Dissoluto - Para Sempre (livro 2 ) - Série The Underwood's

Capítulo Um

Savi

Estou na merda. Três meses se passaram e me sinto como um rato imundo. Impotente. Quase sem esperança. Esses foram, de longe, os piores três meses de toda a minha maldita vida. Nem quando pensei ter abusado daquela garota, eu me senti tão perturbado e desesperado assim.

Ethan já não sabe mais o que faz comigo. Passa quase todos os finais de semana tentando me arrastar para os lugares, isso sem falar em suas visitas quase sufocantes. Tive vontade de lhe socar a cara algumas dezenas de vezes, mas não o fiz; ele é meu irmão e está se esforçando para me fazer sorrir. Uma tarefa nada fácil.

Nesses três meses infernais, tentei contato com Millicent milhares de vezes. Todas foram em vão. Um fracasso. O pai dela acha melhor me manter afastado durante o processo de recuperação da filha.

Acontece que minha doce menina não se lembra dos acontecimentos dos últimos meses; todos os nossos momentos foram cruelmente apagados de sua memória. Tirando sua família, ela lembra apenas de Ethan, pois conviveu com ele bem antes de sonhar em me conhecer. Isso me deixa desesperado, pois até meu irmão conseguiu visitá-la, menos eu, seu namorado rebelde e tatuado, o homem que o pai de Millie não aprova.

Conversei algumas vezes pelo telefone com a mãe de Millicent. Assim como a filha, ela é doce e gentil, minha garota teve a quem puxar. Porém, mesmo gostando de mim e, de certa forma, até apoiando nosso relacionamento, ela decidiu acatar as ordens do marido em me proibir de visitar a mulher que eu amo.

Não sei mais o que faço. Vou enlouquecer.

Enquanto sigo me afundando em pensamentos, ao fundo, escuto batidas à porta. É Ethan. Ele mandou uma mensagem avisando que viria hoje, e só Deus sabe o quanto estou me esforçando para não perder a linha.

Levanto-me lentamente do sofá, e uma leve pontada atinge minha cabeça. Passo os dedos sobre a testa e respiro fundo. Dessa vez tentarei sorrir para meu irmão, não aguento mais ouvir Ethan pedindo que eu sorria e siga em frente, dizendo que tudo isso logo vai passar.

Caminho em direção à porta e abro-a bruscamente. Meus olhos arregalam de surpresa ao ver que é Eva quem está aqui.

— Savi! Que cheiro de cigarro e uísque está aqui... — Faz careta e me beija no rosto rapidamente.

— Oi para você também — resmungo ao fechar a porta assim que ela entra.

— Olha, meu amigo, sei que tudo o que está passando é terrível, mas tomar banho às vezes faz bem. — Abre um sorriso irônico enquanto eu continuo sério.

— Haha, que engraçado — digo ao me servir de mais uma dose de uísque.

— Ei, eu estava brincando.

Eva também fica séria e senta em um dos sofás. Apoia os antebraços sobre os joelhos e entrelaça os dedos das mãos. Sento-me no outro sofá e faço um gesto oferecendo o uísque, mas ela nega. Assim que acendo um cigarro, minha amiga me encara com um olhar de reprovação.

— Eu já te disse que essa porcaria vai acabar te matando? — pergunta um pouco irritada.

— Inúmeras vezes — respondo enquanto dou a primeira tragada.

— Achei que você estava parando de fumar.

— E estou — confirmo, e Eva me olha incrédula. — Mas, no momento, não há nada que me acalme mais do que fumar e encher a cara.

— Savi, olha...

Antes que ela termine de falar, fico em pé, interrompendo-a; sinto a raiva crescer dentro de mim.