Capítulo 22

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"Nós nunca descobriremos o que vem depois da escolha, se não tomarmos uma decisão. Por isso, entenda os seus medos, mas jamais deixe que eles sufoquem os seus sonhos."
Alice no País das Maravilhas

*Mariana: Preciso conversar.*

A mensagem curta e objetiva resultou em uma chamada de vídeo no mesmo instante.

— Não precisava ser agora, posso esperar até que...

— Tenho um momento livre — disse Helena, ajeitando os óculos em seu rosto. — Aconteceu alguma coisa?  — Mariana mordeu o lábio e desviou o olhar, sem conseguir encará-la.

— Tantas coisas — murmurou, buscando em sua memória o início de toda aquela confusão. — Descobri que tenho um irmão. — A encarou novamente. — Era ele quem estava insistindo para que eu fosse a modelo a vir para cá. Foi tudo armado desde o início.

— Então não há um contrato?

— Eu já nem sei o que pensar sobre isso. — Suspirou. — Fiz as fotos, assinamos o contrato, mas agora, com essa descoberta, não sei mais o que é verdade e o que não é, mas Lucas vai cuidar de tudo, eu estou sem cabeça para isso no momento.

— Então não é sobre isso que quer falar? — Ela negou com a cabeça, e Helena esperou pacientemente até que estivesse pronta para começar.

— Junto com meu irmão, veio Marisa.

— Sua mãe? — Ela não concordou, nem sequer com a cabeça, mas a terapeuta já havia escutado aquele nome muitas vezes durante as sessões. — Como foi o reencontro.

— Terrível. Brigamos, eu disse muito do que estava entalado em minha garganta, ela fez uma cena ridícula tentando me convencer de que estava arrependida... Na verdade, nem sequer foi assim. Ela não disse ter se arrependido, teve a audácia de dizer que o que fez foi por nós. — Riu sem emoção. — Dá para acreditar? Ela nos abandonou pensando em nós. — Passou uma mão sobre a boca. — É como dizer "vou te bater porque te amo." — Fez uma breve pausa, suspirando pesadamente.

— Como foi quando a viu pela primeira vez, Mariana? Como se sentiu?

— Tive uma crise — sussurrou, pendendo a cabeça.

— Olhe para mim. Preciso que mantenha ao menos o contato visual, já que não estamos no mesmo ambiente — pediu gentilmente, e ela atendeu. — Prossiga.

— Não há o que dizer. Você sabe como isso funciona. A falta de ar, a sensação aterrorizante de medo, o coração acelerado, a dor no peito, o descontrole.

— Já conversamos sobre isso. Você não precisa se envergonhar quando tiver uma crise. — Ela assentiu.

— Deixei o quarto às pressas, me sentindo claustrofóbica, e enquanto corria pelas ruas, sem saber para onde ir, acabei encontrando Davi. — Ao notar a interrogação nos olhos da terapeuta, Mariana explicou que o rapaz estava ali devido ao trabalho. — Enfim, ele me ajudou naquele momento. Tentou me tranquilizar, mesmo sem saber ao certo o que estava fazendo, mas só a presença dele me ajudou muito. Foi uma boa distração, além de uma ótima companhia.

— Isso é bom. — Ela assentiu.

— Depois eu me deixei levar. Ele propôs me mostrar o outro lado da vida, um lado mais descontraído, sem preocupações. — Sorriu pequenino. — Fomos a uma praia nudista no meio do dia, e à noite ele me levou a uma boate. Saímos de lá às seis da manhã, quando já estavam fechando tudo. Depois caminhamos um pouco pela praia e então voltamos ao hotel em que ele está hospedado e apagamos na cama.

Mais Do Que Sonhei [Desejos Ardentes - Livro Dois]Onde histórias criam vida. Descubra agora