chapter 15

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A morena fitava a escuridão do local com a expressão opaca. Sentia a leveza pós banho em seu corpo. O cheiro natural do sabonete e as roupas macias de algodão.

Ouvia o barulho abafadamente da água que caía do chuveiro onde Cheryl fazia sua rotina noturna. A ruiva era extremamente obcecada com questões de higiene e mesmo tendo as condições desfavorecidas em Londres, presava piamente o quesito de limpeza corporal.

Os olhos castanhos fecharam-se, e sua mente parecia estar em outra galáxia.

As palavras de Penelope ainda ecoavam em sua cabeça.

''Ela disse que nunca andaria com uma anormal em público.''

Anormal...

A palavra que Toni ouviu desde que nasceu, crescendo em um lugar onde para quase todos ali era um erro de Deus e que nunca deveria ter vindo ao mundo. Pessoas hipócritas e sem coração, todavia para uma criança ouvir isso era doloroso e agonizante.

Ainda era...

Ainda doía...

Sempre iria causar uma dor dilacerante dentro de si.

Toni abriu os olhos escuros sem brilho e apertou mais forte as pernas contra o corpo, rodeando-as com os braços alvos e enterrando a cabeça neles, sentindo as orbes arderem pelas lágrimas acumuladas.

No banheiro, Cheryl acabava de vestir a camisa da namorada que cobria-lhe até as coxas e olhou-se no espelho.

— Achei que Hiram e Clifford nunca fossem sair daqui depois que avisamos que minha mãe moraria conosco. — A ruiva não esperou uma resposta da namorada e continuou. — Eles quase tiveram uma síncope e agradeço à Prudence por tê-los convencido de que conversaríamos outro dia sobre isso. Eu gostaria muito de chamá-los de pais, sabe? Mas eu ainda não sinto o que senti quando olhei nos olhos de Penelope, foi tão... — Cheryl saiu do local soltando os cabelos do coque e percebeu que a namorada não estava na cama.

A ruiva franziu o cenho confusa e observou o closet totalmente apagado.

— Toni? — Chamou, mas não obteve resposta. — Amor? — A voz saiu mais alta.

Cheryl vestiu o robe jogado na poltrona do quarto e pôs a mão na maçaneta quando ouviu um soluço baixo. Seu corpo entrou em alerta.

A maior retirou a peça de seu corpo, jogando-a no mesmo lugar e adentrou na escuridão do closet. Passou pelo corredor onde as portas corrediças estavam fechadas e entrou no espaço onde havia a penteadeira com acessórios e maquiagens, e então ela viu...

A figura encolhida na parede, balançando-se vagarosamente para frente e para trás. Os cabelos longos bagunçados e os soluços sôfregos.

O coração da ruiva apertou tão fortemente que ela sentiu uma dor em seu peito. Era como há anos atrás. Como da primeira vez que viu algum dos órfãos chamando a morena de anormal e a pequena Toni correu para esconder-se no pequeno armário velho do quarto.

A própria Cheryl sentiu os olhos marejarem com a cena e lentamente moveu a mão até o interruptor, acendendo apenas as duas luminárias no teto daquele espaço. Toni sentiu a presença da namorada e parou os movimentos contínuos, entretanto continuou chorando, mantendo a cabeça escondida em suas pernas.

Cheryl aproximou-se da morena, ficando de joelhos em sua frente e lentamente infiltrando as pequenas mãos entre seus braços e pernas, até segurar-lhe os dois lados da cabeça, levantando-a lentamente, até encarar os olhos chorosos da namorada.

Se possível a dor que sentia aumentou ainda mais, e dessa vez sentiu o coração quebrando-se dentro de si. Lágrimas escorriam de seu rosto enquanto observava os olhos castanhos quase sem vida. Então ela lembrou-se novamente de anos atrás. Quando descobriu onde Toni escondia-se e encarou os olhos opacos dela pela primeira vez.

world on fire - choni & beronicaOnde histórias criam vida. Descubra agora