CRUEL SUMMER | Min Yoongi

35. that day

35. that day

O afago em minhas costas parou, embora sua mão ainda permaneça ali, hesitante. Não preciso olhar nos olhos dele para saber que a indagação e incerteza paira em suas feições, em seu olhar acima de tudo, o quão ansioso deve estar sob aquelas camadas de calmaria e placidez.

Yoon-gi sempre foi o tipo de pessoa que demonstra seu interior como um livro aberto através do olhar, além das poucas atitudes que demonstram o quanto ele se importa. É de uma forma tão intensa que acredito que as pessoas que o rotulam como uma pessoa tipicamente indiferente sequer tomaram um pouco do seu tempo para tentar interpretá-lo.

É por ele ser quem é que eu sei que ele aguardará o tempo que eu julgar necessário para retomar a minha fala, sem exigências ou ataque de sentimentos irregulares, como uma explosão de fogos de artifício, sem direção aparente.

Para o alívio de seu autocontrole, não demoro muito a preencher o silêncio com minha voz novamente.

- Foi no dia da minha formatura, sete anos atrás - começo, olhando para minhas mãos repousadas em meu colo. A postura muito mais receptível do que antes. - Bom, pelo menos foi a primeira vez em que eu ouvi algo sobre a situação. A Yura apareceu por lá no final da tarde, estava me esperando na saída da cerimônia que havia ocorrido na quadra esportiva, algo simples e típico.

Estou claramente nervosa, meus dedos são massacrados pela forma como os aperto, deixando os nós brancos sob a pele fina.

Inclino o corpo um pouco para o seu lado e sussurro:

- Se você ainda falar com ela, por favor, peça desculpas por eu ter jogado meu buquê de flores nela.

- Eunnie, foco - Yoon-gi pede. Visualizo seu olhar cético, o que me deixa levemente constrangida por estar tão agoniada.

Pigarreio, voltando a posição anterior com um pedido de desculpas preso nos lábios. Não há como voltar atrás agora, e na verdade, eu esperei demais por esse momento para desejar isso.

- Eu não acreditei, na época. Ela contou sobre sua mãe e como você estava ajudando-a a aguentar todos os problemas. Contou sobre como surgiu esse rumor absurdo de gravidez e como foi estúpida por deixar que seu melhor amigo, o Hoseok, fosse embora com aquela falsa verdade presa em sua mente. - Contraio os lábios em uma linha fina e tensa. - Nesse ponto eu tenho que concordar, foi uma péssima ideia. Por que não confiou nele? Ele era seu melhor amigo.

- Não era uma questão de confiar ou não. Eu queria contar, mas não era um segredo apenas meu - consigo sentir arrependimento em sua voz. - Precisava conversar com a Yura antes, com calma, e foi isso que fiz. Não queria falhar com ela, assim como falhei inúmeras vezes com minha mãe. Mas toda merda já estava tomando maiores proporções e eu hesitei em te contar na melhor oportunidade que tive. Fui um idiota, e eu sinto muito pelo que você teve que passar, pelo que eu te fiz ouvir naquele dia...

Meus ombros caem com as suas palavras, a verdade tão infeliz que eu queria nos consolar. Ambos afetados pelas armadilhas dos nossos próprios medos e atitudes imaturas. Nunca pensei que a falta de comunicação levaria para o ralo a nossa amizade e relação anos atrás. Realmente conseguimos disfarçar bem as incertezas, tanto que elas criaram raízes ao redor dos nossos pescoços e nos fizeram engasgar com as palavras não ditas.

Vendo que ele não tem mais nada a acrescentar por hora, torno a falar.

- Naquele dia, não soube como reagir na hora. Eu estava com tanta raiva que apenas gritei por cima das suas palavras. Fiz com que ela desistisse e fosse embora sem me convencer de qualquer frase que tenha saído da sua boca. Não fazia sentido, na minha cabeça, ter que lutar por você depois de tantas vezes em que insisti por uma explicação, já estava enraizado em minha mente a ideia de que você era o vilão no fim das contas - contraio os lábios, a verdade me inundava em cada frase dita. - Eu precisava que você fosse o vilão para que eu pudesse me conformar com o meu futuro a partir dali. Você havia se tornado a única coisa que me faria olhar para trás sem pensar duas vezes.