Capítulo 17

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_ Eu preciso falar!

Sete horas da manhã, invadi o consultório da doutora Rose assim que ela entrou.

Ela me olhou assustada e ajeitou os óculos no rosto.

_ Eu tenho uma consulta marcada para daqui a alguns minutos e hoje não é seu dia.

_ Estou tendo pesadelos e estou enlouquecendo com eles. Preciso fazer isso parar!

Ela continuou me olhando curiosa.

_ Sente-se um pouco doutor Ravi.

Fiz o que ela pediu e então, ela se sentou em sua mesa e pegou o telefone.

_ Amanda, avisa aos pacientes dessa manhã que vou atrasar. Obrigada.

Colocou o telefone no gancho e olhou para mim com ternura.

_ Eu quero te ajudar, mas será que você está pronto pra isso?

_ Eu não sei doutora Rose, mas eu preciso muito tentar. Esses pesadelos estão me deixando louco.

_ Tudo bem, entendi. Fique à vontade. Deite no divã, tire os sapatos, fique confortável. Só não pode dormir.

_ Nem se eu quisesse eu conseguiria. _ me ajeitei no divã.

_ Ok. Então pode começar. Com o que tem sonhado?

_ Minha namorada... Quer dizer, minha ex.

_ Sei. _ anotou em seu caderno _ E como são esses sonhos?

_ São sempre pesadelos. Começam com outras pessoas do meu convívio e depois ela sempre aparece.

_ Você quer me contar como eles são?

_ Não. Prefiro não falar.

_ Tudo bem. Você acha que consegue falar sobre ela? Por que esse relacionamento acabou?

_ Não.

_ Então, o que acha de me contar o início? Acha que consegue?

_ Acho que sim.

_ Estou disposta a ouvir a sua história doutor.

Dez anos antes...

_ Ravi, seu café está pronto! _ minha mãe gritou lá de baixo.

Eu estava arrumando as minhas roupas para colocar na mochila. Era o primeiro feriado que eu teria livre e o melhor, sem ter que me preocupar com livros ou provas. Maurício e eu íamos passar o carnaval em Salvador.

Se eu estava animado? Pra caralho!

Qual rapaz de 22 anos não ia querer pura pegação em Salvador, em pleno carnaval ao som de Moraes Moreira depois de passar quatro anos estudando como louco e ficando em primeiro lugar da turma de medicina? Eu merecia!

Desci as escadas correndo e agarrei minha mãe pela cintura, tirando ela do chão.

_ Para com isso Ravi! _ me bateu com o pano de prato.

_ Só você sabe preparar o melhor café da manhã dessa galáxia! _ dei um beijo no pescoço dela e me sentei a mesa.

_ Vou sentir saudades de você _ falou colocando o café na minha xícara.

_ Mãe, é só uma semana! Prometo trazer várias fitinhas do Senhor do Bonfim pra você.

_ Eu duvido que vá lembrar disso quando estiver lá. _ Daniel chegou à cozinha, se intrometendo na nossa conversa, como só ele fazia.

_ Talvez não lembre mesmo. Tem certeza de que não vai Daniel? Última chance!

_ Valeu Ravi, mas vou ficar com a Nathália.

Dr. RaviOnde histórias criam vida. Descubra agora