Capítulo 33

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Tenebrosa

Entrei na sala do Gringo, nem bati na porta, sabia que se ele soubesse que era eu ali, ele não me deixaria entrar. Quando ele me viu continuou fumando como se eu nem estivesse ali.

Tenebrosa: Gringo nós precisamos conversar! - Ele deu um sorriso irônico e soltou a fumaça do baseado no ar.

Gringo: Ao que devo a honra de você querer uma conversa comigo Estela?, ou devo dizer, Tenebrosa?- seu tom de voz era tão frio quanto um iceberg, esse era o Gringo que todos temiam e eu não conhecia, pelo menos não até aquele momento.

Tenebrosa: Gringo, eu não quis te enganar, e na verdade eu  não enganei… - Ele gargalhou amargamente me interrompendo. 

Gringo: Claro que não, você vai o que? dizer que omitir não é o mesmo o que mentir? Que seis não é o mesmo que meia dúzia? Me poupe Tenebrosa, você mentiu, me enganou, se fez de quem não era, e eu fui um idiota e cai no seu conto de boa moça! - Os olhos de Gringo estavam escuros, sem emoção e sentimento algum, sua voz transbordava indiferença. 

Tenebrosa: Gringo, eu não quis mentir para você, mas precisei, me ouça pelo menos antes de ficar nessa indiferença toda. - Ele fez um sinal com a mão para eu continuar. - Antes de você sequer saber da minha existência eu já era afim de você, mas você nunca prestava atenção em mim, até porquê eu era uma menininha ainda, quando você começou a namorar a Amália eu conheci o Rato, comecei a namorar com ele na inocência, mas ele começou a querer ser meu dono, até que um dia, num bloco de carnaval, ele não gostou da minha roupa e tentou me espancar e me estrupar - Aquilo me fazia reviver todo o meu passado, e me cortava por dentro, e o Gringo olhava para lugar nenhum, perdido em seus próprios pensamentos - Naquele dia, uma sentimento escuro tomou conta de mim, algo que lutava para aparecer desde quando era criança e ficava nervosa com alguna coisa, então eu matei ele e dei a cabeça de presente para minha queriada ex sogra. Você lembra muito bem disso, tentou me descobrir por meses.  E foi quando eu decidi que de fato queria ser assassina, o meu pai me apoiou, com a condição de fazer uma faculdade antes, para acaso algum dia eu queira recomeçar longe disso.  

Me aproximei de Gringo vendo que ele aparentava estar com menos ódio de mim, peguei o baseado da boca dele e traguei, me sentando na mesa, ele me repreendeu com o olhar, mas eu simplesmente ignorei.

Tenebrosa: Quando eu comecei a faculdade, pouco depois você decidiu virar minha vida. Você é conhecido por pegar e largar, apenas um pente e rala, e depois que você me beijou no baile eu acreditei que fosse uma única  vez e que você iria me esquecer… Bem não foi isso que aconteceu, como eu disse sempre fui afim de você, e quando você decidiu me querer eu me senti desmoronar...- Gringo lançou um sorriso de pura ironia.

Gringo: Você quer colocar a culpa em mim? Você jura? Você mente, me engana, faz seu pai mentir pra mim, e a culpa dessa mentira é minha? A  culpa é s-u-a! - Ele diz ao mesmo tempo que examina a minha alma, e a culpa não era dele,  realmente era minha. 

Tenebrosa: A culpa pode minha sim, mas me diz você, se eu tivesse te contado você me deixaria ir? Tudo bem que você não manda em mim, mas você me deixaria ir Gringo? - E foi a minha vez de olhar dentro da alma dele através dos seus olhos. 

Gringo: O que eu tenho a ver com isso? Eu não tinha que deixar nada, como você mesma disse: eu não mando em você! - Disse dando os ombros.

Tenebrosa: Seja sincero consigo mesmo Gringo, você não ia tentar me impedir? Me proibir de ir? Aceitaria numa boa? - Ele ficou quieto, e como quem cala não dá resposta, eu continuei - E mesmo que não tentasse Gringo, se você simplesmente me pedisse para ficar, EU não suportaria partir, porque nos últimos meses só Deus sabe as noites que eu chorei pensando em você, parecia que um pedaço de mim faltava. - vi ele baixar os olhos para as mãos. 

Gringo: Faltava um pedaço de mim também.- disse num sussurro quase imperceptível, mas eu juro que eu ouvi - Sai Estela, eu preciso ficar sozinho! Ou você tem mais alguma coisa pra dizer? Mais alguma coisa para me culpar? - me fuzilou com os olhos. 

Tenebrosa: Me desculpe, eu coloquei o que eu queria acima de tudo, e acabei mentindo e machucando você - ele continuou calado e eu senti meus olhos marejarem. - Hm… É só isso - Desci da mesa, tentei dar um beijinho nele, mas ele me afastou com as mãos e eu não disse nada, apenas me retirei.

A conversa com o Gringo tinha acabado comigo, o medo de ele nunca me perdoar me consumia, tudo aquilo me dilacerou por dentro, mas principalmente o fato de ele ter sido indiferente comigo, mas eu podia exigir algo? Não.  No entanto, demonstrar tristeza não era uma opção, limpei uma lágrima que teimou e escorreu dos meus olhos, e me obriguei a engolir todos os cacos do meu coração, afinal eu tinha uma estratégia de guerra para planejar. 

Eu sei que posso ser o próprio capeta com todos os seus demônios, mas  quando se trata da Minha família e do Gringo, eu me sinto apenas uma menina indefesa.

Entre eu e ela, vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora