XVII

454 36 3
                                    

Perto do lago, Harry podia ver a torre do castelo onde seu amado se encontrava. Balançou a cabeça, procurando tirar da memória o que terminara de acontecer. Sua parte humana negava ser Louis o par ideal, mas o lobo gritava por ele. Ansiava vê-lo através dos olhos de lobo e não apenas sob a ótica humana.

Queria cheirá-lo, esfregar nele seus pelos e marcá-lo com seu cheiro. Nunca sua força de vontade fora mais desafiada do que naquela noite. Deixar Louis do lado de fora do quarto consumira toda a sua força. Se tivesse entrado, teriam feito amor noite adentro. A necessidade de se transformar teria sido suplantada pelos prazeres do amor.

Contudo, não se permitira a concessão e saíra com a matilha para caçar. Aquele ritual noturno era tão antigo quanto os votos maritais e outros laços humanos.
Ao final, os outros haviam se dispersado. Algumas fêmeas haviam tentado atraí-lo, mas ele permaneceu impassível.

Agora estava ali, no alto da montanha, sozinho.

Pensou em Liam. Ele deveria ter saído para caçar, mas com o intuito de levar comida para que o esposo cozinhasse. Não se incomodava de voltar mais cedo ao castelo, pois sabia que havia alguém que o receberia de braços abertos.

Que droga, por que esperara tanto para se acasalar?
Harry sabia que se estivesse casado, não se debateria entre o que desejava e o que era melhor para a matilha.

A imagem do corpo alvo e perfeito de Louis invadiu seus pensamentos. Ele seria um parceiro perfeito se fosse um lobisomem. Era corajoso, compassivo e extremamente leal. No entanto, não poderia arriscar o bem-estar da matilha com um casamento interracial.

Instintivamente ergueu a cabeça para a lua e uivou. Desolado, entendeu que teria de deixá-lo partir. Entretanto não se furtaria de observá-lo pelo menos uma vez, enquanto estivesse na forma de lobo.

Passadas algumas horas, ele voltou ao castelo, mudando de forma antes de chegar à ponte levadiça. Ao chegar no alto da escadaria, empurrou a porta de supetão.
Louis estava deitado de lado, virado para a porta. Certificando-se que ele dormia, Harry se transformou e fitou-o através da visão aguçada de lobo.

Sob as pálpebras fechadas, os longos cílios de Louis acariciavam a face rosada. O perfume dele era mais suave do que o de uma mulher-lobo, menos pungente, mas igualmente atrativo para os sentidos animais. Não se recordava de ter sentido uma fragrância tão agradável.

Um outro aroma, porém, o levou a aproximar-se mais da cama. Louis adormecera sob os efeitos eróticos da experiência que tivera, mas não havia sido plena para nenhum dos dois, embora ele não soubesse como poderia terminar. Mesmo depois do que haviam tido, Louis continuava inocente.

A fera rosnou pela necessidade de marcá-lo como sendo seu. Não pôde resistir à necessidade de beijá-lo com uma delicada lambida. Louis franziu o nariz e ele arreganhou os dentes num sorriso que logo se desfez. Sabia que as coisas seriam resolvidas com os Malik, e ele voltaria para a outra propriedade.

Se fosse possível, não o deixaria partir. Contudo, cada dia que passavam juntos, arriscava seus deveres. Se ele ficasse, seria inevitável que o possuísse, o que não seria justo para sua matilha. A necessidade de juntar os corpos em total unicidade e de plantar nele as sementes, mesmo que não crescessem, aumentava a cada momento.

Naquele instante, desejava arrancar a manta de cima daquele corpo frágil com os dentes. Ansiava cobrir o corpo de Louis com seu manto de pelos e aquecê-lo, cheirá-lo, e quando ele acordasse, mudaria de forma e o possuiria.

Depois confiaria todos os segredos a ele, e ensinaria os costumes dos chrechte. O desejo era tão forte que o fazia tremer nas quatro patas, esforçando-se ao máximo para não seguir seus impulsos.

Desejo Selvagem Onde histórias criam vida. Descubra agora