Capítulo 16

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Ravi

_ O que você está fazendo aqui? _ arqueei a sobrancelha.

_ Eu queria conversar com você, pode ser?

_ Claro! Aceita um café? Estou trabalhando, não posso te oferecer uma cerveja... Se não... _ dei um sorriso cínico.

Ela sorriu ironicamente.

_ Eu aceito um café.

***

_ Eu acho o café daqui muito bom... Ele é bem forte sabe? Me mantém acordado.

Sophia revirou os olhos.

_ Mas então, me fala, a que devo a honra da sua ilustríssima visita?

_ Eu quero saber o que aconteceu na noite passada.

_ Eu te ajudei com a mudança, depois te ajudei a colocar as coisas no lugar.

_ E depois?

_ Comemos uma pizza e tomamos umas cervejas.

_ E?

_ Está querendo saber se fizemos sexo?

_ Fala baixo, Ravi! _ ela olhou ao redor e enrubesceu.

Aproximei meu rosto dela, mesmo tendo uma mesa entre nós.

_ Não fizemos sexo, embora você quisesse muito.

_ O que? _ ela estava quase da cor dos seus cabelos.

_ Não minto.

Sua boca abriu e rapidamente ela tapou com uma das mãos.

Eu me divertia.

_ Eu bem que queria, mas eu queria que você vivesse todos os detalhes e então...

_ Ravi... _ sussurrou totalmente envergonhada.

_ Não aconteceu nada entre nós. Você bebeu um pouco mais, eu te coloquei na cama e acabei dormindo sem querer do seu lado.

Ela respirou aliviada.

_ Não aconteceria nada entre nós, Ravi!

_ Você não lembra mesmo do que aconteceu?

_ Eu não posso beber. Sou fraca para essas coisas.

_ Vou anotar no meu caderninho.

_ Não precisa, não teremos outros momentos como esse.

_ Ah que bom! Assim não preciso ficar me preocupando se vou ter que cuidar ou não de você no dia seguinte.

_ Você é bem ridículo.

_ Não posso me intrometer nas suas opiniões.

_ Você é insuportável!

_ Vindo de você é um elogio.

Ela se levantou.

_ Foi um erro ter vindo aqui.

_ Nisso a gente concorda.

Ela virou as costas e saiu.

Eu fiquei sorrindo sozinho até levar um susto com Maurício do meu lado.

_ Que porra, Maurício! Mania de aparecer do nada! _ levantei.

_ Eu a conheço.

_ Conhece.

_ Vocês estavam discutindo? Ela saiu daqui bem irada né.

_ Discutir é o que fazemos de melhor.

_ Mas por quê?

_ Porque pergunto eu! Por quê está tão interessado na minha vida, Maurício?

_ Você tem consulta agora com a Doutora Rose, vim te buscar.

_ Me buscar? Tá de sacanagem!

_ Tô não. O consultório dela é no...

_ Eu sei onde é. _ o interrompi, seguindo o meu rumo.

***

_ Então doutor Ravi, me fala um pouco sobre você?

Doutora Rose era uma senhora com seus quase 70 anos. Eu podia arriscar que ela era a funcionária mais antiga daquele hospital, depois do doutor Ramon, com certeza.

Os cabelos curtos, totalmente brancos e um óculos enorme no rosto.

Sempre foi muito reservada, porém gentil. Estava sempre com um sorriso no rosto, mas não era de muitos amigos. Ela entrava e saía no seu horário e era muito discreta.

Seu consultório era parecido com ela, discreto e com móveis antigos, mas de muito bom gosto.

Eu não tinha intimidade nenhuma com ela, na verdade, acho que nem a família dela tinha.

Ela era muito esquisita.

_ Doutor Ravi? Está me ouvindo?

Seu sorriso não parecia honesto.

_ Me desculpa, o que foi que a senhora disse?

_ Perguntei sobre o que quer falar.

_ Não sei...Estou sem assunto hoje.

_ Não se trata de ter assunto ou não. Você está aqui por alguma razão e eu só quero te ajudar. Nada do que você falar aqui, vai sair daqui.

_ Isso é bom.

_ E então? Vamos falar sobre sua infância?

_ Ah... Foi tranquila.

_ E sua mãe?

_ Pula.

_ Seu pai?

_ Pula.

_ Tem irmãos?

_ Podemos mudar de assunto?

_ Eu só vou conseguir intermediar a sua melhora, se você falar, doutor.

_ Entendi.

_ Existe algum assunto que queira falar?

_ Não.

_ Tudo bem, se não quer falar, não precisa. Podemos passar uma hora sem falar nada. Uma hora, você vai cansar.

Me deitei no divã e cruzei as pernas.

_ Posso dormir?

_ Não.

_ Merda! _ sussurrei.

_ A escolha é sua. 

***

A luz da sala acendeu e eu me assustei.

O relógio marcava exatamente três horas da manhã.

_ Ravi?

Semicerrei os olhos e tentei me levantar, mas não consegui mexer nenhum músculo do meu corpo.

_ Ravi?

Ela parecia nervosa e eu continuava sem poder me mexer.

Tentei falar seu nome, mas minha voz não saiu. Um sentimento de pânico tomou conta de mim.

_ Ravi?

Sua voz já estava em desespero e por mais que eu me esforçasse, eu não tinha controle do meu corpo.

_ Não! Por favor! Não!

O silêncio doeu nos meus ouvidos.

A luz do meu quarto acendeu, me cegando momentaneamente e quando eu consegui enxergar, Catarina estava materializada em pé na minha frente, de calcinha e sutiã, o corpo sujo de sangue e o rosto cheio de cicatriz.

Se aproximou de mim com a faca na mão e sorriu.

_ A culpa é toda sua! _ sussurrou, encravando a faca no meu peito.

Acordei gritando, mais uma vez assustado. 

Dr. RaviOnde histórias criam vida. Descubra agora