Capítulo 1

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Estela

Estava entrando em Paraisópolis, já estava morta de tanto andar. Já são 18:00, e como hoje é sexta o movimento está intenso.
Micaela subia comigo, resolvemos passar no bar da tia Neide, que ficava em frente a praça, pra ver se encontrávamos meu pai.

Micaela: Amiga, vai ter baile hoje, a gente vai né ? - Falou assim que entramos no bar e olhei pra ela sem muito ânimo - A vai Estrelinha da minha vida, vamos por mim!!!

Meu pai e ela me chamam de estrelinha, no começo eu não gostava muito, mas agora me acostumei.

Rei: Ir pra onde mocinhas? - Meu pai se aproximou da gente me dando um susto, coloquei a mão no peito tentando controlar as batidas do meu coração. 

Estela: Pai!!! Você quer me matar né, como que tu chega assim por trás do nada, já pensou se eu virasse um soco? 

Meu pai riu, mas ele sabia que era verdade, ele me ensinou desde pequena a me defender, como ele diz, filha de bandido não pode dar mole. E depois que eu comecei a estudar na pista então, ele me leva para treinar no mínimo uma vez na semana, no alto do morro. 

Rei: Ihh Estrelinha tá devendo é? - Ele riu assim como eu e a Micaela, ele me envolveu em um abraço e beijou minha testa e a dela também. - Mas eai, onde as duas bonitas querem ir? 

Micaela: Tio eu quero ir no baile, mas a chata da Estela quer ficar em casa de novo, nem parece que tem 18 anos essa criatura. 

Estela: Não é assim Mi, eu tenho trabalho da faculdade…

Rei: Que mané trabalho de faculdade, vai sair sim, daqui a pouco tu tá criando mofo dentro de casa - olhei pra ele com tédio - E nem adianta me olhar com essa cara, isso aí pra mim é fome, mas se liga, eu te apoio em tudo, por mim tu vai ganhar o mundo, mas precisa se divertir também meu bebê. 

Estela: Ta tá, eu vou mas só porque vocês estão me obrigando, e pai não me chama de bebê, mó brega isso aí. 

Rei: Ta bom meu bebê prometo que não chamo mais.- Ele provocou e a Micaela riu, eu tentei não rir mas, ele fez careta e eu não me contive.

Micaela: Então vamos né minha filha que eu quero comer antes de ir ainda - Saiu me puxando. - Thau tio!

Estela: Thau pai, te amo!

Rei: Thau meus bebês, até mais tarde!- Ele gritou e riu quando e geral olhou pra gente, eu senti minhas bochechas queimarem de vergonha a Micaela sem vergonha nenhuma cara, deu risada e começamos a sair do bar. 

Quando eu tinha 10 anos minha mãe morreu com uma bala perdida, desde então era eu e meu pai, meu pai e eu. Ele por mim e eu por ele, meu pai fez o máximo que pode na minha criação, nunca me faltou amor e carinho, mesmo sentindo falta da minha mãezinha, ele sempre me educou, me pôs em escolas caras e agora banca minha faculdade de ciências contábeis. 

A vida de bandido nunca impediu meu pai de me dar carinho, apesar de na rua ele ter fama de ser uma das piores pessoas que existem.

A micaela entrou na minha vida quando eu tinha 12 anos, e até hoje a gente não se separa. Quando ela perdeu o pai, com 16 anos, que era a única família que tinha, porque a mãe tinha abandonado a menina com 3 anos, meu pai que também já tinha carinho por ela resolveu meio que adotar ela, e hoje ela mora comigo e nós duas somos como irmãs. 

Micaela: Anda estela, tira o pé da minha janta. 

Entre eu e ela, vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora