quarto, viu Liz entrando com os olhos inchados e vermelhos, então a questionou, mesmo suspeitando do que se tratava.

— Eu sou uma idiota! — Mariana a abraçou quando ela voltou a chorar.

— Contou a ele? — Liz fungou e se afastou.

Contou a ela tudo o que havia acontecido. A confusão que havia armado por acreditar que havia transado com Davi, a discussão que tiveram e o flagra de Miguel ouvindo parte da conversa entre os dois.

Sem lhe dar uma chance de se explicar, o homem rompeu o que tinham, e Liz ficou devastada.

Mariana teria odiado a atitude do homem em outras circunstâncias, mas o entendia. Não era fácil engolir uma notícia como aquela. Se para ela, que não havia dado além de um beijo em Davi, já foi frustrante, podia imaginar como Miguel estava se sentindo.

No fim, tudo não havia passado de uma confusão que Liz havia feito. Davi a procurou pouco depois e tudo foi esclarecido, mas Miguel estava se sentindo traído e não queria ouvir suas explicações.

— Me desculpe, Mari — murmurou após um tempo.

— Por que está se desculpando comigo?

— Porque fiz você se afastar de Davi.

— Não estava acontecendo nada entre nós, Liz. Mantínhamos contato, Davi tentava ir além, mas isso é tudo. Se me irritei quando me contou tudo a primeira vez, foi por não acreditar em tamanha canalhice da parte dele, que estava correndo atrás de uma irmã enquanto transava com a outra. — Suspirou. — De qualquer forma, tudo vai se resolver, não precisa se desesperar. Miguel foi pego de surpresa, mas se realmente gosta de você, virá atrás para ouvir sua explicação.

— E se ele não vier? — Enxugou os olhos. — Eu realmente gosto dele, Mari. Estávamos tão bem que não queria que tudo chegasse ao fim. Eu... Eu me apaixonei — disse chorosa.

— Vai ficar tudo bem, meu amor. — A puxou para mais um abraço, embalando a irmã como fizera tantas vezes na vida. Mais uma vez colocou seus problemas de lado para amparar a irmã. Não se sentia mal por fazer aquilo. Adorava ser o porto seguro de Liz, mesmo que isso tivesse lhe custado uma infância normal. Havia ficado responsável por ela, e desde então, prometeu que a protegeria do que quer que fosse para que a mais nova tivesse a vida que ela não pôde ter.

Se sacrificou para que Liz não sentisse falta de uma figura materna nem carregasse tantas tristezas e traumas como ela carregava, e se sentia bem por saber que havia conseguido alcançar seu objetivo. Ela vivia bem, e essa era mais uma razão para manter suas dores e feridas escondidas. Não queria que se sentisse culpada pelas merdas que carregava consigo. Liz era apenas um bebê quando tudo aconteceu, se havia uma culpada por suas cicatrizes, essa era sua mãe. Apenas ela.

Após os esclarecimentos, esperou que Davi fosse tentar entrar em contato novamente, mas não aconteceu.

Não tentou falar com ela na semana seguinte, nem no mês seguinte, nem nos próximos que se seguiram.

Também não entrou em contato com ele. O que diria, afinal? Não tiveram nada, apesar da química indiscutível, então deixou que ele seguisse seu caminho enquanto ela seguia o dela.

Mais Do Que Sonhei [Desejos Ardentes - Livro Dois]Onde histórias criam vida. Descubra agora