chapter 32

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Toni rabiscava algo no caderno aberto sobre sua mesa, enquanto ouvia a voz da Madre Helena explicando algo sobre a história da monarquia da Inglaterra e em como a igreja católica sempre esteve presente na vida da realeza.

Estava finalizando o desenho quando o caderno fora retirado de sua mesa bruscamente.

— De novo?! — A voz de Veronica ecoou como um sussurro. — Você sabe que não é boa com desenhos, e esse aí deixou a água de salsicha mais feia do que ela realmente é.

— Pare de falar isso! — Ralhou, mantendo a voz baixa e retirando o caderno das mãos da amiga. — Cherry não é feia e eu gosto de desenhá-la. Somos amigas. — Deu de ombros.

— Betty, Archie e eu somos seus amigos muito antes da anã chegar e você nunca nos desenhou. — Retorquiu. — Admita que gosta da Cheryl. — Sorriu convencida.

— Eu não gosto da Cherry. — Bufou irritadiça. — Não do jeito que você gosta da Betty.

A verdade é que Veronica havia adquirido um sentimento a mais por Betty. Ela não saberia explicar como ou quando começou. Talvez quando o garoto do piolho, Jughead, passou a entregar-lhe bilhetes durante as aulas ou quando viu a loirinha beijando a bochecha do mesmo enquanto conversavam. A sensação de ciúmes fora a pior que já sentira, juntamente com o estômago revirando. Como se não bastasse isso, a latina não conseguia abraçar Betty sem sentir seu coração bater descompassado ou até mesmo observar-lhe sorrir docemente e sentir-se na obrigação de sorrir também. Tudo havia aflorado e Veronica não sabia o que fazer.

Então de repente a latina passou a observar como Toni também havia ganhado sentimentos extras para com Cheryl há algum tempo e desde então não parava de tentar convencer a amiga de que seus sentimentos pela ruiva não eram apenas de amizade.

— Eu tenho um terceiro olho, Toni. Sou latina e isso faz de mim quase feiticeira então não me engane. — Sorriu marota. — Eu sei como você fica quando a água de salsicha te abraça ou quando beija sua bochecha. Sei também como você se sentia quando o panaca do Nicholas se aproximava dela, e agradeço todos os dias por ele não estar mais aqui. — Concluiu.

Toni apenas encarou o caderno perdida após as palavras da amiga. Ainda se sentia mal pelas frases que havia ouvido de Nicholas quando o garoto descobriu sobre sua intersexualidade. Todas ainda a atormentavam durante o sono.

"É por isso que seus pais não quiseram você! Porque é uma anormal."

"Aberração! É isso o que você é!"

"A Cheryl não merece uma esquisita como amiga."

Fechou os olhos com força, lembrando de como passou dias isolada em um estado de tristeza profunda que se resumia em chorar e se sentir machucada, e lembrou-se principalmente que Cheryl apenas saiu do seu lado quando tinha de fazer seus deveres obrigatórios, sempre dormindo consigo na mesma cama enquanto lhe contava histórias.

Veronica e Archie encarregaram-se da vingança, levando Nicholas à força até o jardim e o prendendo na árvore, deixando por conta das outras crianças darem-lhe o castigo merecido por todas as vezes que o garoto destruiu seus brinquedos ou xingou-lhes de nomes feios.

Nicholas saiu machucado e foi transferido para outro orfanato para não causar mais problemas. As crianças do Strawberry Field não eram ingênuas. Não passavam de almas tentando encontrar uma família disposta a darem-lhe amor e um lar, e além de conviver com o trauma da falta dos pais, ter que lidar com um garoto que deixava seus dias piores não ajudava em nada.

E assim como a amiga, Toni via-se sempre suspirando quando observava Cheryl de longe, lendo com a expressão concentrada ou brincando e soltando gargalhadas que faziam o coração de Toni bombear com mais intensidade dentro do peito. Os abraços eram a melhor hora do seu dia. O corpo pequeno encaixado no seu fazia uma onda de sentimentos explodirem em cada lugar dentro de si.

world on fire - choni & beronicaOnde histórias criam vida. Descubra agora