Capítulo 9

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"Sempre há um motivo
Para não se sentir bem o suficiente
E isso é difícil no fim do dia
Eu preciso de alguma distração
Oh, bela libertação
Lembranças vazam de minhas veias
Deixando-me vazia
Oh, e leve, e talvez
Eu encontre alguma paz esta noite."
Angel - Sarah McLachlan

— Aonde você vai?

— Você decide, meu doce. — Davi sorriu. — Entra, Mariana. Vou levá-la ao paraíso — provocou.

Como queria ficar longe de casa e não tinha intimidade com mais ninguém, aceitou o convite de Davi e o acompanhou, deixando que o homem a levasse para qualquer lugar.

Conforme o tempo passava e os dois se distanciavam de Riacho dos Pardais, a razão foi voltando, deixando Mariana um tanto desconfortável por seu descuido.

Havia saído sem celular, sem bolsa, carteira e documentos. Não que desconfiasse que Davi fosse tentar lhe fazer algum mal, mas que pessoa em sã consciência sai de casa com apenas a roupa do corpo? Além disso, seu estado era de dar medo. As lágrimas haviam borrado o lápis e a máscara de cílios; os cabelos estavam desalinhados.

— Aonde estamos indo? — perguntou após um bom tempo de viagem em silêncio.

— Vou levá-la a um lugar que costumo ir quando quero ficar sozinho.

— Davi, eu estou apenas com a roupa do corpo.

— Pode tirá-la se quiser — disse com um pequeno sorriso. — Não vou me incomodar.

— Estou falando sério. Não trouxe nem mesmo meu celular.

— Não vai precisar dele. — Ao alcançarem um determinado ponto na estrada, Davi sinalizou e virou à esquerda. O problema era que não havia nada por ali, apenas mato e árvores. Olhou de soslaio para Mariana e sorriu ao ver sua apreensão. — Você precisa relaxar um pouco, Mariana. Não pretendo matá-la e desovar o corpo em um matagal.

— Uma piada péssima em um momento péssimo. — Ele riu, continuando a adentrar cada vez mais ao mataréu, até que as árvores começaram a desaparecer, e uma campina surgiu aos olhos de Mariana.

Davi desligou o veículo e encarou a mulher ao seu lado.

— Quais são suas últimas palavras? — provocou, mas Mariana não deu atenção às suas palavras.

— Que lugar é esse? — Não havia nada ao redor, estavam em um fim de mundo. A grama era baixa e estava amarelada, quase seca, e era a única coisa que podiam ver, além do céu. Não havia flores, árvores, lago... Nada! Apenas um lugar isolado do restante do mundo, ainda assim, parecia muito acolhedor.

— Achei por acaso, em uma das minhas aventuras. Estava andando sem rumo e pensei "por que não entrar nesse matagal?" O que podia dar errado, afinal? — Mariana o encarou ao notar o tom de ironia e o viu com um sorriso de canto. — Quer descer?

— Será que tem cobras aqui? — Ele negou com a cabeça.

— Apenas uma, mas está contida. — Indicou sua virilha quando ela franziu as sobrancelhas.

— Às vezes você é tão desnecessário. — Davi gargalhou ao abrir sua porta, então Mariana fez o mesmo, se aproximando dele. — O que você faz aqui?

— Nada. — A encarou e contorceu os lábios. — Espere aqui. — Voltou ao interior do carro e apanhou uma garrafinha de água que havia deixado no porta-luvas. — Não tenho algodão — disse ao voltar para perto dela, já levando as mãos à barra de sua camiseta para se livrar da peça de roupa. Mariana o encarou sem entender, vendo-o molhar parte da camiseta com a água da garrafa.

Mais Do Que Sonhei [Desejos Ardentes - Livro Dois]Onde histórias criam vida. Descubra agora