CRUEL SUMMER | Min Yoongi

26. trust

YOON-GI

- Hoseok... - o nome do meu amigo escapa por entre meus lábios em um breve suspiro de constatação da sua real presença ali. Hoseok nos observa com um misto de confusão e não preciso ir além na minha interpretação para saber que seus olhos exigem uma explicação, como meu melhor amigo. Ainda assim, sou levado a questionar primeiro: - O que faz aqui? 

Ele pisca os olhos como se saísse de uma espécie de transe, coça a nuca e bagunça sutilmente seus cabelos, parece consternado com a indagação.

- E-Eu o vi quando estava vindo para cá. O chamei várias vezes, mas você aparentemente não me ouviu - explica.

- Então decidiu me seguir? - franzo as sobrancelhas. Saber que Hoseok nos descobriu por causa de sua curiosidade deixa uma série de sensações intrigantes presas em meu estômago.

- Não! - prontamente responde e aponta para um lugar qualquer atrás de si, um canto vazio daquele corredor. - A Hana me pediu para trazê-la até aqui, antes de ir para nossa casa ela quis visitar sua avó materna e deixar flores. 

Minhas expressões duras vão perdendo força. Não posso culpar alguém por coincidentemente me encontrar na rua. Sei bem que sempre existe esse risco e não estou imune a isto.

- Foi pura coincidência eu ter te encontrado na rua - continua, como se não tivesse sido claro o suficiente da primeira vez. - Pensei que poderíamos sair depois de você resolver o que parecia ser tão urgente. Não pensei que você acabaria aqui também e... assim.

Não demora muito para ele tentar incluir a Yura na conversa e esclarecer as mil dúvidas que circundam sua mente. Hoseok aponta para nós três, mas seus olhos se perdem mesmo entre o bebê em meus braços e a minha irmã, que parece ter perdido mais a cor do rosto só pela possibilidade de lidar com mais um problema.

Entendo que Hoseok não precisa ser mais explícito nas suas intenções para eu me pronunciar. 

Abro a boca várias vezes, mas sempre acabo a fechando e engolindo as frases incompletas.

O que devo dizer?

A resposta deveria ser fácil, afinal Hoseok é o meu melhor amigo de longa data, mas não me sinto na posição de tomar a frente e decidir isso sozinho e ir contra o que já tinha falado.

Desvio minha atenção para Yura quando o silêncio se torna excruciante. Não sei se estamos sintonizados a ponto de entendermos o que o outro quer dizer apenas pelo olhar, mas eu posso garantir que meus olhos pedem - não, suplicam - pela verdade. Talvez não em sua forma completa e mais detalhada, porém apenas um breve vislumbre de toda complexidade em que os erros do meu pai nos meteu; apenas a ponta do iceberg.

Claramente percebo que ela compreende o meu olhar e o pedido implícito nele, pois sua reação instantânea é de pura negação.

"Nos mantenha longe de mais drama; longe da sua família e quaisquer pessoas que façam parte do seu ciclo de amigos", quase consigo ouvir sua voz cética dizendo esse discurso repetidas vezes e acabando com minhas esperanças.

Com essa resposta imediata - que eu com certeza tentaria contornar depois de termos uma conversa séria e particular -, eu tento pensar em algo plausível para sair daquela situação.

O que poderia explicar a cena diante dos seus olhos?

Talvez...

Como se uma lâmpada acendesse em cima da minha cabeça, eu sei exatamente o que dizer.

Uma amiga distante que estou ajudando. Uma amiga que veio de muito longe para minha cidade. Sim, isso deve servir. Se eu soar convincente, até mesmo o Hoseok não irá notar o meu estado de nervosismo.