🐍 Vencedor do Prêmio Wattys 2020 na categoria Fanfiction 🏆
Com antigos seguidores de Voldemort ainda à solta após a guerra, o Ministério se desdobra para prendê-los sem causar alarde. E em meio à perseguição incessante, uma bruxa tenta recompensar...
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A distância entre ambos era respeitosa, uma oferta silenciosa que poderia ser recusada a qualquer instante por Isis. Tudo o que precisava fazer era mandá-lo se retirar. A ação seguinte, contudo, resumiu-se a sentar-se em frente à penteadeira e remover os grampos dos cabelos, deixando que se derramassem em uma cascata pelas costas. O reflexo de Snape surgiu atrás dela, claramente sondando-a em busca de respostas para atitude repentina, após a breve troca de intimidade. Não fazia ideia de que maneira explicaria o medo de querê-lo, quando não confiava nos próprios desejos.
— Sabe que pode me encarar sem o intermédio de um espelho, não sabe? — Isis sorriu, encarando as próprias mãos antes de se levantar.
— Todo cuidado é pouco. Soube que lidaram com um basilisco em 92.
Ela parou em frente a Snape e levou as mãos ao seu peito. A vontade de tocá-lo era tão grande que roubava seu ar e qualquer resíduo de nexo. Não sabia nem dizer em que momento se deixara atrair pelo professor — duvidava que fosse uma questão de deixar ou não —, porém ali estava, disposta a ignorar todos os alertas que a intimavam a botá-lo para fora e nunca mais dar ouvidos à urgência inconsequente de se doar de novo.
Uma das mãos subiu pelos botões da sobrecasaca e acariciou o pescoço sobre o tecido. Quando os dedos entraram em contato com a pele raiada de cicatrizes, o professor a segurou, afastando-os. Isis suspirou, entendendo bem a vergonha camuflada através do gesto arredio. Era estúpido pensar que aquelas marcas diminuiriam seu anseio por ele. "Muito estúpido", pensou, sentindo as próprias formigarem. Então, sem dizer uma palavra, andou em direção à lareira, levando-o consigo. Ela respirou fundo, percebendo a curiosidade naqueles olhos pretos iluminados pelas chamas, e virou-se de costas.
O vestido deslizou devagar até o chão, formando uma poça de veludo verde, e os cabelos foram colocados sobre o ombro, exibindo o mapa de cicatrizes nas costas nuas da bruxa. Embora tentasse se manter parada, o corpo tremia com um acanhamento que não lhe era comum. O medo do desprezo a imobilizava, mas não podia ser esconder mais, e queria que Snape assimilasse isso. Que soubesse que ela entendia suas marcas.
O toque repentino fê-la arrepiar. Os dedos percorreram aqueles vestígios de sua dor com leveza, como se manejasse algo delicado e temesse quebrá-lo para além da chance de conserto. Isis não ousou se mover, consentindo em seu silêncio que ele explorasse cada centímetro daquelas lembranças palpáveis, certa de que Snape nunca as usaria tal qual um troféu a ser exibido, em troca de tapinhas nos ombros e congratulações de "bom trabalho".
As mãos correram para os seus ombros, segurando-os com delicadeza ao deslocá-la para junto dele, abraçando-a pela cintura e beijando-a na curva do pescoço. O aperto era gentil, enviando uma energia que se elevava sobre o passional e atingia um nível enternecedor de pura compreensão; uma ligação alinhavada por entre as rachaduras abertas nas almas de ambos, criando a fonte tão ansiada de consolo e compaixão que necessitavam.