Capítulo 7

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"Há crianças feridas escondidas em adultos 'difíceis'."
Autor desconhecido

Os dias passaram depressa. Mariana e Davi trocavam algumas mensagens, mas não voltaram a se encontrar. O tempo dela era dedicado à filha, quando não estava em algum trabalho, e essa era mais uma das razões para ainda se manter sozinha. Tentou alguns relacionamentos após sua separação, mas nenhum deles parecia entender que, acima de qualquer coisa, era mãe. Não aceitavam que para ela, Tessália vinha sempre em primeiro lugar, então decidiu deixar de tentar.

Claro, essa era a justificativa que dava a si mesma para não admitir que sua terapeuta tinha razão.

— E o garoto? — Lucas chamou sua atenção enquanto se dirigiam à casa dela.

— Quem?

— O Mágico de Oz. — Ela sorriu.

— Temos nos falado por mensagens, mas é apenas isso. — Deu de ombros.

— Não é apenas isso. — Desviou a atenção do caminho rapidamente para poder olhá-la. — Você está interessada.

— É evidente. — Não fez questão de mentir. Lucas a conhecia bem o bastante, além disso, era a única pessoa, além de sua terapeuta, com quem conseguia ser cem por cento sincera. — Está me julgando?

— Já fiz isso alguma vez? —Ela se remexeu desconfortável. — Você precisa relaxar mais, Mariana. A vida é feita de momentos, e você precisa aprender a vivê-los.

— Eu vivo. Não me privo das minhas diversões, sabe muito bem disso.

— E por que é diferente com ele? Por que consegue transar numa boa com outros caras, mas fica toda hesitante quando se trata dele?

— É apenas um garoto.

— É um homem, Mariana! Mais jovem que você, mas ainda assim é um homem. Um homem que, pelo que você mesma me disse, desperta sensações que você não sentia há muito tempo, se é que já sentiu alguma vez. É esse o seu medo?

— Eu não tenho medo! — disse com um tom levemente irritadiço, o que o fez rir sem emoção. — Eu só não sei como me sinto com relação a isso. Tenho receio devido a nossa diferença de idade, mas também não posso negar a atração que sinto, entretanto, ao mesmo tempo que cogito a possibilidade, tenho vontade de esganá-lo por suas grosserias e brincadeiras inapropriadas.

— Ele testa seus limites.

— O tempo todo!

— É uma coisa boa. — Ela o encarou, mas Lucas manteve seu olhar fixo ao caminho. — Ele tira você da sua zona de conforto. — Dobrou a esquina de sua casa e estacionou. — Mari, somos amigos, então há certa liberdade entre nós, certo? — Ela assentiu. — Então não vai se importar em ouvir a verdade?

— Do que está falando?

— Sua vida é um tédio, Mariana! — A mulher arqueou as sobrancelhas. — Você não sai, a menos que tenha um ensaio, não deixa ninguém se aproximar, não tem amigos!

— Tenho você.

— E só! Deus, Mari, será que não vê? Você tem tanto medo de...

— Eu não tenho medo! — Irritou-se. Lucas fechou os olhos e respirou profundamente.

— O que eu quero dizer, é que você tem apenas trinta e quatro anos, mas vive como se estivesse na terceira idade. Sua vida é cinza. Você está sempre fazendo as mesmas coisas, rodeada pelas mesmas pessoas, como se estivesse no automático. Você não se arrisca, Mariana! Não se aventura! Me diga: qual foi a maior loucura que já cometeu na vida? — Ela ficou em silêncio. — Nenhuma. Você tem trinta e quatro anos e nenhuma história para contar.

Mais Do Que Sonhei [Desejos Ardentes - Livro Dois]Onde histórias criam vida. Descubra agora